“O Brasil não é um país civilizado”: a Lógica Sheherazade, que não explica nada, interessa a quem?
O Brasil acabou. The End. Finito. Game over. Caput.
Já temos justiceiros que prendem adolescentes a postes com travas de bicicletas e detentos decapitados por detentos.
Agora, de acordo com a Folha, gays estão sendo agredidos nas ruas em “novas ondas” de ataques homofóbicos na região da rua Frei Caneca, em São Paulo. A solução proposta na matéria: “evitar lugares abertos; não dar ‘pinta’ — alguns trejeitos podem atrair a atenção de criminosos; evitar andar de mãos dadas e beijar em locais públicos”.
OK. Aparentemente, isso significa que, depois do beijo na novela das 9, já estava na hora de os homossexuais voltarem para o armário. O complicado é o conselho para “não dar pinta”. Como proceder? Que tipo de roupa eles devem ou não usar? Podem ouvir Lady Gaga? Qual o carro adequado? E as gírias?
Numa terra sem lei, chamar a polícia, nem pensar. Contratar um advogado para quê? Hoje, foi divulgada uma foto do suspeito de ter acendido o rojão que matou o cinegrafista da Band Santiago Andrade. Seu mandado de prisão já foi expedido.
Ele pode ser denunciado por um vizinho e entregue a uma delegacia. Ou, aplicando-se a Lógica Sheherazade, será “compreensível” se for apanhado por um grupo de vingadores imbecis e linchado, já que o estado não serve para coisa alguma e estamos na selva.
Numa entrevista para a revista ‘Forbes’, Rachel Sheherazade disse que o Brasil “não é um país civilizado. Ninguém acredita nisso mais. Em termos de civilidade, nós atingimos o grau mais baixo”. E segue daí.
Não que não haja problemas gravíssimos de segurança pública. Mas essa histeria interessa a quem? Gritar fogo e sair correndo para se salvar ajuda a quem? O pessoal que Sheherazade representa — ou as pessoas em quem ela vai votar: o que eles propõem? Um haraquiri ou um justiçamento coletivo? Temos alguma ideia?
Há alguns anos, os Simpsons tiveram um episódio passado no Brasil. A certa altura, macacos cruzavam as ruas de Ipanema. Foi motivo de repúdio quase generalizado (especialmente por quem não entendeu que era uma piada).
Fosse hoje, os autores da série teriam de incluir homens encapuzados com cutelos, crianças fugindo de prédios em chamas e hienas se alimentando de cadáveres atirados a esmo nas praias, enquanto Neymar faz um gol impedido com as mãos.
E ninguém diria nada. Acabou. Caput. Fecha tudo e pede a conta. Vamos cobrir a cabeça de cinzas e entregar os reféns. Só tente, por favor, não sair dando pinta por aí.
Publicado originalmente Geledés Instituto da Mulher Negra.
2 comentários em ““O Brasil não é um país civilizado””
Muito bom o texto, Zé! Reflete a pura realidade desse paizinho de quinta, que quer vender uma imagem mentirosa que estamos ” crescendo”, pura demagogia.
O brasileiro é visto pelos estrangeiros como um povo, ignorante, pobre, mal educado, violento, ladrão, desonesto, um povo que tem uma cultura de roubar, ser espertinho, um povo que fica três dias pulando carnaval, bebendo,se drogando, as mulheres tornando-se verdadeiras putas, vulgares, meninas de quinze anos parindo filhos como ratos, uma violência assustadora.
Um pais que não é nada útil para o mundo, aqui só se fabrica jogador de futebosta, prostituta e farelo.
Morei por 14 anos na Suíça e sei o quanto eu mentia e negava minha nacionalidade para não sofrer discriminação, tinha até que pintar o cabelo de loiro pra me camuflar. O brasileiro não tem moral nenhuma lá fora. Foi lá que aprendi a ser civilizado, foi lá fora que aprendi que se encontro um objeto perdido de alguém tenho mais que por obrigação devolver a quem o perdeu, porque no Brasil eu aprendi que ” achar não é roubar” A nossa cultura é uma vergonha, num país onde jogador de futebol é visto como herói,não podemos esperar coisa melhor. No Brasil não se respeita os mais velhos, não se respeita um policial. No Brasil bandidos menores assassinos protegidos por leis. E AINDA TEM GENTE QUE ACHA QUE O BRASIL É MARAVILHOSO! Brasil é uma merda, é uma favela.
Quero saber, sinceramente, no que foi que ela mentiu ou se equivocou em sua declaração. Vivemos em um país que vende a imagem de “carnaval, praia e futebol” e isso contamina desde a infância à todos.
Aí, quando aparece alguém que joga a realidade na cara e nos meios de comunicação, acabam fazendo “polemiquinhas” com entidades ofendidas e exigindo retratações.
Só quem sofreu uma agressão, tomou um tiro por bala perdida, foi vítima de assalto, estupro ou qualquer violência, sabe como é difícil viver nessa verdadeira selva!
Não é espalhar pânico generalizado, mas no que ajuda e à quem ajuda esconder a realidade?
Esquecendo completamente o partidarismo e o que é governo e o que não é, já que é impossível distinguir mesmo.
Eu prefiro saber que estou na selva, conhecer os predadores e me tornar o mais reativo deles, se for necessário. O que não dá é para achar que está tudo bem, que o Brasil é bonitão e pacífico, colocar o sorriso da Globeleza no rosto e caminhar vendado em um campo minado enquanto Neymar e o pai negociam seus contratos sombrios e a Marquezine pinta de estrela no folhetim do Maneco!
“Vem pra rua, que a rua é a maior arquibancada do Brasil!”