A Travessa Plinio Pinheiro, no Bairro São Félix Pioneiro, em Marabá, teve quatro de suas residências evacuadas no início deste mês, com famílias expulsas por ameaças de assassinato. O mesmo teria acontecido com a viúva da vítima e sua filha, que moravam na região do Balneário Mangueiras, mas que teriam deixado a cidade às pressas depois de prestar depoimento à polícia.
A Travessa Plinio Pinheiro é pequena, tem cerca de 10 casas e um muro no final mostra que ela já acabou, fazendo limite com uma área de várzea. Desde então, os vizinhos vivem amedrontados com carros ou motocicletas que chegam ali. Temem que tragam cavaleiros da morte.
Todas as histórias de abandono das cinco casas e da cidade estão entrelaçadas e tiveram início com o assassinato do empresário Reginaldo Vieira da Silva, conhecido como Pastor Reginaldo, que em dezembro do ano passado havia comprado a empresa Bela Água, que envaza água adicionada de sais para comercialização. O crime ocorreu na noite do dia 6 de junho, quando Reginaldo chegava de uma viagem a Eldorado do Carajás, em companhia de dois funcionários. O patrão foi direto para a sede da Bela Água, localizada no Km 4 da Rodovia Transamazônica. Um homem o abordou quando ele tentava abrir o portão e disparou vários tiros por volta de 22h30. O empresário ainda chegou a ser socorrido, mas acabou morrendo no hospital.
Logo após o crime, foi noticiado que antes de falecer, Reginaldo teria revelado que o homem que lhe atirou seria o namorado de sua filha, mas não disse o nome e nem o motivo.
A Reportagem foi atrás da história. E a motivação veio por meio de um relato intrigante de um morador do Núcleo São Félix, que pediu para ter seu nome mantido sob sigilo pelos motivos óbvios. O jornalista Ulisses Pompeu foi, então, seguir o rastro e, nesta Reportagem, conta as histórias possíveis.
O desaparecimento de família em decorrência da violência em Marabá não é tão incomum e, geralmente, não é enredo de boletins de ocorrências, inquéritos policiais, denúncias do Ministério Público nem de processos na Justiça local. Daí a dificuldade para sistematização de casos, dados e acompanhamentos.
O DOMADOR DE CAVALOS
O primeiro relato dava conta que o jovem Ailton Monteiro, de 30 anos de idade, residente à Travessa Plinio Pinheiro, sumiu da cidade e abandonou sua casa, sua potra da raça Manga Larga (que custaria R$ 14 mil). Ailton era namorado de Kelly Vieira, filha de Reginaldo, e trabalhava como domador de cavalos. O fato de os veículos de comunicação terem divulgado, por ocasião do assassinato, que o empresário teria apontado Ailton como seu algoz, causou uma reviravolta na vida do rapaz. Intimado pela polícia, ele foi à delegacia dar sua versão.
Revelou que possuía uma arma registrada em seu nome, mas jurou que não tinha nem mesmo coragem para retirá-la de casa. Foi então que a polícia marcou data e horário para ir buscá-la no São Félix, no dia seguinte, para fazer comparação de balística. Todavia, na noite anterior, a casa de Ailton teria sido arrombada, saqueada, com vários objetos levados, inclusive a pistola que seria entregue à polícia.
No dia seguinte, ele voltou à Seccional de Polícia, na Folha 30, e registrou ocorrência do roubo. Mas nem por isso a pressão sobre o rapaz diminuiu. Após esse fato, homens teriam ido à casa dele – armados – mas não o encontraram. Cruzaram a rua e entraram na casa da mãe do domador de cavalos, que estava acompanhada de netos. Ali, fizeram uma ameaça em tom de urgência: ou Ailton aparecia em 24 horas, ou todos os membros da família iriam morrer. Fizeram a mesma ameaça a outras duas irmãs de Ailton, que moravam em outras duas residências na mesma rua.
O temor pelo pior fez todo mundo arrumar as bagagens e sair da cidade sem deixar rastros. Móveis ficaram para trás. Apenas roupas e documentos foram levados. Para onde? A família não revelou seu destino para os vizinhos.
OUTRAS HISTÓRIAS
Mas há outras histórias que os moradores da Travessa Plinio Pinheiro sabem contar. Revelaram, por exemplo, que na despedida, Ailton chorou e jurou para todos – inclusive a sua mãe – que não tirou a vida de ninguém, e muito menos do pai da namorada dele.
Os mesmos vizinhos disseram também que, no sábado, dia 9, antes de Ailton ir embora, a namorada Kely chegou em um mototaxi e os dois ficaram algumas horas juntos na casa dele.
O casal começou a namorar em 2017 e há boatos que dão conta que Kely teria tramado a morte do pai, com auxílio de Ailton, mas essa versão a polícia não confirma. Os dois estavam juntos sempre que conseguiam tempo e o rapaz levava uma vida pacata, a maior parte do tempo no próprio Bairro São Félix ou em fazendas da região, onde trabalhava domando os cavalos. Ele também possuía cinco touros de rodeio e atuava como montador desses animais.
A VIÚVA SUMIU?
A Reportagem tomou conhecimento com autoridades que, depois de prestar o primeiro depoimento, a viúva de Reginaldo também deixou a cidade em companhia de sua filha Kely e dos netos. A motivação? Medo, já que não há segurança sobre quem seria o autor da morte do empresário.
A polícia tenta, a todo custo, ouvir pessoas da família e amigos próximos para tentar desvendar o assassinato do pastor Reginaldo. O único que está na cidade é Reginaldo Júnior, filho do empresário, que passou a tomar de conta dos negócios do pai. Os demais membros da família teriam saído da cidade e não deixaram contato.
Na tarde desta segunda-feira, dia 25, em conversa por telefone com a Reportagem, Reginaldo Júnior garantiu que sua mãe e irmã estão, sim, em Marabá, embora ainda abaladas com o brutal assassinato do patriarca e que prestaram depoimento semana passada.
Júnior alegou desconhecer que a família de Ailton tinha deixado suas casas depois do assassinato do empresário. Ele afirmou que Reginaldo pai era um homem de bem e que não tinha nenhum inimigo declarado. Revelou, no entanto, que a pretensão da família é vender os negócios e abandonar Marabá, por tudo que aconteceu nos últimos dias.
1 comentário em “Na zona do medo, 5 famílias somem de Marabá após assassinato misterioso”
Fiquei sem acreditar nisso
Pois conheço o Ailton
Mas como é a lei da vida, se errou tem que pagar