Nasa anuncia que Artemis III vai explorar lado oculto da Lua

Região do Pólo Sul lunar nunca foi explorada
Na foto espetacular, a Estação Espacial Internacional entre a Terra e a Lua. Crédito: Divulgação/Instituto Garatéa

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Brasília – “Uma equipe de ‘super astronautas’, com habilidades únicas”, incluindo a primeira mulher e o primeiro negro, foram escalados para a Artemis III — a missão tripulada que colocará os humanos de volta ao satélite natural da Terra para explorar, de forma inédita, o Pólo Sul da Lua, anunciou a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), na última sexta-feira (13/1).

Os detalhes da missão Artemis III, que planeja levar humanos à Lua após mais de 50 anos desde o lançamento da missão Apollo 17, em 7 de setembro de 1972 será um feito inédito dado os desafios que serão impostos aos astronautas e à tecnologia desenvolvida pelos cientistas da Nasa. O satélite natural terrestre terá terráqueos caminhando em sua superfície em 2025, para explorarem, de forma inédita o Pólo Sul lunar — região nunca antes explorada.

Quatro astronautas participarão desta missão, partindo do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, e sendo lançados do topo do Sistema de Lançamento Espacial (SLS), por meio da cápsula Órion. A Artemis I foi considerada uma missão bem-sucedida, quando o megafoguete SLS decolou em 16 de novembro para explorar a superfície lunar. Em 2024, a missão Artemis II será tripulada, mas sem pousar no satélite.

Segundo a Nasa, foi escolhida para a missão de 2025 uma tripulação formada por astronautas bem treinados e com habilidades únicas, pois o plano é delicado e envolve riscos. “Primeiro, a tripulação lançará a órbita da Terra, onde realizará verificações de sistemas e ajustes de painéis solares em Orion. Então, um poderoso impulso do estágio de propulsão criogênica interino do SLS ajudará Orion a realizar uma manobra de injeção translunar, estabelecendo seu curso para a Lua”, explica a Nasa.

“Durante vários dias, a tripulação viajará em direção à Lua e realizará queimas corretivas de combustíveis nos motores para interceptar o campo gravitacional da Lua. No momento e local certos, a Orion realizará uma série de duas queimas de combustíveis nos motores para colocar a espaçonave em uma Órbita de Halo Quase Retilínea lunar (NRHO)”, acrescenta a agência espacial.

A órbita NRHO fornecerá comunicação constante com a Terra e maximizará a eficiência do combustível da espaçonave por ser gravitacionalmente equilibrada. Futuramente, a Nasa pretende montar uma estação espacial lunar nessa órbita para servir como um espaço facilitador para as demais missões Artemis planejadas, dentre elas, a construção de uma Colônia de humanos permanentes na Lua, primeira parada para uma viagem — no futuro — ao Planeta Marte.

Megafoguete SLS decolou em 16 de novembro de 2022 e explorar a superfície lunar. A missão foi um sucesso

SpaceX

A empresa SpaceX, do bilionário Elon Musk, foi a escolhida pela Nasa para fornecer o sistema de pouso humano que transportará os astronautas da Artemis III. “A SpaceX planeja usar um conceito único de operações para aumentar a eficiência geral de seu módulo de pouso. Após uma série de testes, a SpaceX voará pelo menos uma missão de demonstração não tripulada que pousará a Starship na superfície lunar. Quando a Starship (foguete) atender a todos os requisitos da NASA e aos altos padrões de segurança da tripulação, ela estará pronta para sua primeira missão Artemis”, pontuou a Nasa.

Cada decolagem do Megafoguete SLS — o mais poderoso já construído —, custa R$ 21 bilhões de reais

O custo estratosférico de cada missão do maior foguete já construído

O megafoguete SLS carrega na sua ponta a cápsula Orion, que irá viajar até o lado escuro da Lua durante a missão Artemis III. Com 98 metros de altura, o SLS possui uma força de impulso de 39,1 meganewtons, o que o torna o foguete mais potente do mundo. Tanta força também é acompanhada de um preço nada amigável. A fatura estipulada para cada um dos lançamentos programados do foguete — são 3 missões Artemis programadas — é de US$ 4,1 bilhões de dólares ou R$ 21,35 bilhões de reais na taxa de conversão do câmbio neste domingo (22), com U$ 1 um dólar americano valendo o equivalente a R$ 5,21 reais.

