Pânico e preocupação. São os dois sentimentos que tomam conta hoje das 120 famílias de pequenos agricultores da Área de Proteção Ambiental do Igarapé Gelado, em Parauapebas, depois do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), que vitimou centenas de pessoas. E esses sentimentos foram expostos à equipe da Vale em uma longa reunião realizada nesta sexta-feira, 1º de fevereiro, solicitada “com urgência” pela Associação Comunitária dos Produtores Rurais da APA do Gelado (Aproapa) e que contou com a presença de aproximadamente 400 moradores.
Da reunião, participaram a Defesa Civil e a Ordem dos Advogados do Brasil, subseção Parauapebas (OAB). “A comunidade está apavorada e até pedindo transferência daqui”, diz o presidente da Aproapa, Raimundo Batista de Paula, o DE Paula, para contar que, depois do que viram em Brumadinho, os moradores perderam a confiança no sistema de sirenes, usado para alertar a comunidade em caso de riscos na barragem do Projeto Salobo, de extração de cobre e uma das maiores do Pará.
Há cerca de três meses, 21 sirenes foram instaladas pela Vale na área: 18 dentro da comunidade e 3 dentro do projeto. Contudo, como esse sistema não funcionou em Brumadinho, os moradores da APA do Gelado temem que o mesmo possa acontecer na comunidade. “As sirenes podem até ficar, mas nós queremos uma garantia maior”, exige De Paula.
Para o presidente da Aproapa, se as sirenes tivessem funcionado durante a tragédia na cidade mineira, as pessoas que estavam na Pousada Nova Instância, engolida pela lama de rejeitos, teriam tido tempo de correr para uma casa a cerca de 100 metros do estabelecimento e que não foi atingida. “A Vale diz que esse sistema é confiável, mas como isso aconteceu?”, questiona De Paula. “Como todos nós vimos, a pousada foi totalmente tomada pela lama e aquela casa ficou intacta”.
Ou indenização ou sistema mais seguro
Da reunião de mais de quatro horas com a equipe da Vale, foi elaborada uma ata que será entregue à diretoria da mineradora. No documento, informa De Paula, os moradores apresentam duas propostas: ou saem da APA do Gelado sob pagamento de indenização pela Vale, ou a mineradora apresenta um sistema que, de fato, convença a comunidade de que é seguro se manter na área, criada por decreto federal em 1989 com 21.600 hectares. “Não fomos lá para a reunião para condenar ninguém, mas para cobrar segurança”, frisa o presidente da Aproapa.
Haverá uma nova reunião, em data ainda a ser marcada, para que a empresa dê uma resposta às proposições. Independentemente disso, os moradores concordaram em manter o treinamento para os casos de urgência. “Vamos trabalhar agora com a área, o ponto de fuga”, informa De Paula, para citar outra preocupação, agora em relação às pessoas com dificuldades de locomoção: “Aqui nós temos muitas pessoas especiais, cadeirantes, idosos. Vamos ver como será isso”.