Mistério de vírus que produz sua própria energia está prestes a ser desvendado

Até a descoberta do pandoravírus, cientistas achavam que esses seres não possuíam a maquinaria essencial e necessária para considerá-los vivos
Pandoravírus. (Chantal Abergel/Jean-Michel Claverie)

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Brasília – Um dos mistérios mais intrigantes de Ciência está prestes a ser desvendado, e como outras descobertas, ela parte de uma pergunta, que nesse caso é: “Os vírus estão vivos?” Esse é um debate que costuma voltar sempre entre os pesquisadores. O consenso geral é que não — os vírus só são capazes de se reproduzir dentro de organismos hospedeiros e não possuem a maquinaria essencial e necessária para considerá-los vivos. Até a descoberta do pandoravírus.

Até o momento, o vírus não parecia ser capaz de produzir sua própria energia. Para obtê-la e completar a replicação, eles sequestram o suprimento de energia do hospedeiro e se reproduzem dentro da célula hospedeira, antes de explodir e seguir seu caminho de infecção para outra célula.

Só que um estudo pré-impresso publicado na bioRxiv, ou seja, ainda não revisado por pares, descobriu uma espécie de vírus gigante capaz de produzir energia independente. O estudo foi realizado pelos pesquisadores do Instituto Nacional Francês para o Desenvolvimento Sustentável (IRD).

Vírus produzindo sua própria energia

De algo assustador, a pesquisa marca a primeira vez algo espetacular. Um vírus mostra ter a capacidade de produção de energia. O nome dele é pandoravírus (um vírus gigante das amebas) e, no trabalho, os pesquisadores mostraram experimentalmente que ele tem potencial de membrana elétrica. Esse é um componente essencial para a sobrevivência de todas as células vivas.

A membrana elétrica permite que as células funcionem como uma bateria gerando energia, disse o professor Bernard La Scola, autor correspondente do estudo, ao IFL Science.

O vírus é considerado uma fera. Após descoberto em 2013, o pandoravírus quebrou todos os recordes de tamanho possíveis. Tem um diâmetro de partícula de vírus de 1 micrômetro e um genoma de vírus massivo de 2,5 milhões de pares de bases. A “coisa” é um gigante do mundo viral.

Por causa de seu tamanho enorme, os cientistas repensaram o que exatamente é um vírus, uma vez que ele ultrapassa os limites de vírus, sendo considerado partículas flutuantes ou organismos unicelulares.

Desde que foi descoberto, muitas definições do que é um vírus não se aplicam a esses gigantes, conforme os cientistas estudavam mais. Eles têm alguma forma no sistema imunológico que ajuda a combater vírus menores, além de genes permitindo a transcrição do DNA em mRNA (RNA mensageiro) por conta própria. O mRNA é a tecnologia utilizada, por alguns laboratórios para a fabricação da tão aguardada vacina que vai neutralizar os efeitos da Covid-19.

Outros vírus não conseguem fazer a transcrição sem um hospedeiro.

Pandoravírus

Nesses vírus gigantes também foram encontradas várias proteínas que não são normalmente localizadas em outros vírus. A partir daí os pesquisadores resolveram testar se o pandoravírus desvia da normalidade no campo do metabolismo da mesma forma.

Sarah Aherfi e seus colegas usaram uma tecnologia a qual permite ver se há diferença de energia dentro e fora da célula. Então, os pesquisadores testaram o vírus Pandora massiliensis para uma incongruência de voltagem na membrana do vírus (chamada potencial de membrana).

Por fim, descobriram uma assimetria na voltagem, particularmente com partículas virais maduras. Isso sugere um mecanismo que cria energia dentro do próprio vírus.

A investigação prosseguiu no genoma de P. massiliensis ao tentar identificar genes comumente associados à produção de energia em outros organismos. Eles acharam oito genes que são ativados durante o final do ciclo de replicação do vírus e semelhantes com genes usados por outros corpos no estágio-chave de produção da energia.

Quando isolados e inseridos em bactérias, alguns desses genes produzem as enzimas necessárias para a produção de energia. Se esses resultados forem verificados, surge a demonstração do vírus produzindo energia independente.

O estudo científico pré-impresso foi publicado no periódico bioRxiv.

Val-André Mutran – É correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília