Rede de farmácias americana anuncia a venda de kits que revelam a predisposição a doenças graves. Para muitos médicos, talvez seja melhor não saber
O laboratório americano Pathway Genomics anunciou na semana passada, em parceria com 6 000 farmácias da rede Walgreens espalhadas pelos Estados Unidos, a venda de estojos para testes caseiros de DNA feitos com uma amostra de saliva. Há dois anos esse tipo de teste pode ser comprado pela internet, mas pela primeira vez se divulga sua venda nas prateleiras, diretamente ao consumidor. A notícia causou alvoroço entre os médicos e provocou reação imediata da Food and Drug Administration (FDA), a agência que regula o setor farmacêutico nos Estados Unidos. O órgão conseguiu que as duas empresas suspendessem o início das vendas até que se chegue a um consenso sobre a necessidade ou não de regulamentação dos testes. A controvérsia se deve ao fato de que um deles, o Health Kit, informa a predisposição genética a diversos tipos de câncer, Alzheimer, diabetes, glaucoma, infarto do miocárdio, hipertensão e esclerose múltipla, entre outros males. Ele também mede a probabilidade de intolerância a determinados remédios. O outro teste cuja venda foi anunciada, chamado Ancestry Kit, rastreia os antecedentes genômicos em busca das origens étnicas do indivíduo.
Muitos médicos e cientistas avaliam que os conhecimentos acerca da própria saúde proporcionados pelo Health Kit podem trazer mais prejuízos do que benefícios, deflagrando um estado permanente de medo de que a doença se desenvolva. Ocorre que ter predisposição genética a determinada doença não significa que se vá desenvolvê-la. Sua incidência depende de outros fatores, como os hábitos e o estilo de vida. "Os resultados desses testes podem ser muito relativos. Lê-los sem nenhuma orientação médica é loucura, só vai deixar as pessoas paranóicas", diz a geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo, que também é colunista de VEJA on-line. "Uma mulher cujo teste revele que ela tem apenas 10% de probabilidade de desenvolver câncer de mama pode achar que não precisa mais se submeter a mamografias", completa Salmo Raskin, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica. Em última análise, fica a critério de cada um dispor desse tipo de conhecimento sobre seu DNA.
[ad code=2 align=center]