Brasília – A Agência Espacial Americana (Nasa) não tem mais esperança de completar aquela que seria sua primeira missão robótica comercial com destino à Lua e seu primeiro retorno ao satélite natural da Terra em 50 anos. Um vazamento no propulsor do novo foguete Vulcan Centaur, lançado na segunda-feira (8) e desenvolvido pela empresa United Launch Alliance (ULA), abortou a missão.
Um módulo lunar denominado Pelegrine, carregado com instrumentos da agência para analisar a superfície da Lua “não tem chance” de fazer um pouso suave em seu hemisfério norte conforme planejado, devido a um vazamento de combustível, afirma a empresa responsável pela missão, a Astrobotic.
A previsão é que o módulo Peregrine fique sem combustível em cerca de 40 horas, disse a empresa no início da tarde desta terça-feira (9). Outro problema registrado pelas equipes da Terra está relacionado ao controle dos painéis solares, que não respondiam aos comandos.
A decolagem ocorreu conforme planejado, às 2h20 (horário local, 4h20 de Brasília), do Complexo de Lançamento Espacial 41 da Força Espacial de Cabo Canaveral, no centro da Flórida.
Além da carga para a Nasa, relacionada com seu programa Artemis de retorno à Lua, o Vulcan também partiu com amostras de DNA de ex-presidentes americanos e restos cremados de atores da série de televisão Star Trek para a empresa privada Celestis. “Estou muito feliz,” escreveu Tory Bruno, presidente e CEO da ULA após o lançamento.
O Pelegrine, módulo de pouso de 1,2 tonelada, estava planejado para pousar em solo lunar no final de fevereiro, entretanto, ”dado o vazamento do propulsor, infelizmente não há chance de um pouso suave na Lua”, disse a empresa em comunicado publicado na rede social X, antigo Twitter.
E continuou: “A equipe atualizou suas estimativas e atualmente esperamos ficar sem propelente em cerca de 40 horas a partir de agora – uma melhoria em relação à estimativa da noite passada”.
“A equipe continua trabalhando para encontrar maneiras de prolongar a vida operacional da Peregrine”, completou o comunicado.
Uma missão repleta de polêmicas
Desde o princípio, a empreitada está envolta em problemas. De acordo com o planejamento da missão, aprovado pela Nasa, o foguete Vulcan transportaria o módulo lunar Peregrine, da empresa Astrobotic, que estava programado para pousar em uma região do outro lado da Lua, conhecida em latim como Sinus Viscositatis – baía pegajosa, na tradução para o português.
A agência americana pagará US$ 108 milhões (R$ 526,8 milhões) à Astrobotic para realizar cinco experimentos lá, dentro do programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS), cujo objetivo é reduzir o custo de envio de objetos à superfície lunar.
A missão é subjacente ao Plano Artemis, de criar uma Base Permanente e povoada na Lua, que servirá como parada técnica para o envio de uma missão tripulada para Marte.
O foguete enviado na segunda-feira carrega cinzas e amostras de DNA de celebridades e figuras proeminentes, entre eles o que já foi identificado como os cabelos dos ex-presidentes americanos George Washington, Dwight Eisenhower, John F. Kennedy e Ronald Reagan, de acordo com a Celestis Memorial Spaceflights, empresa especializada em memoriais espaciais.
A eles se somam os restos mortais e amostras de DNA de Gene Roddenberry e sua esposa Majel, ambos criadores da série de ficção científica Star Trek, além de atores da série, como Nichelle Nichols, DeForest Kelley e James Doohan, e ainda Douglas Trumbull, criador de efeitos especiais em filmes como “2001: Uma Odisseia no Espaço”.
O envio de restos mortais pelas empresas comerciais de enterros espaciais Elysium Space e Celestis gerou um movimento de oposição pelo maior agrupamento de nativos americanos, a nação Navajo, que contestou a ação por considerar uma afronta a diversas culturas indígenas que tem a Lua como algo sagrado. “A sugestão de transformar a Lua em um local de descanso para restos mortais é profundamente perturbadora e inaceitável para o nosso povo e para muitas outras nações tribais,” afirmou o presidente da nação Navajo, Buu Nygren.
Em resposta, o CEO da Celestis, Charles Chafer, disse à uma emissora de televisão norte-americana que rejeita os argumentos apresentados pela comunidade e não considera a viagem espacial uma profanação ao satélite natural.
“Rejeitamos a afirmação de que a nossa missão de voo espacial memorial profana a Lua. Assim como os memoriais permanentes para os falecidos estão presentes em todo o planeta Terra e não são considerados profanação, o nosso memorial na Lua é tratado com cuidado e reverência, é um monumento permanente que não ejeta intencionalmente cápsulas de voo na Lua. É uma celebração comovente e apropriada para os nossos participantes — exatamente o oposto da profanação, é uma celebração,” afirmou o homem jocosamente chamado de primeiro coveiro intergaláctico que se tem notícia.
Com o fracasso da missão, a empresa funerária espacial espera, pelo menos, ter o material de volta, intacto.
A Nasa ainda não informou como ficará o cronograma do Programa Artemis após o fracasso dessa missão.
Fontes: Nasa, BBC, Agência EFE
Por Val-André Mutran – de Brasília