Núcleo de Carajás completa 35 anos

Confira algumas curiosidades sobre o Núcleo Urbano de Carajás
Núcleo Urbano de Carajás, 1985

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Era década de 1980, cerca de 27 mil pessoas trabalhavam na construção da infraestrutura da mina, usina e ferrovia do, então, projeto Ferro Carajás, que daria  início à operação da maior mina de ferro a céu aberto do mundo. Assim começava também a se constituir o município de Parauapebas, na época, ainda distrito de Marabá e o Núcleo Urbano de Carajás. Hoje um dos bairros da cidade, o Núcleo está completando 35 anos, com fatos que marcaram a história de Parauapebas como a visita da princesa Diana e com características únicas, principalmente, por estar localizado dentro de uma unidade de floresta protegida e por ser hoje um atrativo para o turismo.

José Geslan era um desses trabalhadores. Ainda em 1984, ele com apenas 19 anos e sete amigos estudantes de eletricidade no Senai de Marabá enfrentavam mais de quatro horas em estrada de chão para chegar em Parauapebas. O grupo residiria provisoriamente na vila de N5, implantada onde hoje está a mina de ferro de N5, e em seguida, moraria no Núcleo de Carajás. Naquela época, o Núcleo foi a solução encontrada pela então estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) dentro da concepção histórica e social que prevalecia no período, das cidades planejadas conhecidas como “chão de fábrica”, ou seja, de construções de cidades com a menor distância possível entre a frente de trabalho e a família daquele trabalhador. O Núcleo está localizado há apenas 20 minutos da mina.

Ao lado da esposa Maureni, Geslan, que reside no Núcleo de Carajás desde 1990, diz ter satisfação em
participar da história de Parauapebas

“Parauapebas ainda era um distrito de Marabá. Para chegar aqui demorava ainda de quatro a cinco horas em estrada de chão. Não havia energia elétrica, moradia, rede de água. Chegamos para residir no alojamento da Vila de N5. A construção do Núcleo, que está há apenas 20 minutos da mina, nos ajudou a nos sentir mais próximos da família”, conta José Geslan.

As obras do Núcleo foram iniciadas em 1984 e, em 1986, chegaram os primeiros moradores. A estrutura foi construída para receber empregados que vieram trabalhar na implantação do projeto Ferro Carajás assegurando habitação, saúde, educação e serviços. Situado no alto da serra, a 627 metros de altitude, a 25 minutos do centro da cidade e em área de 300 hectares, o Núcleo tem hoje cerca de 5.500 mil moradores, entre empregados Vale de diferentes cargos, profissionais de saúde e professores, que moram nas 1.353 residências disponíveis.

À época, a companhia fez também uma série de investimentos, fornecendo as bases para a formação da cidade Parauapebas, como a primeira sede da prefeitura, hospital, escola, quartel de Polícia Militar, Delegacia de Polícia e a pavimentação da PA 275, a antiga estrada de terra que liga Parauapebas a Marabá. Parte da urbanização de bairros como Cidade Nova e União, com drenagem pluvial, sistema de água, esgoto e instalação de rede elétrica e construção de casas também foram executados naquele período pela companhia.

Mas para implantar o Projeto Ferro Carajás, uma das iniciativas e entre as obrigações, a empresa teria que apoiar no desenvolvimento de ações, com vistas à vigilância e manutenção da Floresta Nacional de Carajás e demais unidades de conservação na região, conforme Plano de Manejo das unidades. O Núcleo que fica dentro da Floresta Nacional de Carajás, unidade de conservação gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), segue, assim, regras definidas pelo órgão ambiental para acesso e permanência.

O local conta com tratamento de água e esgoto, além do serviço de coleta seletiva. Os moradores precisam segregar seus resíduos com dias certos de coleta para cada tipo. Por todo Núcleo, também é possível ver os coletores seletivos. Mensalmente, em média 120 toneladas de resíduos, papel, plástico, metal, vidros e material orgânico têm destinação sustentável como a reciclagem. Toda gestão e a prestação de serviços de infraestrutura de água, energia elétrica, coleta de lixo, tratamento de resíduos e esgoto, segurança, manutenção das áreas comuns e verdes são administrados pela Vale. Ao redor do núcleo, uma cerca de arame de 7,2 km de extensão e 4,3 metros de altura circunda toda unidade, a fim de reduzir o risco da entrada de felinos.

O espaço também é uma opção de lazer e turismo, com praças, o Clube Docenorte e o Parque Zoobotânico Vale (PZV). Atualmente, os espaços estão fechados por conta da pandemia da Covid-19. Antes, a média de visitação mensal já foi de 13 mil pessoas que cruzaram a portaria da Floresta Nacional de Carajás, em direção ao Núcleo, também para uso da rede de serviços. A cerca de 9 km do Núcleo, fica o Aeroporto de Carajás.

No bairro, tem média de 60 empreendimentos comerciais, entre padaria, restaurantes, farmácias, supermercados, lojas de confecções, clínicas de fisioterapia e odontológica e salão de beleza, além de banco, Correios e Igrejas. Uma curiosidade é que todas as ruas e avenidas têm nomes de rios e tribos indígenas da região, além de estarem posicionadas em ordem alfabética, sendo bastante fácil a localização das ruas. A Guamá é a rua do comércio local. No Núcleo, também funciona o Hospital Yutaka Takeda, construído e mantido pela Vale que atende população do município, conveniados e particular em 21 especialidades.

