Brasília – Levantamento da Consultoria MB Associados, compilando dados do IBGE, listou os estados que obtiveram o melhor resultado econômico durante o período da pandemia da Covid-19 (2020-2022), gerando um ranking daqueles com maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Embora o governo estadual tenha ordenado sucessivos lockdowns no território, o Pará figura na quarta melhor posição graças à performance do setor mineral no período.
A conta chegou e não é surpresa que os estados produtores de commodities minerais e agrícolas foram os melhores colocados no ranking, visto que a produção mineral e agrícola não foi obrigada a parar suas atividades durante a pandemia. Sem a interrupção e beneficiados com a alta no preço das commodities desde o início da crise sanitária, o PIB de estados com grande atividade de agronegócio e mineração foi a principal razão do bom desempenho dos melhores colocados.
É o caso de Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás, Pará e Espírito Santo, que, conforme o estudo, devem acumular expansão entre 3,9% e 4,9% no período de 2020 a 2022. O crescimento desses estados é muito superior ao estimado para o PIB nacional no mesmo período, de apenas 0,5%, segundo a consultoria. “São estados que têm uma base forte de commodities como soja, minério de ferro e celulose,” diz o economista-chefe da consultoria, Sergio Vale.
Segundo a plataforma de investimentos Investing.com, desde o início de 2020, a soja valorizou mais de 90%, atingindo nesta quinta-feira (27) a maior cotação na Bolsa de Chicago desde 2012. O minério de ferro valorizou mais de 70% no período, enquanto a invasão russa à Ucrânia e os problemas de logística global deixaram mais apertado o mercado da celulose, inflando os preços da matéria-prima. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) aponta que as exportações desses três produtos cresceram 11% em valores no comparativo entre os primeiros trimestres de 2021 e 2022.
Por outro lado, estados como Alagoas, Acre, Ceará e Bahia estão perdendo representatividade no PIB nacional e não por acaso foram alguns dos estados onde vigoraram os mais restritivos fechamentos das atividades econômicas ordenadas por seus respectivos governadores. Segundo Sergio Vale, são regiões que dependeram muito de auxílios públicos concedidos durante a pandemia. E com o fim do auxílio e o aumento da inflação, o consumo tende a ficar mais deprimido.
Outro fator é que parte desses estados tem no turismo uma de suas principais fontes de renda. No pior momento da crise, em fevereiro de 2021, os serviços de hospedagem e alimentação tiveram uma queda de 38,9% no acumulado de 12 meses, em comparação com o igual período do ano anterior, segundo o IBGE. E o transporte aéreo experimentou uma retração de 58%.
Expectativas de crescimento para 2022
A MB Associados projeta que a economia brasileira deverá crescer 0,5% neste ano. Ela será impulsionada, do lado da demanda, pelas exportações e pelo consumo focado em serviços. E, do lado da oferta, pela recuperação consolidada no segmento de serviços e pelo bom desempenho do agronegócio.
Para Sergio Vale, o grande desafio será a inflação. A guerra entre Rússia e Ucrânia acentuou uma conjuntura que já era problemática: “Havia uma pressão de demanda por causa da forte recuperação depois da pandemia e com atraso na distribuição de produtos. O conflito militar piorou a situação”.
Das 27 unidades da federação, 14 deverão registrar um crescimento superior ao nacional em 2022, com destaque para o Tocantins, que deve ter uma expansão de 1,7% no PIB, seguido de Mato Grosso do Sul e Goiás, ambos com uma projeção de alta de 1,4% no PIB. E quatro devem ter taxas negativas: Acre (-0,3%), Amazonas (-0,2%), Bahia (-0,2%) e Amapá (-0,1%).
Na Região Sul, as expectativas são de baixo crescimento neste ano. A região foi afetada pela falta de chuvas, o que complicou o desempenho do agronegócio. Os últimos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram uma queda de 41,1% na produção paranaense de soja e de 50,8% na gaúcha. No Rio Grande do Sul, a safra de arroz também deve ser afetada, com uma queda de 11,1%.
“São baques sucessivos que a região vem enfrentando. No ano passado, o problema foi com a safrinha de milho. Neste ano, a de soja e a de arroz,” afirma Vale.
O economista também lembra que a região tem uma base industrial forte, mas o ritmo do crescimento vem perdendo força. Segundo o IBGE, no período de 12 meses até fevereiro, a produção industrial gaúcha aumentou 6,5% em relação a igual período anterior (até agosto, crescia a um ritmo de 12,9% ao ano); a catarinense subiu 7,3% (contra 16,9% até agosto) e a paranaense, 7,5% (ante 12,9%).
No sudeste, São Paulo e Rio de Janeiro tendem a ter mais dificuldades. “Mesmo com o dinheiro do petróleo, os fluminenses têm uma dinâmica mais complicada por causa da violência,” explica.
Situação mais preocupante vive o nordeste. “É uma região que depende muito de programas sociais do governo e está quase fora da dinâmica das commodities,” diz Vale. As exceções são áreas da Bahia, Maranhão e Piauí próximas à divisa com o Tocantins – área conhecida como Matopibapa – onde há produção de soja e milho.
O economista lembra que o turismo também vem reagindo, apesar da alta nos preços das passagens aéreas, mas os impactos dessa melhora sobre a economia são mais concentrados nas capitais e nas regiões litorâneas.
A região que deve impulsionar o crescimento brasileiro neste ano é o Centro-Oeste, por causa da safra. Ela vive um bom momento e tem crescido em importância no PIB nacional. Dados do IBGE mostram que, em 2002, respondia por 8,8% da geração de riquezas do país. Em 2019, último dado oficial disponível, a fatia foi de 9,8%.
“Não dá para escapar do bom momento para o agronegócio,” comenta Sergio Vale. Mato Grosso e Goiás devem ser os dois maiores produtores de soja neste ano, com 45% da produção nacional e uma expansão de 7,9% na safra combinada da oleaginosa.
O norte é outra região problemática para o crescimento. O economista aponta que os efeitos do crescimento vão ser muito diluídos. De um lado, há maior demanda por minério paraense; de outro, a região sofre com a pobreza endêmica. “Há problemas para a exploração legal dos recursos da Amazônia,” diz.
Projeção para o crescimento do PIB dos estados no acumulado de 2020 a 2022
Por Val-André Mutran – de Brasília