O Pará cravou ontem, 1º de julho, 8.690.745 habitantes, cerca de 88 mil a mais em relação à estimativa do ano passado. São 4.356.651 homens e 4.334.094 mulheres, segundo projeção da população feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, mas os números só devem ser oficialmente divulgados, inclusive em nível de município, no final de agosto.
Todo ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) usa o tamanho da população estimada pelo IBGE, em nível de estados e municípios, para fins de partilha de recursos financeiros e políticas públicas. Pelos dados da estimativa da população do ano passado, o Brasil encerrou 2019 com 210.147.125 habitantes e o Pará, 8.602.865.
Pelos números do ano passado ainda hoje usados, estado possui 18 municípios com mais de 100 mil moradores, sendo Belém, com seus 1.492.745 habitantes, a maior concentração humana paraense e a segunda maior da Amazônia, sendo superada apenas por Manaus (AM), que possui 2.182.763 pessoas. Encostado a Belém, o município metropolitano de Ananindeua, com 530.598 habitantes, é o segundo mais populoso do Pará.
No interior, emergem quatro aglomerações humanas de primeira linha, com mais de 200 mil habitantes, sendo Santarém (304.589) e Marabá (279.349) as mais influentes e dinâmicas, do ponto de vista da oferta de infraestrutura político-administrativa e de serviços. Parauapebas (208.273) e Castanhal (200.793) também são destaque pela concentração econômica e de serviços especializados nas mesorregiões de que fazem parte.
Também exercem forte influência em seus entornos os municípios de Abaetetuba (157.698), Cametá (137.890), Bragança (127.686), Barcarena (124.680), Altamira (114.594), Tucuruí (113.659), Paragominas (113.245) e Itaituba (101.247).
População ‘superfaturada’
Há, no entanto, muita controvérsia sobre os números populacionais de municípios paraenses deduzidos pelo IBGE, que há nove anos vem estimando o número de habitantes de todo o país tendo por base os dois censos anteriores, realizados em 2010 e em 2000. O tão aguardado censo demográfico 2020, maior almanaque para implementação de políticas públicas, foi empurrado para o ano que vem em razão da pandemia do novo coronavírus. O Blog do Zé Dudu analisou que muitas das estimativas do instituto para o estado não condizem, nem de longe, com a realidade, seja por excesso de gente indicado para algumas localidade, seja pela falta de sensatez com relação a lugares que tiveram a população rebaixada.
No Pará, o IBGE sustenta que São Félix do Xingu tinha em 2019 128.481 habitantes e que seria, portanto, o 10º município mais populoso do estado. Na prática, porém, considerando-se o número de eleitores atual, de aproximadamente 41 mil, e uma linha de corte estadual de 65% de eleitores sobre a população total, São Félix teria não mais que 65 mil habitantes — metade do que a estimativa do órgão federal.
Dando desconto pelo fato de o município de São Félix ser muito extenso (são 84.212,9 quilômetros quadrados, 6º maior do Brasil) e em razão de muitos de seus habitantes nos confins da zona rural preferirem votar em cidades mais próximas, São Félix teria hoje, estourando, em torno de 80 mil habitantes, próximo à população atual do vizinho Redenção (84.787). Há pelo menos outros 19 municípios paraenses que, nas contas do Blog, podem não ser tudo aquilo que o IBGE diz que é, entre os quais Tailândia (106.339), Novo Repartimento (75.919), Santana do Araguaia (72.817) e Breu Branco (66.046) e Ipixuna do Pará (64.053). O parâmetro de corte para suposição é o eleitorado cadastrado biometricamente.
Mais eleitores que gente
Em Canaã dos Carajás, o dilema é contrário. Há muito mais habitantes que o estimado pelo IBGE. E é uma defasagem que, se comprovada em 2021, com o recenseamento geral da população, poderá ter causado um prejuízo de mais de R$ 100 milhões aos cofres locais em receitas como o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), já que, com população real maior que a estimada, a prefeitura deixou de receber fatias maiores do fundo.
Hoje, com quase 41 mil eleitores, a população razoável de Canaã seria de aproximadamente 65 mil habitantes. Mas, até o ano passado, o IBGE supunha 37.085 moradores, 28 mil a menos que o previsto para ser real e, inclusive, menor que o eleitorado. As estimativas do instituto não foram sensíveis em captar as transformações demográficas de que Canaã dos Carajás foi alvo no meio da década por conta da implantação do projeto de ferro S11D, da multinacional Vale, o maior empreendimento de mineração já erguido na história do planeta.
Esse problema — de menos habitantes que eleitores — não é exclusivo de Canaã. Há no Pará atualmente outros três municípios com mais votantes que habitantes, e o caso mais sério é o de Pau D’Arco, onde o eleitorado é 20% maior que o número de moradores. Em Mojuí dos Campos, o eleitorado supera em 15% a população total e em Peixe-Boi, 3%.
Além desses, outras 12 localidades podem ter sido prejudicadas por deduções equivocadas do IBGE, sendo que os casos mais gritantes são de Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, que foram sacudidos pelas transformações impostas pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, mas não tiveram números demográficos estatisticamente refletidos.