Onda de calor afeta principalmente os mais pobres, diz professor da Unifesspa

Falta de acesso a ventiladores e ar condicionados poderá ter consequência direta na saúde dessa parcela da população

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“Toda crise ambiental vai potencializar desigualdades sociais”. A afirmação é do professor Abraão Levi dos Santos Mascarenhas, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). Segundo ele, isso acontece porque os processos de proteção (como o uso de ar condicionado, umidificador e ventilador) estão associados a uma demanda por tecnologia e “não são todos que terão capacidade de se proteger dessas intempéries, por isso que a gente chama de crise climática, pois afeta os sistemas climáticos, mas têm um rebatimento muito forte com o social”.

Doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP), Levi explica que a onda de calor que vem sendo propalada abre espaço para o Estado e a sociedade pensarem em políticas de inclusão.

“Não são todos que terão acesso a essas tecnologias que garantem processo de aclimatação, porque isso é pensado muito mais de forma individual do que de maneira coletiva. No individual, já resolvemos, colocamos placa solar para diminuir o custo dessa aclimatação, mas e as outras pessoas?”, questiona.

O professor alerta ainda que, como as pessoas de baixa condição financeira vão ser afetadas de forma muito mais séria, isso pode inclusive acarretar problemas de saúde pública. “Os nossos sistemas de saúde pública não estão preparados para ondas de calor mais recorrentes”, enfatiza.

TAMPA PLÁSTICA

Para falar sobre o que está acontecendo no sul e sudeste do Pará em relação às ondas de calor, ele explica que existe uma cúpula de ar quente sobre a região, uma espécie de tampa plástica sobre esse recorte geográfico. Esse efeito foi provocado por diversos fatores, tais como processo de urbanização, queimadas, retirada de vegetação.

“Tudo isso influencia na diminuição de umidade que poderia amenizar [o calor]. Sem essa fonte de amenidade, nós teremos um aumento de temperatura muito mais sensível, podemos chegar a sensações térmicas de 40 a 41ºC,” explica o professor.