“Minha alma ficou presa eternamente / aos trilhos enluarados do pomar, / ficou presa nos ganchos de uma rede / que deixei esticada na fazenda, / ficou enroladinha, bruscamente, / na linha de uma vara de pescar / madrugada azuis da terra verde / com fogueiras de estrelas e de lenda.”
Saulo Ramos
O entardecer deste domingo na cidade de Ribeirão Preto/SP estava mais colorido do que nunca. Era o firmamento se preparando para receber um ilustre morador. Faleceu nesta tarde, aos 83 anos, o ministro, o advogado, o jurista, o escritor, o poeta Saulo Ramos.
Ferino, crítico, bem-humorado, dono de uma inteligência fulgurante, José Saulo Pereira Ramos deixou os cafezais do interior de São Paulo, da pequena Brodowski, para escrever os artigos de seu memorável código da vida. Dileto amigo desta Redação, hoje ele volta a sua terra natal. E, inquieto, neste momento já deve estar ao lado de seu conterrâneo ilustre, o pintor Cândido Portinari, subvertendo a ordem celeste, no melhor estilo Saulo Ramos.
Seu corpo está sendo velado na Câmara Municipal de Brodowski/SP e o enterro será hoje, 29, às 14h.
José Saulo Pereira Ramos foi consultor-Geral da República e ministro da Justiça durante o Governo Sarney. Anteriormente, ocupou a equipe do presidente Jânio Quadros. Membro da Academia Ribeirão pretana de Letras, Saulo Ramos lançou em 2007 o livro de memórias “O Código da Vida”, no qual a partir de um polêmico caso judicial, conta sua trajetória de vida e fatos que marcaram a história do país. Saulo foi fundador da Academia Santista de Letras.
Em 2010, foi homenageado com o título de Doutor honoris causa pela FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas. Na ocasião, Márcio Thomaz Bastos discorreu sobre sua amizade, respeito e admiração ao jurista que, em sua opinião, fez “da advocacia uma arte e não uma ciência”. Também presente na homenagem, o ministro Marco Aurélio falou sobre a extraordinária capacidade intelectual de Saulo Ramos, que “não se limitou a testemunhar a história, mas ajudou a escrevê-la, participando ativamente da vida política da nação, em prol de resultados que assegurassem o desenvolvimento social“. Durante a solenidade, Ramos leu o texto “Meu Credo”, redigido especialmente para a data:
“Creio no ensino todo poderoso, criador de um céu na terra; e num ideal de educação, um só glorioso, nosso senhor na paz que nos livra da guerra, o qual foi concebido pelo amor dos professores nas escolas e universidades, nasceu da virgem alma dos estudantes sedentos de saber e liberdades, padeceu no desprezo de poderosos Pilatos sob o jugo das sombras; crucificado, morto e sepultados pelos que desdenham diplomas; desceu ao vil inferno dos analfabetos, mas, para um dia, ressurgir dos mortos, subir aos céus dos cursos completos e estar sentado ao lado da sabedoria universal, iluminando a todos nós, mortos ou vivos. Creio no saber e na instrução, na prevalência do bem sobre o mal, na libertação dos escravos e dos cativos pela santa madre cultura, na comunhão da humanidade e em sua remissão pelos estudos e pelos livros. Eis tudo o que creio. E creio também na vida eterna da ciência e do direito. Amém”.
Em 17 de maio de 2010
Saulo Ramos”
Em 2011, Saulo Ramos também foi homenageado por sua dedicação à advocacia pública. Ele é considerado o grande idealizador da advocacia pública no Brasil..
Fonte: Migalhas