Cláudio Alberto Castelo Branco Puty, ou simplesmente Cláudio Puty, 47, quer voltar a assumir uma cadeira de deputado federal pelo Pará. Para isso, começou uma longa peregrinação pelos municípios do interior do Estado para articular alianças locais e apresentar seu projeto de atuação, caso seja eleito.
Nos últimos dias, Puty vem percorrendo diversos municípios do sudeste do Pará e, na última sexta-feira, acompanhado do Amigo Ademir Martins, concedeu entrevista ao blog em um hotel de Marabá, vestido em uma calça sarja e camiseta casual cinza, sem nenhum vestígio da tradicional cor do PT. Ele opinou sobre a gestão do governo do Estado (a disputa pelo cargo este ano), segurança pública, desigualdade social entre regiões do Pará, mineração e falou sobre o que lhe move congelar a função de professor universitário para concorrer mais uma vez a um cargo eletivo.
Cláudio Puty é formado em economia pela Universidade Federal do Pará, mestre pela University of Tsukuba, no Japão, e doutor pela New School for Social Research, nos Estados Unidos. Em 2007, foi nomeado secretário de Governo do Pará, no ano seguinte chefiou a Casa Civil de Ana Júlia, tendo ainda presidido o Conselho de Administração do Banco do Estado do Pará. Acompanhe a entrevista concedida ao jornalista Ulisses Pompeu:
Blog do Zé Dudu – Conte-nos o que fez depois que deixou o governo Ana Júlia, em 2009.
Cláudio Puty – Em 2010 fui eleito deputado federal pelo Pará. Em 2011 assumi o mandato e fiquei no cargo até 2015, tendo sido presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados e vice-líder do governo no Congresso. A Revista Veja, mesmo de forma insuspeita, me elegeu o 7º melhor parlamentar do país, numa lista em que Aécio Neves foi o último. Em 2016 fui convidado por Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, para assumir a Secretaria de Assuntos Internacionais. Depois, atuei como secretário executivo do Trabalho e Previdência. Em 13 de maio, após a Dilma ser afastada, voltei para a UFPA, onde sou professor do programa de Pós-graduação da Faculdade de Economia. Também tenho vínculo com uma universidade chinesa, onde dou aula de economia.
Blog do Zé Dudu – Com uma carreira estável como professor universitário, o que lhe impulsionou a tentar voltar a ocupar um cargo eletivo?
Cláudio Puty – Com este cenário de retrocesso dos direitos sociais, com o governo atual querendo mexer na Previdência, um ataque muito grande à esquerda e o Lula preso, o PT está fazendo uma mobilização para lançar nomes para deputados federais, para que ajudemos a fazer um debate sobre o País que a gente quer. Por isso estou conversando com lideranças de todas as regiões do Estado para apresentar meu nome como pré-candidato a deputado federal.
Blog do Zé Dudu – Como você avalia o atual cenário político no Pará e os nomes que estão se apresentando para disputar o governo do Estado?
Cláudio Puty – Do ponto de vista eleitoral é de muita confusão, porque há incertezas acerca da coalizão da coligação governista. O PT tem um candidato a governador, que é o Paulo Rocha. O MDB deve vir com o ex-ministro Helder Barbalho e o PSOL deve lançar Fernando Carneiro, sendo estas as principais candidaturas até o momento. Para mim, o balanço dos governos do PSDB nos últimos anos deixa uma catástrofe em nosso Estado, com explosão de violência, educação com IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação) baixíssimo, não batemos a meta da ONU para o milênio em relação à redução da mortalidade infantil, a expectativa de vida cai há três anos e a violência cresce no campo. É preciso mudar.
Blog do Zé Dudu – Como economista, que medidas você considera essenciais para mudar o cenário de tragédia que você descreve em várias áreas no Estado?
Cláudio Puty – O mercado não vai dar conta de resolver esses problemas. Precisamos de políticas sociais, investimento do Estado para sanarmos o déficit social gigantesco que temos no Pará. Ao mesmo tempo em que o Estado exibe a sétima economia do País, as desigualdades sociais aumentaram ou estagnaram. Temos uma matriz em que a indústria extrativa mineral tem um papel relevante, assim como a pecuária, mas essas duas atividades geram uma péssima distribuição de renda.
