Que aos paraenses faltam saúde eficiente, educação de qualidade, saneamento básico, emprego formal e renda mensal que aguente o rojão da inflação, disso todos estão carecas de saber. Com indicadores sociais e de desenvolvimento humano capengas e com possibilidade de figurar, após os números do recenseamento demográfico de 2022, como o estado mais atrasado do país, o Pará tinha tudo para ser uma das Unidades da Federação mais desprezadas, mas não: é o contrário. O paraense — e o não paraense também — ama o Pará.
Quem atesta são os dados de um levantamento realizado por um pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgados esta semana. Nos cálculos do economista Daniel Duque, que atua no Instituto Brasileiro de Economia (Ibra), entidade vinculada à FGV, o Pará é o 5º estado do Brasil com mais gente feliz (ou menos gente infeliz) — e, aqui, cabe um lembrete vindo das ruas: gente feliz não enche o saco.
Entre os moradores da maior praça financeira da Região Norte, apenas 16,1% não estão satisfeitos em viver aqui. Na Bahia, estado com mais pessoas infelizes, 24,7% não se agradam em morar lá. Os únicos estados com mais pessoas proporcionalmente menos infelizes que o Pará são Santa Catarina (10%), Rio Grande do Sul (13%), Paraná (13,6%) e Mato Grosso (14,6%).
Dono de uma biodiversidade exuberante, como florestas intocadas, rios caudalosos, animais selvagens e praias exóticas, além de uma das melhores gastronomias do mundo, incrementada por delícias como açaí, cupuaçu, pato no tucupi e tacacá, sem contar um calor que, embora seja alvo de reclamação, só atrai cada vez mais simpatizantes ao estado, o Pará tem moradores menos infelizes que Goiás (17,2%), Minas Gerais (17,6%), São Paulo (18,6%) e Rio de Janeiro (22,2%). É mais um claro sinal de que o paraense acredita no estado onde vive, apesar das mazelas históricas a que foi condenado e quase irresolutas.
Matemática da felicidade
Para dimensionar o grau de bem-estar da população nos estados, o pesquisador utilizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que são amplamente divulgados pelo Blog do Zé Dudu sempre que anunciados pelo órgão de estatística. Números da inflação mensal e do desemprego trimestral foram o ponto de partida.
O Pará se destaca com uma das menores taxas de desocupação do país, embora lidere o indicador de informalidade. É que nem todo trabalhador paraense que está ocupado tem vínculo empregatício formal, com registro em carteira, salário mensal e direitos trabalhistas assegurados pela Constituição. A inflação estadual, apesar de alguns meses de pico, está dentro do nível brasileiro, posicionando-se, inclusive, abaixo do registrado em outras Unidades da Federação.
Se esses parâmetros fossem espelhados nos municípios, cidades como Belém, Ananindeua, Santarém, Marabá e Redenção certamente seriam fortes candidatas a rachar o topo, enquanto Parauapebas, Altamira, Vitória do Xingu e Canaã dos Carajás, assolados por índices de inflação galopantes, poderiam não se sair muito bem na percepção de seus moradores. Aluguéis, itens da cesta básica e combustíveis nessas localidades beiram o exorbitante.