Brasília – Um vexame tecnológico marcou as prévias do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), no domingo (21), que definiria o nome da legenda para disputar as eleições presidenciais de 2022. O aplicativo criado para computar os votos dos filiados aptos a votar deu pane e obrigou o adiamento da eleição interna. Diante da confusão e sem um “Plano B” para contornar o problema, a legenda não definiu quando o processo será retomado. Três candidatos disputam a preferência dos militantes. João Doria, governador de São Paulo; Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul e Arthur Virgílio Neto, ex-prefeito de Manaus (AM).
Segundo as regras estabelecidas para a prévia, quatro grupos votantes exerceriam o direito de escolha de um dos três candidatos em disputa. No primeiro grupo estão os 39.737 filiados do partido, que poderiam votar por meio de um aplicativo próprio da sigla. No segundo grupo estão os 491 prefeitos e 396 vice-prefeitos, que poderiam votar diretamente no aplicativo ou na urna eletrônica instalada em Brasília, no centro de convenções alugado para o evento. O terceiro grupo era composto de 3.949 vereadores e 72 deputados estaduais.
O primeiro subgrupo pode votar apenas pelo aplicativo, enquanto o outro poderia votar na urna. O quarto e último grupo era formado por 52 políticos que poderiam votar pelos dois formatos disponíveis. Alguns deles são os próprios governadores do partido, além de senadores e ex-presidentes. Caso ninguém consiga a maioria, haverá um segundo turno no dia 28 deste mês com os dois mais bem colocados nas prévias.
Apenas 8% dos votos foram computados pelo aplicativo criado para o certame. “A ferramenta deu pane, travou e paralisou o processo, devido o grande número de acessos simultâneos. Mas, os votos estão preservados e seguros”, disse um técnico ligado à empresa contratada para o serviço.
No cenário atual, Doria diz que ganha com folga. Já Eduardo Leite afirma que a disputa está equilibrada, enquanto que Arthur Virgílio Neto figura como fiel da balança na escolha. Ninguém, entretanto, arrisca uma certeza para o resultado das prévias.
As prévias no contexto nacional
As prévias do PSDB têm importância nacional no cenário político. O partido obteve em 2018 a 7ª eleição seguida para o governo de São Paulo — maior colégio eleitoral do país. Embora no plano nacional tenha fracassado nas quatro últimas eleições.
Em 2018, o seu candidato à presidência, ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin ficou apenas na 4ª colocação do pleito, embora tivesse o maior tempo nos horários da propaganda de rádio e televisão.
Antes, nos pleitos de 2008 e 2012, o PSDB foi derrotado pelo PT. Perdeu para Luis Inácio Lula da Silva, e depois, para Dilma Rousseff, em 2014.
No Pará
As prévias do PSDB definirão o cenário das eleições aos governos estaduais em 2022 em vários estados. No Pará, o partido chega em 2022 completamente rachado, um espelho do cenário nacional.
O presidente do PSDB no Pará, deputado federal Nilson Pinto, é eleitor do governador de São Paulo, João Doria. Mas, se o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, for o vencedor, Nilson Pinto pode ser expulso do partido com todos os militantes que o apoiam, incluso, toda a bancada tucana da Assembleia Legislativa.
O ex-governador Simão Jatene diz que foi traído por Nilson Pinto, se aliando ao governo de Helder Barbalho (MDB) e liderando um processo que rejeitou as contas do ex-governador o tornando inelegível. Jatene, mesmo sendo um nome natural para disputar o governo do Pará, precisa superar o impedimento jurídico caso queira disputar a 4ª eleição ao governo do Estado ou a única vaga ao Senado disponível ao Pará em 2022.
Desentendimentos até para retomar o processo
Após a suspensão das prévias do PSDB no domingo (21), João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) não se entendem para chegar num acordo sobre a nova data da votação.
No domingo à noite, numa reunião na sede do partido em Brasília, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, informou que a retomada da votação aconteceria assim que os problemas do aplicativo fossem corrigidos.
Doria e Arthur Virgílio, defendem a realização das prévias no próximo domingo (28), das 6h às 18h, pelo aplicativo (para filiados e vereadores) e pela urna eletrônica, em Brasília (para demais políticos com mandato, incluindo o alto clero).
Eduardo Leite, por sua vez, quer concluir a votação terça-feira (23) por considerar que adiar o processo para domingo significaria reabrir a campanha por busca de apoio entre os filiados.
Doria e Virgílio acusam o governador gaúcho de querer melar as prévias e criticaram o deputado federal Aécio Neves (MG), que declarou voto ao governador gaúcho.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.