O povo elegeu: Edmilson em Belém e Nélio em Santarém

Resultado da apuração foi divulgado em menos de uma hora após o encerramento da votação

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Brasília – Numa eleição tranquila, com tempo recorde de apuração, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), anunciou o resultado da apuração no Pará pouco depois das 18h45. Houve 2º turno em Belém e Santarém. Edmilson Rodrigues, foi eleito prefeito de Belém com 390.723 votos válidos (51,76%), sagrando-se o único candidato do PSOL no país a vencer a disputa por uma prefeitura. Enquanto que, em Santarém, o atual prefeito, Nélio Aguiar, obteve a reeleição com 92.732 votos válidos (59,22%).

Derrotado por uma pequena margem de votos, o candidato delegado federal Eguchi (Patriotas) obteve surpreendentes 364.095 votos válidos (48,24%). O candidato, novidade no meio político, chegou à disputa do 2º turno derrotando tradicionais nomes da política paraenses, e vários deles com mandatos eletivos.

A ex-prefeita de Santarém, Maria do Carmo Martins, obteve 63.869 votos (40,78%) e era a maior aposta de vitória do PT do Pará nessas eleições, mas, como há anos vem acontecendo, os institutos de pesquisa com atuação nacional erraram mais uma vez nas previsões do resultado no 1º e 2º turnos na maior cidade do Oeste do Pará e 3º maior colégio eleitoral do estado; não se sabe se por incompetência ou má fé.

No 2º turno em Belém, um desses institutos apontou um erro de 7%, portanto, fora da margem de erro de sua própria pesquisa.
Sobre o fato, a procuradoria eleitoral do Pará não se manifestou até o momento sobre a atuação das empresas que realizam as pesquisas políticas registradas.

Campanha

Com a surpresa do resultado do 1º turno em Belém, o sinal de alerta da campanha do líder da corrida, Edmilson Rodrigues, foi obrigado a reavaliar a estratégia de campanha. O candidato não participou de um debate na internet promovido por jornalista independentes, temendo ver revelado os seus problemas com processos e uma condenação judiciais em 1ª instância que se arrasta há anos (processo número 0011179-85.2009.4.01.3900) em uma Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa.

Edmilson após votar

O agora prefeito eleito Edmilson Rodrigues já foi condenado em primeira instância pela 1ª Vara Federal do Pará. Se julgado e condenado, perde os direitos eleitorais por oito anos, além de ter que pagar multa de mais de R$ 360 mil com sequestro de bens equivalentes ao valor da condenação corrigida.

Há duas vertentes nos meios jurídicos sobre os efeitos condenatórios dessa ação. A primeira diz que mesmo condenado por colegiado em segunda instância, o prefeito eleito não teria os seus direitos políticos cassados por incorrer nos efeitos que determinam a Lei Complementar nº. 135 de 2010, mais conhecida como Lei da Ficha Limpa, legislação que foi emendada à Lei das Condições de Inelegibilidade ou Lei Complementar nº. 64 de 1990, visto que teria o direito de recorrer até o trânsito em julgado da matéria. “Uma liminar em Brasília o manteria no cargo de prefeito”, diz o advogado consultado pela reportagem.

Outra vertente, diz que caso seja condenado em segunda instância, os efeitos da Lei da Ficha Limpa seriam imediatos, ele seria afastado, o cargo seria declarada vago, e a eleição seria anulada.

Mesmo derrotado nas urnas, o candidato delegado federal Eguchi declarou na noite de domingo (29), nas redes sociais que não desistirá de sua carreira política. “Estou à disposição da população e não vou desistir agora”, sobretudo após o resultado das eleições em Belém. O candidato derrotado chegou ao segundo turno após alcançar 23,06% (167.599) no 1º turno das eleições.

“Agora é o início e não o fim. Daqui para frente nós vamos sentar com a cabeça fria para ver quais os próximos passos, mas com certeza continuaremos nessa caminhada política”, garantiu.

Eguchi disse ainda que pode apoiar Edmilson Rodrigues “sem problema nenhum se ele tiver interesse em ajudar a população, melhorar a qualidade de vida”.

Ao se observar o resultado das urnas, a constatação que se conclui é que Belém está dividida pela metade em dois polos de pensamento: o dito progressista, com partidos de esquerda, e conservador, com “lobos solitários” que podem surpreender a tradicional política do estado com a maior população da Amazônia.

Santarém

Mal havia iniciado a campanha em Santarém o candidato Nélio Aguiar foi obrigado a suspender a rotina de visitas e reuniões com lideranças comunitárias.

Nélio Aguiar após votar

Um pouco antes da data do 1º turno (15 de novembro), Nélio testou positivo para Covid-19, foi internado em um hospital particular, teve o estado de saúde agravado, foi transferido para o Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), e estava prestes para ser transferido por UTI aérea para o Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, quando reagiu positivamente ao tratamento de oxigenoterapia e fisioterapia respiratória, e as poucos foi se recuperando, porém, sem autorização médica para continuar a campanha nas ruas.

Durante o período em que esteve internado, seu vice, José Maria Tapajós (PL) assumiu o comando da campanha nas ruas participando de caminhadas, reuniões com lideranças comunitárias e visitas a comunidades rurais.

Observadores da política local atribuem a interferência direta do governador Helder Barbalho (MDB) no resultado em Santarém. Segundo as fontes ouvidas pela reportagem do Blog do Zé Dudu, houve a liberação de verbas para a conclusão de quase todas as obras que estavam em andamento na cidade e na zona rural, de modo a criar uma expectativa de credibilidade das promessas de “fazer muito mais” que o candidato Nélio havia prometido aos eleitores.

Val-André Mutran – É correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília