O nome do bairro é Cidade Jardim, mas o jardim secou. Com um drama de falta de água que já dura cerca de dois anos, moradores do maior loteamento de Marabá resolveram radicalizar na manhã desta terça-feira (24), com um protesto marcado pelo fechamento de uma das principais vias de acesso à cidade, a Transamazônica (BR-230).
A mobilização foi feita no dia anterior pela Associação de Moradores do Bairro Cidade Jardim, e anunciado nas redes sociais. A partir das 5h de hoje, com uma barricada próxima à sede da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), os manifestantes causaram um engarrafamento de mais de cinco quilômetros na pista, que durou até as 10h.
Além de fazerem discursos em carro de som, os manifestantes seguram cartazes cobrando água em suas torneiras e recapeamento asfáltico, já que muitas das ruas do bairro estão cheias de buracos.
Segundo a presidente da Associação, Kátia Torres, muitas casas estão sem água há cerca de dois meses de forma ininterrupta, causando revolta aos moradores. “Compramos um sonho e estamos vivendo um pesadelo,” afirma ela, justificando a manifestação que considera pacífica.
Torres afirma que a prefeitura de Marabá responsabiliza a Buriti Empreendimentos, empresa que construiu o loteamento, que, por sua vez, joga a responsabilidade para a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa). Em nota divulgada hoje, a Cosanpa disse não ter responsabilidade sobre o abastecimento daquele bairro.
O bloqueio da via tem causado transtornos no tráfego local, com liberação apenas para ambulâncias, veículos militares e emergências médicas. Os manifestantes aguardam a presença de algum representante que possa apontar uma solução para a situação.
A presidente da Associação de Moradores afirma que a comunidade está há mais de dois anos enfrentando a falta de infraestrutura básica, como água e asfalto. Revoltada com o descaso das autoridades, destaca que a luta é antiga: “Já movemos uma ação no Ministério Público Estadual contra a Buriti, a prefeitura e a Cosanpa, mas até agora o problema não foi resolvido”.
O Ministério Público chegou a propor um acordo, relata Torres, no qual uma nova empresa assumiria o abastecimento de água no bairro. No entanto, a Buriti Empreendimentos já havia assumido o mesmo compromisso em outra localidade, sem cumprir com o prometido. “Como essa empresa vai garantir o abastecimento de água aqui se não conseguiu finalizar o trabalho lá?”, questiona.
A principal dificuldade do Bairro Cidade Jardim é sua localização. De acordo com Kátia Torres, o bairro foi construído em uma área onde o lençol freático é insuficiente para abastecer todas as residências, especialmente durante o período de seca. “Muitos moradores estão perfurando poços, mas até esses poços podem enfrentar dificuldades para fornecer água no futuro próximo,” comenta.
Ainda segundo ela, engenheiros já visitaram o local e, segundo a avaliação dos profissionais, a única solução viável seria trazer água do Bairro Nova Marabá, o que teria um custo estimado em mais de R$ 30 milhões. Entretanto, o município informou que não dispõe de recursos para executar essa obra. Diante dessa situação, os moradores reivindicam que o abastecimento seja feito temporariamente por meio de carros-pipa, até que uma solução definitiva seja encontrada.