Brasília – Se alguém tinha alguma dúvida de que o governo não iria interferir nas eleições do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, tal indagação foi dissipada nesta sexta-feira (27), de tempo chuvoso em Brasília. Nada menos que sete senadores mudarão de partido e o PSD, do candidato à reeleição no Senado, Rodrigo Pacheco (MG) e o PSB do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, receberão três senadores cada, enquanto que Cidadania e Rede Sustentabilidade ficarão sem representação na Câmara Alta.
Desde a proclamação feita pelo Tribunal Superior Eleitoral, legitimando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencedor do pleito de 2022 para o terceiro mandato, uma música inaudível começou a tilintar na cabeça de pelo menos uma dúzia de senadores; justamente aqueles que não disputaram a eleição em 2022, porque foram eleitos em 2018 e ainda têm quatro anos de mandato pela frente.
A música inaudível anima a festa da dança das cadeiras, uma das práticas que caracteriza e desvaloriza como é feito a política na maior democracia da América Latina.
Os vira-casacas, sem nenhum pudor, trocam de convicções políticas por vantagens pessoais. Caso contrário, não mudariam de partido. No troca-troca desta sexta, há casos ainda mais eloquentes, como a mudança de viés ideológico ao trocar o Cidadania pelo PSD, como fez, sem maiores explicações, a então barulhenta e combativa senadora do Maranhão, Eliziane Gama, ao sair do Cidadania e embarcar no partido comandado pelo ex-prefeito de São Paulo e ministro de vários governos, Gilberto Kassab. Mesmo partido do “favorito” à presidência da Casa, o senador mineiro Rodrigo Pacheco.
Aliás, foi Kassab e o colega, também paulista, Geraldo Alckmin, os maiores articuladores do troca-troca visto ao longo do dia, mas que anuncia um desfechos de semanas de intensas negociações.
Ontem, outro capítulo importante. O presidente Lula, que jurava que não se meteria na escolha dos “novos velhos” presidentes da Câmara e do Senado, jantou na quinta-feira (26), na residência oficial do Senado, com o atual presidente e candidato à reeleição Rodrigo Pacheco (MG), a quem anunciou apoio incondicional, seja lá o que isso significa.
Por seu turno, Geraldo Alckmin “conseguiu” convencer três senadores para trocar para novos assentos e turbinar o seu esquálido PSB, que só tinha um senador eleito. Ingressam no partido do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, os senadores Jorge Kajuru, do Podemos de Goiás; Chico Rodrigues, do União Brasil de Roraima e Flávio Arns, do Podemos do Paraná.
Com essa movimentação, o União Brasil e o Podemos perde dois senadores, passando para. O primeiro tinha 10 senadores e passará a ter 8 e o segundo; que tinha 6 cadeiras, passará a ter 4.
Enquanto Alckmin comemora, Rodrigo Pacheco também não tem do que se queixar. Entram no PSD a já citada Eliziane Gama, o senador Jaime Campos, que deixa o União Brasil do Mato Grosso e Mara Gabrilli, quadro histórico do PSDB de São Paulo, candidata a vice-presidente na chapa derrotada liderada pela também senadora Simone Tebet (MDB), que apoiou Lula de bate-pronto, logo após o resultado do primeiro turno e já devidamente acomodada como ministra do Planejamento do governo petista.
Intrigado há tempos e sem falar com a deputada licenciada Marina Silva, que bateu asas do Acre e se elegeu por São Paulo, o senador Randolfe Rodrigues, escolhido para ser o líder do governo no Senado, trocou sem qualquer escrúpulo ou cerimônia, o nanico Rede pelo partido da hora, o PT.
Com o movimento de Eliziane e Randolfe, o Cidadania e a Rede ficam sem nenhuma cadeira no Senado.
Veja abaixo o troca-troca de partidos, que ainda pode mudar até o dia 1º de fevereiro, último dia para essa festa da dança das cadeiras.
Se as mudanças se concretizarem, o PSD deixa de ficar empatado com o PL como as duas maiores bancadas da Casa Alta e passa a liderar o ranking com 16 integrantes. O União Brasil perderia 2 quadros e iria de 10 para 8 senadores. O MDB e o PT, então, ultrapassariam a sigla.
Bloco de oposição
A se confirmar o troca-troca de hoje, resta ao candidato do PL à presidência do Senado, senador Rogério Marinho (RN), concretizar o bloco de oposição ao governo na Casa.
O candidato à presidência do Senado e ex-ministro de Bolsonaro, Rogério Marinho (PL-RN), espera partir de ao menos 23 votos na disputa contra Pacheco e Eduardo Girão (Podemos-CE). Os presidentes do PL, Valdemar Costa Neto, do PP, Ciro Nogueira, e do Republicanos, Marcos Pereira, decidiram apoiá-lo formalmente.
O grupo pretende anunciar a criação do bloco PL-PP-Republicanos no sábado (28) com apoio oficial do grupo político a presidência de Marinho na Casa. Há, porém, indefinição sobre o voto do senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR).
“O bloco PL/PP/Republicanos dá musculatura política a Rogério Marinho que deseja resgatar a independência e o protagonismo do Senado Federal, se eleito”, escreveu o PL em nota divulgada a jornalistas.
Atualmente, o PL conta com 13 senadores para a nova legislatura. O Republicanos, com 4. O PP tem 6 congressistas, mas espera filiar mais 1 e ficar com 7.
As campanhas de Pacheco e Marinho traçam cenários diferentes para o pleito. A do atual presidente calcula cerca de 55 votos favoráveis à reeleição de Pacheco. Já a de Marinho diz a aliados que o cenário é de empate: com cerca de 35 votos para cada lado e um grupo de aproximadamente 11 indecisos.
Os dois candidatos mais competitivos adotam estratégias diferentes na disputa pelo comando da Casa. Enquanto o atual chefe do Legislativo confia no trabalho pregresso e entrega a articulação ao aliado Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o ex-ministro visita seus pares há semanas. Não sai da ponte aérea.
O excesso de protagonismo de Alcolumbre desagrada a alas do Senado. Há queixas sobre atropelos na negociação de espaços na mesa e nas comissões. Sobra espaço para ressentimentos.
Alcolumbre pretende ser reconduzido ao comando da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e voltar à presidência da Casa em 2025. Esse movimento não é consenso nos partidos ligados a Pacheco.
Além da disputa pelo cargo mais alto do Legislativo, senadores discutem nos últimos dias antes da eleição a distribuição de cargos na Mesa Diretora e em comissões importantes.
Ao menos três senadores pleiteiam a primeria-vice-presidência: o atual ocupante do cargo, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), Humberto Costa (PT-PE) e Eliziane Gama (Cidadania-MA). O favorito é o emedebista.
Pacheco foi eleito presidente do Senado em fevereiro de 2021 quando ainda estava no DEM — partido extinto depois da fusão com o PSL que criou o União Brasil.
Eis a distribuição atual dos cargos da mesa diretora:
Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) – 1º vice-presidente;
Romário (PL-RJ) – 2º vice-presidente, eleito pelo Podemos;
Irajá (PSD-TO) – 1º secretário;
Elmano Férrer (PP-PI) – 2º secretário;
Rogério Carvalho (PT-SE) – 3º secretário;
Weverton Rocha (PDT-MA) – 4º secretário;
Jorginho Mello (PL-SC) – 1º suplente;
Luiz Carlos do Carmo (PSC-GO) – 2º suplente, eleito pelo MDB;
Eliziane Gama (Cidadania-MA) – 3ª suplente; e
Zequinha Marinho (PL-PA) – 4º suplente, eleito pelo PSC.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.