Brasília – Qual foi o artista paraense de maior expressão da história do Pará? Gaby Amarantos dirão os mais afoitos. Embora a talentosa artista do Jurunas seja um fenômeno, ela ainda precisa trilhar uma longa estrada para ombrear, a alucinante vida do menino rico de Belém, que foi estudar na Suíça, mas que na verdade vivia em Hollywood, onde dividia o quarto de pensão com Rodolfo Valentino — a lenda das telonas no início do Cinema, que seduziu as mais belas estrelas do Cosmo —, e que virou um dos maiores astros do cinema mundial e acabou a carreira quando foi flagrado em cima de um camelo, nas telas do Cinema Olympia, na calorenta Belém.
A aventura de enganar os pais custou-lhe morrer pobre, esquecido por Hollywood também, ao enganar a família, desprezando a origem dos dinheiros que sustentaram a sua mentira, e as consequências que dela decorreram.
Uma história incrível
Esse obscuro personagem só começa a se identificado agora, 50 anos depois do sucesso, doente e esquecido e isolado em sua casa e morrendo na obscuridade, na cidade do Rio de Janeiro, em 1990.
A história de Hollywood não seria a mesma sem o filme da vida deste homem que, ficou para a história como Syn de Conde. O belemense Synésio Mariano de Aguiar, nasceu em 1894, era filho de um industrial paraense, quando a borracha ainda inspirava alguma riqueza da Belém do Pará do início do século XX.
Uma vida que foi um roteiro de filme
Segundo o que foi possível apurar até agora, Synésio Mariano de Aguiar, como de praxe nas ricas famílias da provinciana — e metida a Europa da Amazônia, Belém do Pará —, o paraense foi mandado para a Suíça para concluir estudos básicos. Vivendo de mesada, escrevia para os pais contando sobre o aproveitamento escolar, enquanto planejava destino completamente diferente do planejado por quem lhes pagava as despesas.
O aloprado embarcou para a América do Norte. Foi morar em Hollywood, dividindo um quarto de pensão com outro aventureiro italiano chamado Rodolfo Valentino. Influenciado por ele, o paraense Synésio virou dançarino de tango nas boates elegantes. Em uma das apresentações, uma cantada bem dada, resultou em um bilhete com endereço e o telefone. Era a atriz Alah Nazimova (que namoraria Valentino em seguida), ainda sem a fama que o consagrou como o galã dos galãs do então Cinema Mudo, e em preto & Branco.
Foi ela que a apresentou a ele um estúdio de cinema. Ao presenciar uma cena onde dançavam um tango, foi petulante o bastante para dizer ao diretor que faria melhor, provando tal qualidade. Acabou como coadjuvante, passando a figurar em produções “classe A”.
Foram oito filmes durante 2 anos. As tais cartas ao pai eram regularmente enviadas de um amigo na Suíça, para não dar “bandeira”, é claro, e garantir a mesada. Synésio só não contava com o sucesso. Um amigo do pai disse que tinha visto o filho no Cine Olympia, em Belém, atuando em Hollywood.
O pai só acreditou quando o informante comprovou que ele estava sim, puxando um camelo no papel do árabe Abdulah em “A Chama do Deserto” (Flame of Desert).
Farsa descoberta, o pai do ator, determinou a volta do rebelde, que a esta altura já se casara com a Anna Pauley, mas, por pouco tempo.
Divorciado, foi morar em Nova York, segundo o New York Times, em 1921. Em 1927, de volta ao Brasil, ao chegar no Rio de Janeiro, escalou um prédio na Av. Rio Branco ganhando manchetes de jornais, para provar que não eram apenas americanos que galgavam alturas (estreava lá [na América do Norte] “O Homem Mosca” (Safety Last, 1923) onde Harold Lloyd escalava um edifício).
A volta ao Lar
Em 1928, já em Belém, o rebelde virou professor de inglês, e foi viver em um casamento arranjado pelo pai, sem nunca ter se transformado em um sério chefe de família. Syn de Conde foi descoberto só em 1972, pelo crítico Pedro Veriano, que o encontrou doente, num dos sobrados da Av. Serzedêlo Corrêa, herdado de familiares, onde confirmou toda a história.
No fim da década de 1980, Synésio retornou ao Rio, morrendo em 1990. A vida de um dos primeiros galãs de Hollywood, nascido em Belém, esquecido pela cidade daria um grande filme.
Fontes: Luzia Miranda Álvares/ Pedro Veriano.
Filmografia. http://www.imdb.com/name/nm0208087
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.