Médico de Parauapebas se associa ao BTG em negócio agroflorestal milionário

A Systemica, subsidiária do banco de investimentos, concluiu acordo com o empresário paraense, com foco em negócios de crédito de carbono
Agrofloresta focada em cacau, em Paraupebas, no Pará, cidade de Eduardo Martins

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Uma transação milionária, cujos valores não foram divulgados devido a cláusulas de confidencialidade, tornou o jovem médico pediatra Eduardo Martins, de 35 anos, nascido em Parauapebas, no sudeste do Pará, o mais novo milionário da praça. Ele decidiu arriscar uma transição de carreira quando percebeu uma demanda crescente na Amazônia por projetos de reflorestamento. 

Com a vivência da família de agricultores, passou a trabalhar no restauro de florestas em 2019, focado na cultura do cacau. Fundou a Remata, empresa que, aos poucos, foi virando referência local no assunto, chamando a atenção de investidores da Faria Lima (Centro financeiro de São Paulo, o maior da América Latina), de olho nesse negócio em expansão.

A trajetória chamou a atenção da Systemica, braço do BTG Pactual – maior banco de investimentos da América Latina – que atua em projetos de crédito de carbono. A companhia acaba de comprar o negócio do paraense, empresa agora rebatizada de Arapuá. O valor da aquisição não foi revelado.

Martins vai seguir na operação da Arapuá. A Systemica quer se valer do relacionamento que o empreendedor construiu com as famílias proprietárias das terras que podem ser exploradas na venda de carbono — muitas delas chegaram ao Pará na mesma época do pai de Martins, um mineiro que se mandou para o norte do país nos anos 1980, de olho no dinamismo econômico da construção da rodovia Transamazônica.

“Quando se fala de projetos de restauro e de crédito de carbono, é tudo muito novo para as pessoas daqui. Muitos são contemporâneos dos meus pais, amigos que estudaram comigo. E eu também sou produtor, então traz essa confiança ter alguém daqui que conhece”, conta Martins. “Na hora de visitar e tomar café, eu vou traduzir a linguagem da Faria Lima. Se chega alguém e fala de private equity, a pessoa vai ser educada, sorrir, mas não vai entender.”

Uma das traduções que ele terá de fazer é a da sigla SAF — não a SAF do Cruzeiro, o time do seu pai —, mas sim a do chamado sistema agroflorestal, a especialidade da Arapuá, que consiste basicamente em construir ou reconstruir florestas produtivas, com uma cultura principal (como café, cacau e açaí) e outras que ajudam a desenvolver a maturidade da floresta e a gerar sombreamento para a principal, em um processo que pode durar de 10 a 15 anos. “O Eduardo tem um conhecimento territorial no estado do Pará que é fundamental para os nossos projetos”, diz o CEO e fundador da Systemica, Munir Soares.

Com a aquisição da Arapuá, a expectativa da Systemica é originar, até o fim deste ano, 1,5 mil hectares de projetos e começar a implantação de ao menos 500 hectares. É parte da meta da companhia chegar a 40 mil hectares reflorestados até 2030. Enquanto Martins cuida das operações no Pará, a Arapuá terá Monteiro como CEO, baseado em São Paulo. O executivo tem experiência no mercado de crédito de carbono, com passagem pela Empiricus Investimentos, também do grupo BTG, onde cuidou de fundos voltados para esse segmento.

“Queremos ser um ecossistema one stop shop desse setor: a gente origina a área, conversa com o produtor para saber se tem uma área degradada ou um passivo ambiental, faz o arrendamento, a implantação, o manejo e a comercialização do produto”, explica Monteiro.

No Pará, a Arapuá deve se dedicar mais às culturas do açaí e do cacau. Embora já não tenha mais a medicina como atividade principal — agora só atende parentes e amigos —, o paraense que se especializou em pediatria diz que traz da antiga profissão algumas lições, como os processos científicos baseados em erros e acertos e o cuidado no crescimento saudável. “Assim como a gente trabalha na medicina para que uma criança vire um adulto saudável, aqui a gente quer que as mudas virem plantas saudáveis,” ensina.

Por Val-André Mutran – de Brasília

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