Brasília – Faleceu no domingo (18), no Hospital Unimed, em Chapecó, aos 80 anos de idade, o empresário Mário Lanznaster, presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos, terceiro maior conglomerado agroindustrial brasileiro do setor da carne. Um dos mais discretos e menos conhecidos presidentes do grupo de 100 maiores empresas do Brasil, Mário Lanznaster presidia a Aurora Alimentos desde 2007 e estava em seu quarto mandato. A notícia foi dada por meio de um comunicado oficial da empresa.
Considerado um dos maiores líderes do cooperativismo brasileiro das últimas décadas, Lanznaster vivia um delicado quadro de saúde desde 2018 em razão de um tumor no fígado.
Apesar da doença que o vergastava, Lanznaster trabalhou normalmente até o último dia 11, logo depois foi internado para nova assistência médico-hospitalar.
Antes de assumir a Aurora Alimentos em 2007, Mário Lanznaster presidiu a Cooperativa Agroindustrial Alfa de 1997 a 2009. Por dois anos (de 2007 a 2009) exerceu simultaneamente as presidências da Aurora e da Alfa as duas maiores cooperativas do Brasil.
Trajetória
Lanznaster era catarinense, nasceu em 30 de junho de 1940 no município de Presidente Getúlio. Casou-se com Edirce com quem teve quatro filhos: Márcia, Fabiano, Fernando e Juliana.
Lanznaster é o segundo filho mais velho de uma família de 15 irmãos de Presidente Getúlio, em Santa Catarina, que vivia da plantação de fumo. Lanznaster decidiu que esse não era o futuro que ele queria. Passou alguns anos como seminarista, foi convocado para servir no Exército, mas acabou se tornando o primeiro membro da família de origem ítalo-austríaca a cursar o ensino superior, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As habilidades de datilografia, herança dos tempos do seminário, ajudaram-no a pagar as contas durante a faculdade.
Suinocultor há 40 anos e produtor de milho, feijão, soja e trigo desde 1984, Mário Lanznaster era graduado em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Federal de Santa Catarina. Cursou MBA em Gestão Empresarial para Dirigentes de Organizações do Sistema de Agronegócio e Formação Geral Básica para Altos Executivos pela Fundação Getúlio Vargas.
Foi extensionista rural em 1968 nos municípios de Modelo e Chapecó. Em 1974, trabalhou como assessor técnico na Coopercentral quando iniciou a implantação do programa de fomento à suinocultura, conhecido hoje como Suicooper.
Foi vice-presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC) e presidente da Sociedade Amigos de Chapecó (SAC), entre outros cargos comunitários que exerceu.
Era vice-presidente para assuntos estratégicos do agronegócio da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC).
Em outubro de 2002 assumiu a vice-presidência da Cooperativa Central Aurora e, em 2007, a presidência.
Tornou a Aurora um gigante do setor de alimentos
Nos 13 anos em que comandou a Aurora Alimentos, empresa listada entre as 100 maiores do Brasil, Mário Lanznaster implementou um poderoso programa de investimentos na estrutura industrial e na produção pecuária, consolidando um colosso cooperativista-empresarial-industrial que emprega diretamente mais de 34 mil trabalhadores e processa 1 milhão de aves/dia, 25 mil suínos/dia e 1,5 milhão de litros de leite/dia, com receita operacional bruta superior a R$ 12 bilhões por ano.
Terceira maior produtora de aves e suínos do Brasil, atrás apenas da BRF e da JBS, dona da Seara, a Aurora faturou valor recorde no ano passado, inéditos 10,9 bilhões de reais. Fundada em 1969, reúne 11 cooperativas, emprega mais de 29 000 pessoas diretamente e tem 65 000 famílias rurais cooperadas. Lanznaster, há 12 anos no cargo, é apenas o terceiro presidente da história da companhia. No total, a companhia fabrica mais de 800 produtos, entre eles cortes de carne, lasanhas e iogurtes.
Assim como suas concorrentes JBS e BRF, a Aurora tem na exportação uma das principais fontes de receita. Atualmente, exporta para mais de 60 países e a unidade de Chapecó é a única do Brasil habilitada a embarcar carne in natura para o exigente mercado dos Estados Unidos.
O frigorífico Aurora é um dos mais reluzentes exemplos de uma organização societária em alta no Brasil e no mundo: o cooperativismo. A lógica é semelhante em qualquer lugar: uma união de pessoas para ganho de escala e competitividade, na compra de insumos de forma conjunta, acesso a diferentes tecnologias e venda em volumes maiores. Todos são sócios do negócio e definem juntos os gestores. Esse sistema econômico sustenta uma parcela importante da economia brasileira. Desde 2010, o número de pessoas que aderiram ao modelo no país cresceu 62%, segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Ao final do ano passado, o setor contabilizou uma receita de 260 bilhões de reais e 14,6 milhões de cooperados. O cooperativismo foi responsável por 100% das exportações de 36 municípios brasileiros.