Por trás de belas casas que existem no Parque dos Carajás, há tantos problemas que agora os moradores decidiram, pela primeira vez, se unir e se mobilizar para garantir direitos básicos. São problemas sérios que vão desde a buraqueira nas ruas, passando pela falta d’água até o avanço da violência sobre o bairro, o mesmo onde em julho de 2018 bandidos roubaram a caminhonete e a arma do delegado da Polícia Civil, Thiago Carneiro, quando ele saía da residência para o trabalho.
Com as obras que vêm sendo realizadas no município, como asfaltamento e instalação das lâmpadas de super LEDs, os moradores acreditavam que os serviços logo chegariam ao Parque dos Carajás. Houve pedidos à prefeitura, apelos por meio da imprensa, reclamações. E nada de o poder público fazer qualquer aceno à população do bairro.
O jeito foi recorrer ao presidente da Câmara Municipal, vereador Luiz Castilho (PROS), que em um abaixo-assinado recebeu uma pauta com oito reivindicações e decidiu ir pessoalmente ao bairro para conversar, mas principalmente ouvir os moradores. Foi no início da noite desta quinta-feira (17), na rua Kaxinawás do Parque Carajás II. “Aqui, eu represento o Poder Legislativo, o agente facilitador para encaminhar a demanda de vocês ao Executivo”, esclareceu Castilho, logo de início, sem deixar de frisar que a Câmara sempre será parceira naquilo que puder fazer.
Na pauta de reivindicações dos moradores, recuperação e asfaltamento das vias; construção de dois poços artesianos e manutenção dos dois existentes; tomada de providências contra os lotes abandonados, invadidos pelo mato e que atraem bandidos; construção de área de lazer, como praças e academias ao ar livre; construção de um posto de saúde; canalização de um córrego perto da av. Potiguar; e iluminação pública.
Houve ainda reclamação contra a creche que começou a ser construída com recursos federais e está abandonada, a falta de escolas e o aumento no valor das mensalidades dos lotes. Para cada ponto da pauta, Luiz Castilho explicou, à medida do possível, o que tem sido feito pelo governo municipal e as razões pelas quais determinadas obras não foram adiante, como a construção da creche, denunciada pelo Ministério Público. “Há dois anos, o governo está tentando retomar as obras, o governo quer assumir, mas há um imbróglio. No poder público, temos a vontade, mas não o poder de fazer tudo. Temos que seguir regras”, ponderou Castilho.
Sobre a iluminação pública, o chefe do Legislativo informou que está nos planos da prefeitura instalar as lâmpadas de super LED, em toda a cidade, até março deste ano. Com isso, Castilho acredita que o Parque dos Carajás também será contemplado. Contudo, ele observou que há ruas sem postes e que, portanto, há necessidade de colocar isso na pauta de reivindicações.
Prioridade das prioridades
Em meio a tantas reivindicações, os moradores deixaram claro que a falta d’água é o maior tormento da vida deles. “Tem quadra que nunca falta água, mas a minha tem um ano e oito meses que não tem água”, reclamou a enfermeira Júlia Alencar, fazendo voz aos demais moradores, para quem o abastecimento é prioridade número 01. “E quando vem a água ainda é de péssima qualidade”, asseguram eles.
Na maioria das ruas, o abastecimento ainda é feito por carro-pipa. “O município já está estudando um plano de expansão para resolver esse problema da água, mas até lá vocês não podem esperar e nós vamos atrás de respostas para solucionar essa situação”, garantiu Luiz Castilho.
Outra enorme preocupação é com a crescente violência no Parque dos Carajás. A moradora Sara Navegantes alertou para os casos de estupros que têm ocorrido no bairro, onde se vê muitas casas à venda. E o grande número de lotes abandonados pelos proprietários serve de refúgio e de ponto de espreita para a bandidagem em qualquer lugar da cidade.
O presidente da Câmara concordou com os moradores e antecipou que irá apresentar uma proposta para obrigar os donos dos lotes a cuidar do que é seu, mesmo que para isso seja necessário impor multas. “As pessoas só começam a dar valor para as coisas quando mexem no bolso delas. Seria bem interessante este projeto”, atestou o professor Edson Farias.
Novo encontro
Com os moradores do Parque dos Carajás, Luiz Castilho se comprometeu em buscar as respostas para cada uma das reivindicações e marcou uma nova reunião com eles para a próxima quarta-feira, dia 23. “Realmente, o nosso bairro está abandonado. O que leva a gente estar aqui é porque a gente precisa realmente ser assistido. Eu sei que você vai dar essa resposta pra gente na quarta-feira. Acredito nisso”, firmou Edson Farias, para contar que a última vez que um vereador esteve no Parque dos Carajás foi há cerca de dois anos “e nunca deu uma resposta”.
Desta vez, os moradores avisaram que não vão mais ficar de braços cruzados, não se depender do movimento Laço Pink, que só cuidava de arrecadação de alimentos e roupas para pessoas carentes e que tomou a iniciativa de fazer o abaixo-assinado para o chefe do Legislativo. “Aqui, todo mundo reclama, mas ninguém faz nada. Então, decidimos abraçar a causa e fizemos o abaixo-assinado”, contou Sara Navegantes.
A resposta de Luiz Castilho veio de imediato: “A gente só consegue alcançar os objetivos quando a gente se organiza. Esse pode ser o início de grandes conquistas para vocês”.