Como a mineração é muito intensa e capital, cerca de 60% do valor criado neste segmento vão para lucro e 16 vezes menos vão para salários. E não há quase nada de pagamento de tributo para o Estado, por conta da Lei Kandir. O que geraria empregos seria uma indústria de transformação, como siderurgia, com indústria de bens duráveis, além de serviços e comércio. Por isso, o suposto progresso gera cada vez mais violência. Então, a tarefa mais complexa para um novo governo será encarar esse problema de frente.
Blog do Zé Dudu – Por falar em indústria de transformação, o governo do qual o senhor fez parte (Ana Júlia/Dilma) prometeu uma grande indústria neste segmento, com o Projeto Alpa, que acabou frustrando o povo de Marabá. Como vocês avaliam essa questão, passados cerca de dez anos da promessa?
Cláudio Puty – O problema da Alpa é que a Vale nunca quis esse projeto. A decisão era política, por parte do Lula e do governo da época, para garantir uma grande siderúrgica para Marabá. O drama se deu pela não reeleição do governo do Estado, porque a Vale se sentiu à vontade para criar subterfúgios e inviabilizar seu projeto. Tínhamos desapropriado o terreno, a terraplanagem ficou pronta, mas o que aconteceu foi um incidente histórico. Houve também a queda do preço do minério, que a Vale usou como argumento para não investir mais na Alpa.
Blog do Zé Dudu – Você também falou em desigualdade social, coisa que está escancarada no sul e sudeste do Pará. Muita riqueza se retira daqui, mas os investimentos públicos não chegam na mesma proporção. Como a bancada federal pode agir para minimizar essa disparidade?
Cláudio Puty – Defendo, há muito tempo, que tenhamos uma redivisão federativa no Brasil. Considero que estados muito grandes (como o Pará) precisam ser reavaliados por sua dimensão geográfica. Mas não é só divisão ou canibalismo entre a gente. É preciso discutir o federalismo como um todo. Os recursos são muito concentrados na União, a energia elétrica não paga imposto no Pará, o FPE (Fundo de Participação dos Estados) é distribuído de forma desigual e há várias questões que fazem com que tenhamos concentração de renda no Sul e Sudeste do País e isso precisa ser revisado.
Claro, esta região do Pará não se sente representada pelo governo do Estado porque os serviços públicos não chegam, ficando concentrados excessivamente em Belém. Temos uma região (sul/sudeste) do Pará que não se sente representada pelo governo que tem, e um Estado que não se sente representado pelo governo do Brasil. As regiões precisam ter mais autonomia em relação ao governo local.
No que se refere à desigualdade social, municípios como Canaã dos Carajás, Parauapebas, Curionópolis, Marabá, por exemplo, fazem parte de uma das maiores desigualdades do Pará, porque embora seja rica, com concentração de renda maior, acaba gerando muita pobreza.
Blog do Zé Dudu – Qual o principal foco de suas andanças pelo Estado para sensibilizar eleitores sobre sua plataforma política?
Cláudio Puty – Voltei a viajar pelo Estado em janeiro deste ano. Meu principal objetivo é discutir com as pessoas o modelo de desenvolvimento que precisamos para o País e Estado do Pará. É isso que me move. Tenho participado de muitas reuniões com os movimentos sociais, com o Partido dos Trabalhadores e a sociedade.
Blog do Zé Dudu – Não está sendo difícil fazer esse diálogo num momento em que o PT vive uma crise sem precedentes, com seu principal líder politico preso?
Cláudio Puty – O desafio do PT é não ficar em uma egotrip o tempo todo. Precisamos ir para a luta, porque o povo está passando mal, desempregado e os salários caíram. Essas são as bandeiras do partido, da esquerda e do Socialismo.
1 comentário em “A nova peregrinação de Cláudio Puty para voltar à Câmara dos Deputados”
Considero que o Cláudio Puty seja talvez hoje o mais bem preparado pré–candidato a Deputado Federal, não somente pela elevada formação acadêmica, mas pela experiência que acumulou ao longo das uúltima duas décadas. O estado do Pará precisa de uma bancada federal de melhor nível que a atual, seja para reconstruir o chamado pacto federativo que tem sido tão daninho ao estado (como a chamada Lei Kandir comprova), como para reestabelecer as condições de governabilidade democrática no pais.