Brasília – O rumoroso caso, com repercussão nacional, da onda assaltos em shopping centers de São Paulo e do Rio de Janeiro, revelou um fato preocupante. Em relatório reservado da polícia, a investigação aponta que no assalto a uma joalheria em shopping de luxo no Rio de Janeiro indica a presença de bandidos do Pará na ação. Pelo menos 21 desses marginais estariam escondidos no Complexo de Morros da Penha. Os paraenses envolvidos diretamente nos assaltos estão se especializando nesse tipo de crime.
A investigação do assalto a uma joalheria no Village Mall, há dez dias, mostrou que bandidos do Rio não agem mais sozinhos. O chefe do bando que invadiu o shopping na Barra seria Rodolfo Nascimento Silva, o Mãozinha, que é de Belém do Pará. Ele também é citado num relatório de inteligência feito pela Polícia Civil paraense, ao qual um jornal carioca teve acesso com exclusividade, e que revela a presença de 21 criminosos daquele estado em favelas do Rio, principalmente nas do Complexo da Penha, na Zona Norte.
Os forasteiros estariam, de acordo com o documento, atuando em assaltos, na venda de drogas e na segurança armada de traficantes. Além de Mãozinha, a polícia fluminense identificou outros dois suspeitos do Pará, mas seus nomes não estão no relatório de inteligência, mostrando que o número de paraenses foragidos no Rio pode ser ainda maior.
O principal nome citado no documento é o de Leonardo Costa Araújo, foragido do sistema penitenciário do Pará e suspeito de ser chefe de facção criminosa no estado. No Rio há mais de um ano, ele teria recebido dos traficantes cariocas Wilton Carlos Quintanilha, o Abelha, e Edgar Alves de Andrade, o Doca, que têm o Complexo da Penha como base, o controle de pontos de venda de drogas em Itaboraí, na Região Metropolitana. Dois comparsas de Leonardo, Anderson Souza Santos e David Palheta Pinheiro, também procurados pela Justiça do Pará, estariam no Rio.
Mesma facção
Para agentes que investigam a migração de bandidos, o fato de uma mesma facção atuar nos dois estados facilita esse “intercâmbio”.
“Eles vieram para ficar mais próximos do comando da facção, de onde as decisões são tomadas. Além disso, como são foragidos e procurados no Pará, usam a estrutura das comunidades controladas pelo tráfico, onde as incursões policiais são feitas com mais dificuldade”, explicou um policial.
Outro agente, que também pediu para não ter o nome divulgado, diz que a quadrilha vem “se aproveitando” das restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal, que exige do estado a comunicação antecipada das operações policiais ao Ministério Público: “A criminalidade se adapta, nota falhas no sistema e aproveita. Mas a polícia do Rio tem ido a favelas em busca desses criminosos”.
Em fevereiro, oito pessoas — sendo três paraenses acusados de crimes em seu estado — morreram numa operação da PM na Vila Cruzeiro. Três meses depois, com apoio de policiais rodoviários federais, outra ação na mesma favela terminou com 23 mortos. Segundo a polícia do Pará, quatro vítimas eram investigadas naquele estado por envolvimento com facções criminosas e ataque contra policiais.
Na semana passada, a PM e a Subsecretaria de Inteligência foram à Nova Holanda, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, para tentar capturar os suspeitos do roubo à joalheria do Village Mall e da morte do segurança Jorge Luiz Antunes, que trabalhava desarmado no shopping. Na favela, dois homens foram mortos, mas os assaltantes não foram encontrados.
Essa migração não é de agora. Em 2019, a polícia do Rio prendeu num dos acessos à Vila Cruzeiro, na Penha, o suspeito de um assalto a uma joalheria em Ipanema. Ele estava condenado a 50 anos de prisão por seis crimes cometidos no Pará, como homicídios e roubos.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que “vem monitorando criminosos de outros estados refugiados em comunidades do Rio”. Acrescentou que, em dois anos, houve 12 prisões. Ainda segundo o comunicado, o chefe da quadrilha que assaltou a joalheria na Barra “foi um dos alvos da Operação Coalizão pelo Bem, no fim de 2021, e também de recente ação da PM na Vila Cruzeiro”.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.
1 comentário em “Morro no Rio abriga 21 bandidos paraenses, aponta relatório da polícia”
Tem que mandar essa conta ao S*T*F que proibiu ações da polícia nos morros cariocas, com qual objetivo eu não sei.