Assumem nesta terça-feira, 1º de outubro, os dois novos comandantes da maior mineradora da América Latina. No Brasil, Gustavo Pimenta, é empossado oficialmente presidente da Vale S/A, e, no Canadá, Shaun Usmar assumirá a direção da Vale Base Metals.
Pimenta foi eleito pelo Conselho de Administração da mineradora em 26 de agosto passado, e começaria como CEO só em janeiro de 2025, mas teve o início do mandato antecipado. Dessa forma, o mandato de Eduardo de Salles Bartolomeo, então presidente da companhia, foi encerrado em 30 de setembro, conforme nota da Assessoria de Imprensa da mineradora.
Segundo o setor de Relacionamento com a Imprensa da Vale, sob a liderança de Eduardo Bartolomeo, a mineradora conseguiu avançar significativamente em sua transformação cultural, com orientação para a segurança das pessoas e operações, para a gestão de riscos e para a integridade de ativos.
Além disso, adotou um programa pioneiro de descaracterização de barragens, implementando os melhores padrões globais para a gestão das estruturas de contenção de rejeitos.
Bartolomeo construiu bases sólidas para uma trajetória promissora da empresa, promovendo a excelência operacional e posicionando a Vale de forma estratégica na jornada da descarbonização global. “O Conselho de Administração da Vale agradece o empenho e a dedicação de Eduardo nos últimos cinco anos e lhe deseja sucesso em seus próximos desafios,” diz a nota.
Na reestruturação do comando da Vale, o Conselho de Administração, em atenção à antecipação do processo de sucessão de seu presidente, com a fixação da posse de Gustavo Pimenta, aprovou a nomeação, em caráter interino, de Murilo Muller, atual diretor Global de Controladoria da Companhia, para a posição de vice-presidente Executivo responsável pelas áreas de Finanças e Relações com Investidores da Vale, com início em 1º de outubro e término até 31 de dezembro de 2024.
A posse de Pimenta pacifica uma interferência no processo de sucessão de Bartolomeo. O governo Lula tentou influir e até apontar diretamente na escolha do novo CEO, chegando a colocar na mesa o nome do ex-ministro Guido Mantega. Não conseguiu. Como resposta, elevou o tom com uma série de críticas à mineradora.
Superado o processo sucessório, o Palácio do Planalto mudou o tom e diz agora que espera ter uma relação melhor com Pimenta. A gestão Lula considerava a interlocução com a gestão de Bartolomeo quase nula. Embora não seja um nome do governo, o novo CEO foi eleito por unanimidade no conselho, inclusive com os votos da Previ, que é o fundo de pensão do Banco do Brasil.
A própria antecipação da posse do novo CEO foi bem vista pelo Planalto. A avaliação feita internamente é que, desde a eleição de Pimenta, a empresa tinha dois presidentes e que por isso tudo se tornava mais difícil, inclusive o desfecho do acordo de repactuação da tragédia de Mariana, que está em vias de ser fechado e deve ser anunciado em breve.
Mesmo antes, com a iminente saída de Bartolomeo, o governo avaliava que a negociação seria mais lenta. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, chegou a afirmar publicamente que a Vale estava “acéfala”. Depois do anúncio de Pimenta, disse que a empresa ganhou uma referência no comando e que deixaria de ser acéfala.
Desafios imediatos
Há duas pendências que Pimenta quer solução definitiva no menor tempo possível:
- O fechamento do acordo de Mariana: o Planalto espera que a empresa – juntamente da BHP da Samarco – aceite a proposta feita pela União aos governos de Minas e do Espírito Santo para fixar o valor total em R$ 167 bilhões, sendo R$ 100 bilhões em dinheiro novo. A meta é assinar o termo de repactuação ainda neste ano; e
- A negociação sobre as ferrovias: o governo cobra uma fatura de R$ 25,7 bilhões da Vale pela antecipação feita em 2020, no governo Jair Bolsonaro (PL), dos contratos das suas duas ferrovias – uma delas, a Estrada de Ferro Carajás (EFC). O Ministério dos Transportes avalia que o cálculo da outorga estava errado na época. O objetivo é destravar um acordo com a Vale para pagamento.
De Estatal a Corporation
A Vale, desde a privatização, no governo Fernando Henrique Cardoso, passou por mudanças na divisão do controle de seu capital. No governo do então presidente Jair Bolsonaro, por um segundo processo de privatização. O então ministro da Economia, Paulo Guedes, reduziu a participação do governo nas ações da mineradora de 26,5% para 8,6%.
De lá para cá, a Vale se tornou uma corporation, ou seja, uma empresa de controle privado, com capital diluído no mercado. Nesse modelo, nenhum acionista detém mais do que 10% dos papéis.
Atualmente, a empresa tem entre seus principais sócios a japonesa Mitsui e a americana BlackRock, além da Previ.
Recentemente, a Cosan, um conglomerado brasileiro com negócios nas áreas de açúcar, álcool, energia, lubrificantes, e logística, que adquiriu 5% das ações da Vale S/A, veio a público, no dia 30 de setembro, rebater rumores no mercado que venderia essas ações para aliviar sua alavancagem.
Em nota, o grupo disse que não há qualquer deliberação da sua administração sobre a alienação de qualquer parcela da participação da companhia na Vale para pagar dívidas. “A Cosan avalia constantemente seu portfólio de ativos e segue comprometida com a otimização na alocação de capital, principalmente em um cenário de altas taxas de juros e ambiente macroeconômico desafiador, tarefa intrínseca ao papel que a holding que desempenha”, destacou, em comunicado ao mercado.
Na composição dos acionistas da Vale, com exceção da fatia da Previ, o único instrumento do governo são as golden shares, um tipo de participação indireta que a União detém em companhias que antes eram estatais e foram privatizadas.
Trata-se, porém, de um mecanismo limitado, que apenas pode vetar grandes decisões e indicar nomes para o Conselho Fiscal. O governo tem 12 ações do tipo na Vale. Essas participações não rendem pagamento de dividendos, não dão direito a indicação de CEO, membros para o Conselho de Administração ou para a diretoria.
Gustavo Pimenta
O novo presidente da Vale tem mestrado em Finanças e Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV), e é formado em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
No comunicado de anúncio da escolha de Pimenta, o presidente do Conselho de Administração da Vale, Daniel Stieler, disse que o executivo “reúne as competências necessárias para que possamos aspirar um novo ciclo virtuoso para a companhia, orientado por nosso propósito, e com grande potencial de geração de valor a todos os nossos públicos de relacionamento”.
Shaun Usmar
O novo presidente da Vale Base Metals, Shaun Usmar, ficará baseado em Toronto, no Canadá. Ele é um executivo internacional de mineração com mais de 30 anos de experiência em funções de liderança operacional, financeira e executiva. Ele fundou a Triple Flag e atuou como vice-presidente executivo sênior e diretor financeiro da Barrick Gold Corporation, onde ajudou a reestruturar a empresa. Sua carreira também inclui cargos significativos na Xstrata e na BHP Billiton.
Por Val-André Mutran – de Brasília