A rede McDonald’s anunciou na quarta-feira (18) sua primeira compra de carne da Amazônia. Até então, a empresa não adquiria carnes provenientes da região por seguir uma política de não apoiar qualquer produto que estivesse ligado ao desmatamento de florestas. A mudança aconteceu, e agora a rede, em vez de se afastar do problema ambiental, pretende combatê-lo inserindo-o em sua cadeia de produção.
A maneira encontrada para fazer isso foi através da detecção de pecuaristas do bioma que criavam seus animais de forma sustentável. Durante pouco mais de um ano, esses criadores foram acompanhados pela empresa e, neste mês, foi feito o primeiro acordo de compra de 250 toneladas de carne por ano.
A quantia ainda é pequena perto das 30 mil toneladas que o McDonald’s compra anualmente no Brasil, mas, segundo Leonardo Lima, diretor de sustentabilidade da Arcos Dourados, empresa administradora do grupo na América Latina, a intenção é aumentar o volume da compra ao longo dos anos. “Com esse importante primeiro passo, o Brasil passa a ser o país mais avançado nas metas de sustentabilidade do McDonald’s no mundo”, afirma.
Desde 2013, o McDonald’s tem se esforçado para construir uma cadeia produtiva mais sustentável, o que ficou marcado pela criação de um grupo interno para discutir o tema, constituído por representantes dos 120 países em que a marca está presente. A iniciativa resultou em vários projetos ao redor do mundo, que envolveram tanto a troca do óleo de palma por outras opções de óleo, como também a substituição, nos Estados Unidos e no Canadá, dos fornecedores de ovos para apenas granjas sem gaiolas. “Mas era preciso um projeto voltado para carne, que é o nosso principal produto vendido”, diz Lima.
Dessa maneira, em 2014, a empresa anunciou que até 2016 começaria a comprar carne sustentável no mercado, conceito até então pouco explicado no setor. “Na nossa própria divulgação, nós dizíamos que esse era nosso interesse, mas que não sabíamos o que seria, de fato, a ‘carne sustentável’”, afirma Lima.
A resposta já estava sendo desenvolvida pela ONG Instituto Centro de Vida (ICV). Entre 2012 e 2014, o ICV estudava a criação de um conjunto de práticas capaz de aumentar a produtividade da pecuária em áreas cada vez menores. “Na época, vimos que essa era uma tendência, pois a substituição da pecuária pela soja avança cada vez mais, então o pecuarista precisaria aprender a aumentar sua produção em um terreno ainda menor”, explica Francisco Beduschi, coordenador do ICV.
Os estudos foram realizados em Alta Floresta (MT), e dos resultados nasceu o programa Novo Campo, que hoje contra com 23 produtores cadastrados. Segundo Beduschi, antes do programa, a média da arroba por hectare ao ano dos produtores da região era de três arrobas. Hoje, esse número subiu e está em torno de 25. Para conseguir esse avanços, os produtores tiveram que modernizar toda a estrutura de suas fazendas, ao mesmo tempo em que recuperavam a pastagem e a reserva legal de suas propriedades.
Os recursos para essas reformas foram obtidos através da Pecuária Sustentável da Amazônia (Pecsa), empresa criada por técnicos do IGV que notaram a necessidade de apoio técnico e recursos para as mudanças. Segundo Laurent Micol, diretor de governança e investimentos da Pecsa, a empresa atua como parceira do pecuarista. “Nós fornecemos o dinheiro para todas as reformas e o pecuarista entra no negócio com suas cabeças de gado.”
Ao longo da parceria entre a Pesca e o pecuarista é feito um trabalho conjunto para que sejam aplicadas todas as 43 diretrizes do programa Novo Campo, criadas pelo Grupo de Trabalho de Pecuária Sustentável (GTPS). O lucro obtido com as melhorias é divido entre a Pecsa e o pecuarista até que a dívida seja quitada. “O produtor tem entre seis e sete anos para acertas as contas com a empresa e depois poderá continuar a produção sustentável sozinho” diz Laurent.
É importante ressaltar que não apenas o pecuarista precisa garantir que sua propriedade tem uma atividade sustentável, mas seus fornecedores de bezerros também terão que seguir uma série de normas. “Afinal, não adianta nada uma fazenda ser sustentável, mas comprar bezerros de um produtor que desmata”, diz Beduschi.
Dos 23 produtores do programa Novo Campo, apenas dois irão fornecer carne ao McDonald’s no início. De acordo com Cristianne Close, gerente de sustentabilidade da Arcos Dourados, o número de fornecedores ainda é baixo, pois são os que estavam com animais preparados para corte para a atual demanda. Além disso, Cristianne afirma que a empresa está fazendo um mapeamento dos seus fornecedores atuais para, em breve, começar a aplicar neles as diretrizes do programa Novo Campo. “A meta é chegar a 100% de carne sustentável o quanto antes”, diz. (Globo Rural)