Para celebrar centenário, expedição vai sair de Carolina-MA até Marabá em balsa de buriti

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Por Ulisses Pompeu – de Marabá

Há mais relação entre Marabá e Carolina-MA do que imagina nosso vão conhecimento do século XXI. No início da colonização de nossa região, as pessoas utilizavam muito o transporte fluvial, dentre eles existia uma embarcação incomum, que era a balsa de buriti. Famílias inteiras partiam de Carolina com seus pertences, galinhas, cães, porcos e desciam ao sabor das águas do Tocantins, impulsionados e  direcionados apenas por algumas varas até atingir o destino principal, que era Marabá.

Balsa de Buriti - Desenho de Domingos Nunes dá uma ideiaO trajeto durava em média 20 dias. Assim, muitas famílias chegaram a Marabá e aqui se estabeleceram. Alguns pracistas (pessoas que viajavam de uma cidade a outra para vender mercadorias) enchiam as balsas de produtos industrializados, além de porcos, galinhas e outros mantimentos e traziam para o mercado de Marabá, onde corria bastante dinheiro advindo dos castanhais e garimpos de diamantes.
Lamentavelmente, como há pouca documentação das balsas de buriti e nenhuma fotografia, a história ficou quase esquecida no tempo. Um dos poucos registros é um desenho a nanquim de Pedro Morbach intitulado “Balsa de Buriti”, desenhado em 1987.

A Fundação Casa da Cultura vai realizar uma expedição para refazer esse trajeto entre Carolina e Marabá em uma balsa de buriti, como era feito até a década de 1970. Segundo o presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá, biólogo Noé von Atzingen, os objetivos principais do projeto Balsa de Buriti são preservar a memória regional, despertar interesse pela história da região, valorizar esses heróis barqueiros que tanto fizeram por nossa região, documentar através de vídeos, fotografias e todos os meios de comunicação locais, regionais e nacionais, o percurso do projeto.

Segundo João da Cruz, antigo barqueiro de Marabá, para se construir uma balsa de buriti de 25 metros  são necessários 2.000 talos de buriti. Ela pode transportar até 15 pessoas, além de instrumentos de cozinha, materiais pessoais e alimentos.

Quatro pessoas são necessárias para conduzir a balsa com vogas e seriam necessários 20 dias de viagem de Carolina a Marabá. O melhor período para descer o rio é de janeiro a março. Noé explica que apesar da existência da Hidrelétrica de Estreito, a equipe vai construir a balsa em Carolina, descer até a barragem, fazer o transbordo e seguir a viagem até Marabá. A data de início da viagem ainda está em discussão, mas será anunciada nos próximos dias. Na balsa, estarão quatro barqueiros, um ajudante e outras dez pessoas, sendo três servidores da Fundação Casa da Cultura de Marabá, um historiador, dois jornalistas, 2 fotógrafos e dois representantes de TV.

Duas embarcações vão acompanhar a expedição, sendo uma lancha voadeira e um barco a motor com cozinha, que darão suporte em caso de emergência. A expedição vai passar pelas cidades Carolina, Babaçulândia-MA, Aguiarnópolis-TO, Estreito-MA, Tocantinópolis, Porto Franco, Itaguatins, Imperatriz,  Praia Norte-TO, Sampaio-TO, São Sebastião-TO, São João do Araguaia-PA e Marabá.

Noé explica que o custo total da expedição está orçado em R$17.300,00 e ele clama por patrocínio para poder executá-la. A balsa já foi encomendada e está sendo construída por pessoas experientes de Carolina. “Vamos atrás de empresários locais que possam nos ajudar a refazer esse trajeto histórico para nossa cidade. A intenção é chegar a Marabá o mais próximo possível do dia 5 de abril”, observa Noé.

4 comentários em “Para celebrar centenário, expedição vai sair de Carolina-MA até Marabá em balsa de buriti

  1. Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida Responder

    Caros Zé e Pompeu,
    nos anos 50, a balsa permaneceia como um dos principais meios de tranporte no Tocantins. O porto de Carolina – a metrópole regional – era movimentado com barcos a motor que faziam a rota Carolina – Marabá e mais ainda: Belém! Eu mesmo, quando criança, fiz, com minha mãe e minha irmã, uma viagem de barco. O dormitório tinha um sem número de redes cruzdas umas sobre as outras, o que otimizava o úso do espaço. Lembro-me de que paramos em Babaçulândia, em frente a Porto Franco. O trecho mais perigoso era a “cachoeira” (corredeira) de Santo Antônio, um pouco antes da cidade do mesmo nome (atual Itaguatins). Todos os passageiros e a tripulação saiam do barco e percorriam um longo trecho (quantos quilômetros?) a pé. No barco, apenas o maquinista e um piloto do local, o único que conhecia o “caminho das pedras”. Diziam que herdara esta profissão de seu pai e ganhava muito bem para conduzir o barco. No porto de Santo Antônio reembarcamos e seguimos viagem até Bela Vista, vilarejo de uma única rua situado em frente a Imperatriz. Voltamos de barco, o que demorou muito mais, pois era rio acima.
    Retomando o assunto das balsas: a família de um amigo meu e colega de grupo escolar, construir pacientemente a plataforma com o molhos de talos de buriti (flutual e são impermeáveis); sobre ela, uma casa com paredes de buriti e teto de piaçava, com direito a “terreno” em volta (talvez a única diferença em relação a esta bela gravura do Morbach. E, num belo dia, todos se foram para Marabá. Nunca mais os vi. E, no ano seguinte, em uma fazenda na região de Itacajá, ouvi um vaqueiro bem humorado observar que Deus poderia ter feito os rios com “um lado correndo num rumo e o outro lado no contrário”, pois assim os pobres poderiam ir e voltar de balsa.
    Tenho certeza de que muitas pessoas tiraram fotos de balsas e barcos que trafegavam pelo Tocantins. Talvez seja o caso de conversar com pessoas que viveram na região ao longo dos anos 40 e 50. Ou com seus descendentes.Penso, por exemplo, no jornalista Waldir Braga, de Carolina. Claro que existem outros ao longo deste rio belíssimo e tão maltratado. Abraços, Lúcio.

    • FCCM Responder

      Caro Lúcio,
      Tomarei a liberdade de publicar seu interessante relato no facebook da Fundação, pode ser?
      Att.,
      Thaynara de Faria
      FCCM

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