Por Marcel Nogueira ( * )
No início da semana um novo cenário se descortinou no canteiro central da Cidade Nova. Uma grande número de operários está trabalhando freneticamente na decoração natalina e aquilo que poderia não chegar a tempo se materializa a cada dia. A exemplo dos anos anteriores, teremos um Natal com muitas luzes, o que fará a alegria dos parauapebenses e dos visitantes que já se acostumaram com a festa maravilhosa e com o festival de cores do Natal da terrinha.
Definitivamente, Noel não terá desculpas para passar de largo, quando cruzar os ares da terra de muros baixos. Ao dar um rasante com suas renas pelo canteiro central – inegavelmente o grande cartão postal natalino da cidade – e se extasiar com as luzes multicoloridas, as árvores gigantes da rotatória da 14, do paço municipal e os presépios da praça Mahatma Gandhi e da Praça da Cidadania, o bom velhinho chegará a óbvia conclusão que vale a pena aportar por essas plagas.
Apesar do tórrido calor desse período chuvoso, o que por si só revelará a proximidade dos trópicos, Noel, renas e duendes, na calada da noite, em algum dia da segunda quinzena de dezembro (não tentem arrancar uma data exata da sua chegada, Noel não gosta disso), aterrissarão silenciosamente em algum lugar da cidade (pode ser na Praça Mahatma Gandhi, ou pelos lados da Cidade Jardim, Nova Carajás, ou qualquer um desses novos bairros, ou só para contrariar, o homem de vermelho pode fazer uma entrada em grande estilo em pleno Unique Shopping). De qualquer maneira, o mínimo que senhor do Polo Norte exige é que a cidade se prepare adequadamente para receber o Natal, com toda pompa e circunstância que a data enseja.
Entre presentes e mimos para a criançada que se aplicou nos estudos, que obedeceu os pais e até para os marmanjos, senhores casados e a mulherada de todas as idades, o bom velhinho costuma distribuir em medidas generosas, o Espírito do Natal.
Esse sentimento que atinge o seu ápice nesse período, é elemento fomentador do riso fácil, da alegria incontida de rever velhos amigos, de um abraço apertado, de um aperto de mão, ou até mesmo de um simples bom dia, desejado com toda a pureza que brota do fundo da alma.
Ainda que tudo o que foi acima escrito seja fruto da imaginação do cronista, uma vez que até provar o contrário, a passagem de Noel é apenas uma lenda escandinava adaptada para os trópicos; ainda que se esqueça a alegoria cinco minutos depois de passar os olhos por ela, o Espirito de Natal é algo real. Nessa época a humanidade se torna mais afável e gentil e os corações transbordam de carinho. Pena que o Natal dure tão pouco…
( * ) – Marcel Nogueira é jornalista formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e especializado em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Fundação Getúlio Vargas. Fundador do Jornal Hoje, em Parauapebas, atualmente ocupa o cargo de secretário municipal de esporte e lazer na Prefeitura de Parauapebas. Coluna originalmente publicada no jornal Hoje.
4 comentários em “O Espírito do Natal é real”
Desculpe. (presenteiam)
Marcel e Zé dudu sempre nos presenteia com boas crônicas, bons textos.
A lenda do Papai Noel serve até para isto. Inspirações para escritores, para compositores, para intérpretes etc…
Como são lindas as músicas e hinos de Natal. Ainda bem que nenhuma foi inventada com o refrão: Gaste, Gaste, Gaste.
Na Revista Época da semana passada, Walcyr Monteiro escreveu essa pérola:
Abaixo Papai Noel!
Por que os pais ainda reforçam essa mentira? Atrás dela, está uma palavra mágica: “Gaste!”
Acho que fui um menino burrinho. Durante anos, todo Natal, eu tentava ver Papai Noel. Minha casa não tinha chaminé. E minha mãe tinha um bazar que também vendia brinquedos. Mesmo abrindo o pacote, embrulhado com os papéis festivos que ela usava nas vendas, eu caía na história de Papai Noel. Todas as manhãs do dia 25, acordava surpreso.
– Mas não vi o Papai Noel.
– Ele passou assim que você dormiu, mas, como estava com pressa para entregar outros presentes, não pôde esperar você acordar – dizia mamãe.
