Brasília – Vivendo há 72 horas a agonia do colapso em seu sistema público e privado de Saúde, o Ministério da Saúde montou uma força-tarefa emergencial e começou, nesta sexta-feira (15), a transferência de pacientes internados em leitos clínicos de Manaus para outras 9 capitais brasileiras. As viagens para transporte dos infectados são feitas por via aérea. Foram cedidos, no total, 179 leitos. O governador Helder Barbalho (MDB) disponibilizou 30 leitos para acolher os pacientes em estado grave, mas que podem ser transferidos.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou que os leitos cedidos pelos Estados estão disponíveis aos amazonenses de forma imediata.
“Vários governadores já se colocaram à disposição para recepcionar pacientes com covid-19 em seus Estados e prontamente reservaram suas estruturas hospitalares para dar o apoio necessário para atender os pacientes do Amazonas”, disse Franco.
O secretário de Atenção Especializada à Saúde, Luiz Otávio Franco Duarte, declarou que, mesmo com a imediata disponibilidade de vários governadores em apoiar os amazonenses, “foi realizado um estudo pelo Ministério da Saúde para saber quais Estados poderiam receber pacientes sem sobrecarregar a assistência local”.
“São pacientes que ainda continuam dependentes do oxigênio, mas eles têm toda a segurança plena para serem aerotransportados”, disse Duarte. “O paciente do Amazonas que subir na aeronave terá toda a segurança e assistência, com cobertura até de assistentes psicossociais, para não haver falha nenhuma”.
Os pacientes que serão transportados serão definidos por critérios estabelecidos pela equipe médica. O transporte será feito em parceria com o Ministério da Defesa por duas aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira) com capacidade de 25 pacientes deitados em macas dentro de voos. A ação também pode usar a aviação civil.
“Em terra, cada destino ainda terá à sua disposição uma frota de ambulâncias exclusivas para levar os pacientes dos aeroportos aos hospitais”, afirmou o Ministério da Saúde, em nota.
A medida foi anunciada nessa quinta pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). Ele também decretou toque de recolher em Manaus. A regra autoriza a circulação no período de 19h às 6h somente para trabalhadores de serviços essenciais, como profissionais de saúde e jornalistas.
Eis a lista dos estados que se prontificaram para ajudar os amazonenses acometidos pela cepa mais grave da Covid-19:
40 em São Luís (MA);
30 em Belém (PA);
30 em Teresina (PI);
15 em João Pessoa (PB);
10 em Natal (RN)
20 em Goiânia (GO);
4 em Fortaleza (CE);
10 em Recife (PE);
20 no Distrito Federal.
As ações de fiscalização levaram ao fechamento de 8 postos de gasolina na madrugada desta sexta. Também resultaram na apreensão de mais 40 cilindros de oxigênio (20 cheios e 20 vazios) no porto do São Raimundo, zona sul da capital. O material foi periciado e levado a unidades de saúde.
Força-tarefa
Semelhante ao estado de guerra, o governo federal agiu rápido e armou um plano emergencial para evitar o avanço ainda maior do número de mortes na capital do Amazonas. Além de aviões da FAB, o de companhias aéreas estão sendo mobilizados para levar cilindros de oxigênio líquido e gasoso de diversas partes do país ao maior Estado do país, de difícil acesso, em plena floresta amazônica.
De acordo com a Saúde, tanto pequenas quanto médias empresas que envasam o gás pelo país informaram que incrementarão suas produções para suprir a demanda.
O governo enviou ao Amazonas esta semana 5 mil m³ (metros cúbicos) de oxigênio líquido para auxiliar no combate à covid-19 na região.
“Estamos trabalhando intensivamente na logística e parcerias para, em menor tempo possível, e com mais efetividade, sanar a crise sanitária pela qual passa o estado do Amazonas. Não estamos medindo esforços”, afirmou o ministro Eduardo Pazuello.
Eis outros itens disponibilizados pelo governo federal ao Amazonas:
125 mil máscaras N95;
247,8 mil máscaras cirúrgicas;
200 mil luvas;
180 monitores;
373 bombas de infusão;
6.900 equipos;
78 ventiladores pulmonares (40 exclusivos para o interior do Estado);
250 mil cápsulas de oseltamivir;
700 cilindros de oxigênio;
40,5 mil unidades de medicamentos para intubação.
