Pará: na cidade do Bolsa Família, 78% votam em Dilma

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Com 1.283 famílias atendidas, o pequeno município de Santarém Novo tem o maior porcentual de beneficiados do Estado do Pará, cerca de 69% da população.

Por Mariana Zylberkan, de Santarém Novo (PA) –  Veja.com

Para chegar a Santarém Novo, município paraense de 6.390 habitantes localizado a 160 quilômetros da capital Belém, é preciso ajuda: sem nenhuma placa na PA-324, estrada que corta o nordeste do Estado, que indique a entrada da cidade, são os moradores das vizinhas Nova Timboteua e Peixe-Boi quem direcionam os forasteiros.  É no mapa do Bolsa Família, porém, que Santarém Novo não passa despercebida. Com 1.283 famílias atendidas, o pequeno município tem o maior porcentual de beneficiados do Pará, cerca de 69% da população. Em 2013, a União passou 2,4 milhões de reais em benefícios do programa ao Estado. A alta dependência da renda da população do programa federal é proporcional à votação de Dilma em Santarém Novo: a presidente obteve 78,19% dos votos entre 5.519 eleitores. No primeiro turno, o porcentual foi um pouco menor: 76,76%. “A quantidade de pessoas que recebe o Bolsa Família quase empatou com a votação para a Dilma no primeiro turno”, diz o prefeito Sei Ohaze, conhecido como Pedro Japonês.

Além do Bolsa Família, que concede uma média de 239,15 reais por mês às famílias, boa parcela da população é beneficiada do Bolsa Verde, programa sancionado por Dilma em setembro de 2011 que repassa 300 reais a cada trimestre a famílias de extrema pobreza que vivem em área de preservação ambiental. Santarém Novo tem quinze comunidades inseridas na reserva extrativista Chocoaré-Mato Grosso e 552 famílias estão cadastradas no programa. Parte dos que recebem o Bolsa Verde ainda vive em casas construídas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) por meio de programa de habitação em áreas extrativistas. As casas têm 42 metros quadrados e são entregues equipadas com fogão, geladeira, freezer, maquinário para moer o açaí e para torrar a farinha de mandioca.

A dona de casa Jucileia Teixeira Alves

A dona de casa Jucileia Teixeira Alves (Mariana Zylberkan/VEJA)

“Brincamos que a Dilma só não deu a mulher para a gente, mas o resto foi tudo”, diz o pedreiro Jorge dos Santos Assis, de 29 anos, que vive com a mulher Mara Rosário, de 25 anos, e dois filhos há sete anos em casa construída pelo Incra. A família recebe 260 reais por mês do Bolsa Família e votou na Dilma. “Ela nos ajudou muito, não tem como não votar. Ficamos na dúvida se o Aécio ganhasse iria manter o Bolsa Família”, diz Mara.

A realidade da família do pedreiro reflete a de todo o município: com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo, de 0,58, Santarém Novo vive da pesca, agricultura de subsistência e extrativismo do caranguejo. O IDH da cidade a coloca como prioritária para receber o benefício. Estima-se que ainda haja 150 pessoas na fila para receber verba do programa no município. Diante da escassez de recursos, é inegável a necessidade de ajuda do Estado. “O povo fala que sem Dilma iria acabar tudo, então eu não quis arriscar”, diz a dona de casa Jucileia Teixeira Alves, de 38 anos, que votou na presidente. Jucileia vive com mais sete pessoas em uma casa de pau a pique com sala e quarto na área rural de Santarém Novo e espera há cinco meses o início da construção da casa de alvenaria prometida pelo Incra. “Estamos esperando essa casa há muito tempo, melhor não arriscar”, disse ela, que vivia com 102 reais do Bolsa Família até os filhos saírem da escola há alguns meses.

O catador de caranguejo Isanil do Carmo, de 40 anos, também votou em Dilma com vistas à ajuda que recebe todo mês por meio do Bolsa Família. Pai solteiro de quatro filhos, Carmo recebe 120 reais e completa a renda vendendo caranguejo que caça no mangue. “O Bolsa Família ajuda, antes não chegava a passar fome, mas tinha que correr mais atrás do sustento. Hoje, não preciso correr tanto.”

Mesmo os moradores que deixaram de receber o benefício declararam seu voto a Dilma como uma espécie de gratidão pela ajuda. O vigilante Valdete Bernardo, de 51 anos, deixou de receber os 106 reais do programa, sacado mensalmente por cartão emitido em nome de sua mulher. A secretaria de assistência social lhe tirou o benefício porque ele é funcionário da prefeitura. “O dinheiro ajudava para comprar o material escolar da minha filha, sou grato a Dilma pela ajuda”, diz o vigilante, que estendeu em frente a sua casa uma placa com a foto da presidente e de Helder Barbalho (PMDB), candidato derrotado ao governo do Pará.

Além dos moradores, o próprio prefeito da cidade explicita a dependência do governo federal. Filiado ao PMDB, aliado de Dilma na esfera federal, o prefeito Pedro Japonês fez campanha ostensiva à candidata do PT. “A meta do segundo turno era chegar a 80% dos votos para ela”, disse.

Ele acredita que a presidente, reeleita, vai facilitar a resolução de problemas do município, como a troca de uma lancha escolar por dois ônibus. “Recebemos a lancha, mas as comunidades ribeirinhas tinham medo de andar nela, então eu construí uma estrada para liga-las até as escolas. Precisamos de ônibus escolares, mas a burocracia é muito grande e poderia piorar com a mudança de governo.”