Pacientemente, eu aguardava o ano seguinte. Havia um motivo ambicioso para tanto fervor. Queria ganhar um cavalo branco, de corrida. Minha mãe sempre explicava a falha.
– Papai Noel disse que não tinha espaço para o cavalo aqui em casa. O ano que vem ele dará um jeito.
Foi decepcionante descobrir que Papai Noel não existia. A história ficou tão engasgada que um dos meus primeiros livros infantis, Meu encontro com Papai Noel, fala de um menino que vê o velhinho de barbas brancas no shopping, o segue até sua casa e descobre que é um homem comum e pobre. Ah, sim, o menino quer um cavalo de corrida…
Penso: por que os pais ainda inventam, reforçam essa mentira? Não sou um radical do politicamente correto que quer proibir tudo. Mas os shoppings já estão lotados de Papais Noéis. Há profissionais especializados, que engordam o ano inteiro para ganhar uma grana recebendo as crianças nos shoppings, ouvir seus pedidos e fazer “ho ho ho”. Devem derreter dentro daquela roupa vermelha. É tenso ser Papai Noel. Algum dia um Papai Noel mais nervoso dará uns safanões numa criancinha insistente.
Sua lenda vem do século IV, quando um bispo turco, São Nicolau Taumaturgo, botava, anonimamente, saquinhos com moedas nas chaminés dos mais necessitados. Bem, nem tão anonimamente assim, já que todo mundo ficou sabendo e foi canonizado. Papai Noel também é chamado de São Nicolau. Mora, para alguns, no Polo Norte. Para outros, na Lapônia, onde vive cercado de elfos mágicos, que trabalham sem ganhar hora extra, nem ter direito a férias ou décimo terceiro salário. Hoje, fabricam até videogames! Sua imagem atual foi criada por Thomas Nest, numa ilustração da revista Harper’s Weekly, que só se popularizou ao ser usada numa campanha da Coca-Cola, em 1931.
Particularmente, fico irritado ao entrar num shopping e ver Papais Noéis com um sorriso eterno. Por trás de toda essa festa há, sim, uma palavra mágica: “gaste”, “gaste”, “gaste”. Mágica para os donos das lojas, claro. É terrível as crianças pedirem presentes que não podem ter, como meu cavalo de corrida. O realmente mais terrível é ter passado esses anos todos com a consciência de que Papai Noel não existe e se tornou só uma invenção lucrativa do Natal. Eu adoraria que existisse! Faço de tudo para tornar a lenda real. Explico aos amigos e à família que voltei a acreditar em Papai Noel. Ainda não me levam a sério. Qualquer hora dessas, envio as cartinhas diretamente às minhas sobrinhas. Ou se comovem, ou me internam. O mundo acha lindo uma criança acreditar em Papai Noel. Mas é cruel quando um adulto insiste em acreditar que vai achar um presente na chaminé.
Já que a lenda persiste, só resta fazer alguma coisa. Todos os anos, os correios recebem milhares de cartas de crianças pedindo presentes. A gente vai lá, escolhe os pedidos adequados ao bolso. Compra e envia anonimamente. Muitas crianças ficam sem presente, porque extrapolam nos pedidos. Outras ganham, sim, uma surpresa de Natal. Nos últimos anos, tenho escolhido algumas cartinhas. É um sentimento agradável saber que uma criança desconhecida passará o Natal feliz, com um brinquedo que não poderia ganhar da família. Talvez esse sentimento seja o verdadeiro espírito natalino. Também, sempre me dou de presente uma cesta de Natal, repleta de gulodices. Já para amenizar o regime que farei o ano que vem, quem sabe? Já que Papai Noel não vem, eu mesmo me presenteio. Mas não nego, também ganho bons presentes.
Insisto: abaixo Papai Noel! Qual seu sentido na formação de uma criança, na relação com o mundo? Sonhar é bom, sempre. Mas esse é um sonho cruel. Não entendo insistir numa história, para depois contar que era mentira. Descobrir que Papai Noel não existe costuma ser o primeiro ritual infantil para a entrada no mundo adulto. A primeira dor, a perda de alguém que a criança ama, para então saber simplesmente que nunca existiu.
Da mesma maneira que todo mundo acredita em Deus,Jesus, Santos, Anjos, Espíritos, duendes, fantasmas, etc. é a mesma crença…