Consumo recorde desabasteceu a rede hospitalar
O desabastecimento de oxigênio nas unidades de saúde de Manaus (AM) virou caso de polícia desde a quinta-feira (14). Agentes civis e militares apreenderam 33 cilindros (dos quais 26 estavam carregados com oxigênio) que eram transportados em um caminhão baú por um empresário no bairro Alvorada, região centro-oeste da capital amazonense. Ele pretendia esconder o produto para especular com o preço. Foi preso em flagrante pelos policiais.
Colapso
O Amazonas atravessa momento de intenso recrudescimento dos casos de covid-19. Foram confirmadas 3.816 novas infecções na quinta e 4 mil infectados num único dia, com 51 mortes por causa da doença notificadas nas 24 horas anteriores. Duas semanas atrás, em 31 de dezembro, esses números eram de 1.443 infectados e 24 mortes. O número atual de contágios é 17 vezes superior ao registrado no fim de novembro.
Esse aumento, de acordo com pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), pode estar relacionado à nova variante do coronavírus Sars-Cov-2 identificado no Estado e já detectado em turistas no Japão após visita ao Amazonas.
A alta no número de casos se reflete na taxa de ocupação dos hospitais de Manaus. Até quinta-feira (14), 90,48% dos leitos em UTI (unidade de terapia intensiva), reservados para pacientes com covid-19 estavam ocupados (média das redes pública e privada). Para leitos clínicos, a taxa de ocupação é de 93,19%. E hoje o número subiu para quase 95%. Aproximadamente 474 pacientes aguardam uma vaga de UTI em Manaus.
De acordo com o governo do Amazonas, o consumo de oxigênio no Estado mais que dobrou em relação ao início da pandemia, de março a maio. Eram 30 mil metros cúbicos por dia. Hoje, são mais de 76 mil metros cúbicos por dia sem do que a produção das empresas locais é de 23 mil metros cúbicos por dia.
A gestão de Wilson Lima fez requisição administrativa para obter o estoque ou produção de oxigênio de 17 indústrias do Polo Industrial de Manaus. O instrumento, previsto na Constituição, permite que o governo utilize bens privados (com pagamento posterior) diante de um perigo público iminente.
A Venezuela disse através de seu embaixador que autorizou o Estado a ir buscar oxigênio no país vizinho enquanto durar a emergência. O país é um dos maiores produtores de petróleo e gás natural do mundo.
Bebês prematuros
Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (15), o governador do estado de São Paulo, João Dória (PSDB), anunciou que irá receber 60 bebês prematuros a pedido do Governo do Amazonas, devido à falta de oxigênio na capital amazonense. O secretário de saúde paulista entrará em contato com Marcellus Campêlo ainda nesta tarde de hoje.
O pedido segundo o governador Dória foi durante a manhã, e ao ficar ciente do pedido que fosse estendido a outros estados brasileiros, se prontificou a receber todos os bebês de unidade de tratamento intensivo (UTI) neonatal que possam ser transferidos para a capital São Paulo.
“O governador do Amazonas pediu de outros Estados para receber 60 bebês prematuros que podem ficar sem oxigênio. Bebês gente. Não tenho mais palavras. Acabo de falar aqui com o nosso secretário da saúde, que o Estado de São Paulo atenderá integralmente esses 60 bebês. Gente isso é o fim do mundo. É o fim do mundo. Para quem é pai, para quem é mãe. Não tem oxigênio pra bebê”, finalizou.
O governador de São Paulo afirmou ainda que o secretário de saúde de seu estado, Jean Carlo Gorinchteyn, entrará em contato com o secretário da SES, Marcellus Campêlo, ainda nesta tarde de sexta-feira (15), para acertar os detalhes da transferência. A Secretaria de Saúde do Maranhão, também confirmou o pedido de transferências de bebês em UTI neonatal e que teriam capacidade para receber de cinco a dez bebês.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.