As medidas mais rígidas de distanciamento social e os decretos que norteiam a suspensão de atividades não essenciais, em razão da pandemia do novo coronavírus, estão trazendo desemprego às duas maiores praças financeiras do sudeste do Pará. Marabá e Parauapebas bateram recorde de pedidos de seguro desemprego nos meses de março e abril, conforme dados inéditos levantados pelo Blog do Zé Dudu junto ao Ministério da Economia. E a crise no mercado de trabalho em todo o país só está no início, acompanhando a escalada da Covid-19.
Como, por causa da pandemia, o Ministério da Economia não liberou dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) dos meses de janeiro, fevereiro, março e abril deste ano, o Blog resolveu buscar uma fonte alternativa, de periodicidade mensal, para rastrear o desemprego na região. A fonte escolhida é o próprio Ministério da Economia, mas o caminho, em vez de ser o cadastro de movimento de trabalhadores, são os pedidos de seguro-desemprego.
O Blog mapeou os seis municípios mais economicamente dinâmicos do sudeste do Pará e constatou que em quatro deles o número de pedidos de seguro-desemprego disparou em relação ao mesmo período do ano passado. Foram analisados os meses de março, quando a pandemia iniciou no Pará, e abril, o mais recente com dados completos.
Os números são estarrecedores, principalmente para Marabá e Parauapebas, que respondem pelo maior volume de empregos com carteira assinada. Em março e abril, 1.559 trabalhadores deram entrada no seguro-desemprego em Parauapebas e 1.516 em Marabá. Houve crescimento de 12,24% em Parauapebas ante os 1.389 pedidos do ano passado e de 15,2% em Marabá ante os 1.316 de 2019.
Pior momento da história
Pode não parecer algo substancial, mas é necessário ter claro o fato de que, mesmo se no ano passado o número fosse maior que neste ano, em 2019 não houve pandemia e a movimentação de trabalhadores (demissões e contratações) estava ativa. Agora, o cenário é outro. A paralisação de atividades não essenciais sacrificou em torno de 200 postos de trabalho a mais nesses municípios, em março e abril, e não houve reposição no mercado, já que as empresas estão em contenção máxima de custos para sobreviverem em meio à crise de saúde pública. É o pior momento para ambos os municípios na base de comparação anual.
Março foi o pior mês para Marabá, quando 777 trabalhadores se viram obrigados a recorrer ao seguro-desemprego, 19,35% acima do registrado no mesmo mês do ano passado. Já abril foi terrível para Parauapebas, que totalizou 739 pedidos, 14,4% a mais na comparação com abril de 2019. E diferentemente de Marabá, que estancou a crise em abril, a tendência em Parauapebas é de aumento do desemprego nos próximos meses, enquanto a pandemia perdurar, sobretudo porque parte de sua mão de obra formal estava alocada em atividades de curta duração, como construção civil.
Na atual marcha, Parauapebas pode ter facilmente 8.500 novos desempregados se a pandemia se arrastar pelo segundo semestre, o que seria uma tragédia econômica sem precedentes para setores como comércio e serviços, que sobrevivem da massa salarial e do consumo das famílias. Isso depois de a capital do minério ter encerrado o ano passado entre os dez municípios brasileiros que mais abriram vagas com carteira assinada.
Nem todo mundo vai mal
Além de Marabá e Parauapebas, também afundaram os municípios de Canaã dos Carajás, com aumento de 4,67% na taxa de pedidos de seguro-desemprego, e Tucuruí, que, entre todos os principais municípios da região, apresenta a taxa mais agressiva, com crescimento de 21,44% nos pedidos de seguro desemprego.
Só este ano, em Tucuruí, o total chegou a 130 em abril ante 100 no mesmo mês do ano passado. Canaã, por seu turno, viu disparar os pedidos em 37,7% em março, quando foram processados 168 pedidos de seguro-desemprego ante 122 em março de 2019. A Terra Prometida, entretanto, freou o baque em abril, já que nesse mês os pedidos caíram 18% na comparação com o ano passado, minimizando suas perdas no acumulado de dois meses.
E nem tudo são más notícias. Os municípios de Redenção e Paragominas, considerados dois dos mais organizados do interior do estado, estão sobrevivendo bem em meio à pandemia da Covid-19, ao menos no tocante à preservação de seus empregos. Em Redenção, por exemplo, o número de pedidos de seguro-desemprego caiu 21,7% em março e abril deste ano frente a 2019. O resultado é espetacular e mostra que, embora os tempos sejam adversos, a cadeia econômica local está adensada. O “normal” seria que aumentasse o desemprego.
Já em Paragominas, terceiro município mais robusto do sudeste do Pará em termos de volume de trabalhadores, houve queda de 6,74% nos pedidos. A redução se deve a um março excelente este ano, quando foram processados 18,2% menos seguros-desemprego frente ao ano passado. Por outro lado, em abril o número disparou 10%, o que pode indicar tendência de crescimento em maio e junho. Os desafios mais duros pela sobrevivência ainda estão por vir.