Bairro do Núcleo de Carajás fica a 20 minutos da mina e a 24 km do centro de Parauapebas

Residindo na cidade desde o início do projeto, o fotógrafo Salviano Machado  fala da importância da infraestrutura do núcleo habitacional para a época. “Sem esse Núcleo, seria praticamente impossível o projeto Carajás ter sido construído, porque não existia nada, Parauapebas era um lugarejo muito pequeno e sem infraestrutura. Era muito difícil que as pessoas com maior qualificação quisessem vir para cá trabalhar. Ele conta que para conseguir, por exemplo, falar com a família era muito difícil. A comunicação era por cabine telefônica. Na vila, por exemplo, eram seis cabines para mais de 20 mil pessoas”.

Fotógrafo há mais de 36 anos na cidade, Salviano tem hoje um dos maiores acervos de fotos sobre a história do Núcleo e da trajetória do projeto Ferro Carajás. São dele, importantes registros históricos também da cidade. Ele relembra momentos marcantes no Núcleo, como a “inauguração do Clube Docenorte em 1986, que contou com a presença da cantora Alcione, da visita dos presidenciáveis como José Sarney e Fernando Henrique, dentre outros, e claro, da princesa Diana e do Príncipe Charles”. Salviano quem fotografou a visita da princesa à escola, ao Parque Zoobotânico e ao centro de capacitação que funcionava no Núcleo.

Princesa Diana em visita ao colégio do Núcleo. Foto: Salviano Machado

Passados esses 35 anos, a história do Núcleo marca também a trajetória e a memória de milhares de pessoas. O Geslan, que chegou em 1986, ainda é morador do local, trabalha na Usina de Carajás, onde atua agora como Supervisor de Manutenção Corretiva. Para o futuro, ele diz ainda que após se aposentar espera morar em algum lugar parecido com o Núcleo. “Desejo quando sair poder morar em um lugar onde possa conviver com a beleza da floresta e com a natureza, além da limpeza e organização que se vê aqui. Tenho satisfação em ter participado do projeto, em participar da história de Parauapebas”.

Verônica Ueroka, que estudou da creche até o ensino médio na escola do Núcleo, voltou para Parauapebas há cinco anos e diz estar realizada. Ela passou doze anos fora, tendo se formado em odontologia em Belém e concluído especializações e Mestrado em São Paulo, e agora exerce sua profissão de cirurgiã dentista na unidade de saúde básica do rio Verde no município.

“O Sus (sistema público de saúde) me abraçou de uma maneira que eu não consigo explicar em palavras, a retribuição do paciente para com você é de imediato, devolver a ele um sorriso, não tem gratificação melhor. Além de eu estar de volta, em especial, pelo fato de estar perto dos meus pais de novo, e contribuindo com a cidade, que eu sempre amei e que tenho lembranças incríveis, eu não poderia estar mais realizada”, conclui Verônica emocionada.

Confira abaixo algumas curiosidades sobre o Núcleo de Carajás:
. O Núcleo possui em torno de 306 hectares e é totalmente cercado de arame, com 7,2 km de extensão e 4,3 metros de altura;
. Está localizado dentro da Floresta Nacional de Carajás, unidade de conservação protegida pelo ICMBio e a Vale;
. Fica a uma altitude de 627 metros acima do nível do mar, com uma umidade em torno de 80%;
. A distância para o centro da cidade de Parauapebas é de 24 km;
. O espaço tem coleta seletiva, com coletores de resíduos distribuídos em ruas, praças e escritórios;
. É obrigação do morador promover a coleta seletiva em sua residência,
. A Guamá é a rua comercial, possui 28 lojas e 2 farmácias,
. Todas as ruas e avenidas têm nomes de rios e tribos indígenas da região, além de estarem posicionadas em ordem alfabética, sendo bastante fácil a localização das ruas.
. No Núcleo Urbano não é permitido a entrada de animais domésticos.

3 comentários em “Núcleo de Carajás completa 35 anos

  1. Paulo M Fonseca Responder

    Funcionário da Sisal Construtora, empreiteira da construção do Núcleo Urbano de Carajás morei em 1984 e 1985 na Rua Marupá na Vila de N5 na Serra de Carajás, distante aproximadamente à 12km do aeroporto local e de 3 à 5 horas de Marabá via estrada. Excelente período da minha vida. Saudades imensas.
    Paulo Manhães

  2. Franci Responder

    Parabéns pela reportagem.
    Lugar lindo!
    Morei no núcleo durante 30 anos, trabalhei na creche e no Colégio Pitágoras.
    Faltou citar a tribo indígena Xicrin do Cateté, os índios dessa tribo estão sempre circulando pelo núcleo urbano. E a quantidade de bicicletas no local, por ter ciclovias, ser plano é asfaltado, é maravilhoso pedalar aí.

  3. AMERICO BIANCALANA NETO Responder

    Parabéns, pela reportagem! Só ficou faltando falar sobre o teatro em forma de tartaruga, para mais de 300 pessoas. Mas a obra como um todo é maravilhosa! Parabéns novamente.

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