Ao chegar na plataforma de lançamento 39B, os engenheiros irão realizar uma série de testes por duas semanas. A equipe do SLS irá colocar três milhões de litros de combustível criogênico no foguete e irá realizar um teste de pré-lançamento, sem ligar os motores.

Depois, todo o combustível será removido e um teste de “abortar missão” será também realizado, em condições seguras. Se tudo correr dentro do planejado, a NASA prosseguirá a missão Artemis III. Esse procedimento já foi realizado na Missão Artemis I e se repete por medida de segurança.

Um dos pilares da missão Garatéa-L, do Brasil, é incentivar estudantes brasileiros na ciência. Crédito: Divulgação/Instituto Garatéa

Chegada à Lua

Após chegaram na superfície lunar, os astronautas farão trabalhos científicos dentro do foguete Starship, além de caminhadas lunares, sendo equipados por trajes espaciais avançados, que garantam maior amplitude de movimento e flexibilidade. “Durante seus passeios lunares, os astronautas tirarão fotos e gravarão vídeos, farão levantamentos geológicos, recuperarão amostras e coletarão outros dados para atender a objetivos científicos específicos. As informações e os materiais coletados pelos astronautas do Artemis III aumentarão nossa compreensão da misteriosa região do Pólo Sul, da Lua e do nosso sistema solar”, afirmou a Nasa.

Brasil na Lua
O Brasil não ficará como espectador na retomada da corrida espacial. Pesquisadores brasileiros pretende enviar uma sonda à Lua até 2025. “A Lua é o próximo destino da humanidade, antes de nos aventurarmos em Marte. Com isso, é necessário estudos mais aprofundados de todo o ambiente lunar, para preparar terreno para os humanos que vão habitar a órbita lunar”, defende Lucas Fonseca, engenheiro espacial e gerente do projeto Garatéa-L. No tupi-guarani, garatéa significa “busca-vidas”. E é com esse intuito que o grupo de cientistas brasileiros trabalha.

Os astronautas da Artemis III, farão caminhadas lunares equipados por trajes espaciais avançados, que garantam maior amplitude de movimento e flexibilidade

Pilares
O projeto da Garatéa-L é constituído por três pilares: ciência, empreendedorismo e educação. No âmbito científico, a missão lunar tem o enfoque da astrobiologia, que é a área que estuda as origens, evolução e futuro da vida no universo. Portanto, os pesquisadores pretendem realizar um experimento biológico, levando colônias de microorganismos e moléculas que serão expostas à radiação cósmica para investigar a adaptação em condições extremas.

“Em novembro de 2022, foi enviado à Lua uma bandeira brasileira em forma de mosaico com faces digitalizadas de brasileiros para um servidor que foi colocado na superfície lunar. Em 2023, pretendemos testar nosso experimento físico em órbita terrestre e em 2024 pousar o mesmo experimento na superfície lunar. O satélite com o experimento de astrobiologia, qual chamamos de Garatéa-L, deve voar apenas em 2025”, explica Lucas.

Os desafios de fazer ciência no Brasil
Em relação ao empreendedorismo, Lucas explica que o propósito da missão é fomentar o movimento conhecido como New Space, em que iniciativas privadas buscam meios sustentáveis de realizar atividades espaciais. “A economia espacial vem crescendo muito rapidamente e será responsável por grandes divisas para os países participantes em um futuro muito próximo”, diz o engenheiro espacial, criador da empresa Airvantis.

Lucas Fonseca é formado em engenharia mecatrônica e tem especialização em engenharia espacial. Em 2010, ele foi contratado pela Agência Espacial Alemã e atuou na missão Rosetta, da Agência Espacial Europeia. A missão, pioneira e histórica, pousou uma sonda em um cometa.

“Eu ajudei durante quase três anos nos cálculos de pouso que a sonda Philae (parte da Rosetta) efetuou em um cometa. Por ser um feito inédito da humanidade, eu tinha muita satisfação de poder fazer parte de um time tão seleto. Acabei sendo o único latino-americano a participar do time que calculou o pouso, o que me permitiu alçar outros voos em minha carreira posteriormente”, lembra Lucas.

Embora a Garatéa-L seja uma missão de iniciativa majoritariamente privada, Lucas pontua que os cortes em ciência e tecnologia no país prejudicam bastante o andamento dos projetos científicos. “Estamos em uma baixa histórica que pode causar danos irreversíveis para o curto e médio prazo”, alerta o pesquisador.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.

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