Brasília – O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) está finalizando os trâmites para a anunciar que o estado do Pará será membro formal, com aval federal, da nacionalmente famosa “Rota do Mel”.
Uma das últimas etapas do programa foi concluída após a participação, durante dos dois dias, em evento 100% on-line, da primeira Oficina de Planejamento Estratégico da Rota do Mel no estado do Pará. A ação é promovida por meio de parceria entre o MDR, responsável pelas Rotas de Integração no Brasil, e a Embrapa Amazônia Oriental. A Rota do Mel visa o desenvolvimento territorial e regional através do fortalecimento de arranjos produtivos locais associados à apicultura, meliponicultura e produtos das abelhas.
Participam do evento, atores da cadeia produtiva do mel do estado como produtores, associações, agroindústrias, além de instituições de fomento e pesquisa. Nesses dois dias, a oficina repassou como se dá a construção necessária para a criação de estratégias de ação no território, além do que precisa para a criação de um comitê gestor e uma carteira de projetos para o sistema produtivo regional da apicultura, meliponicultura e produtos derivados das abelhas.
No Pará, a região Sudeste foi escolhida pelo MDR para iniciar os trabalhos, compreendendo os municípios de: Canaã dos Carajás, Eldorado dos Carajás, Parauapebas, Curionópolis e adjacentes, conforme explicou Daniel Santiago, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e um dos responsáveis pela articulação no estado. Outro município foco da ação foi Pau D’arco, mais ao sul do estado.
Santiago explicou que a instalação da Rota do Mel é uma demanda do setor produtivo intermediada pela Embrapa junto ao MDR desde 2019. O pesquisador relembra que a demanda foi efetivada durante uma oficina realizada pelo projeto Agrobio, no qual reuniu, em Belém, representantes de toda a cadeia produtiva. O Agrobio integra o Projeto Integrado da Amazônia (PIA) com financiamento do Fundo Amazônia e operacionalização do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente.
Para o pesquisador é muito simbólico que a formalização dessa conquista ocorra exatamente quando se comemora a semana nacional do apicultor. “O Pará tem grande potencial de produção de mel com valor agregado, em especial, por ser produzido na Amazônia. A produção de mel tem ainda como grande diferencial ser plural ao promover o desenvolvimento econômico com sustentabilidade, pois favorece ao mesmo tempo, geração de renda, a proteção e fortalecimento das florestas e ainda potencializa diversas atividades agrícolas por meio da polinização”, defende o Santiago.
Potencial da produção de mel no Pará
O Brasil é o 11º produtor mundial de mel com uma produção estimada em quase 46 mil toneladas em 2019 (FAO, 2019) e está entre os maiores exportadores do mundo, com produto muito apreciado pelo mercado internacional.
A produção paraense ainda é modesta e representa apenas 1% de toda a produção nacional. Dados do IBGE mostram que o estado produziu 670 mil kg desse produto em 2019, o que corresponde a 65% da produção de mel de toda a região Norte. A atividade é desenvolvida majoritariamente pela agricultura familiar e movimentou cerca R$ 9 milhões no estado, em 2019 (IBGE/PPM, 2019).
Ser produzido na Amazônia e ao mesmo tempo promover serviços ambientais potencializa a agregação de valor e diferencia o mel e derivados produzidos no Pará, deixando-os mais competitivos. É o que aposta o produtor Luiz Pereira Rodrigues, presidente da Associação de Apicultores de Canaã dos Carajás, um dos municípios incluídos nesta primeira etapa da Rota do Mel.
Para o produtor, a implantação da Rota do Mel vai promover a profissionalização da cadeia e principalmente, a integração dos produtores da região, para juntos, buscarem novos mercados e produtos e com isso, impulsionar a economia local. “Temos um pasto apícula que garante caraterísticas diferenciadas do mel produzido na região e, com a chegada da Rota do Mel, teremos oportunidade de melhorar nossa produção e mostrar todo potencial do mel feito nessa parte da Amazônia para o mundo”, enfatiza.
Rotas de Integração Nacional
As Rotas são redes de arranjos produtivos locais associadas a cadeias produtivas estratégicas, fomentadas pelo Ministério do Desenvolvimento Regional e parceiros, para promover a inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável das regiões brasileiras.
De acordo com o MDR as rotas promovem a coordenação de ações públicas e privadas em polos selecionados, mediante o compartilhamento de informações e o aproveitamento de sinergias coletivas a fim de propiciar a inovação, a diferenciação, a competitividade e a sustentabilidade dos empreendimentos associados. Todo esse movimento contribui de forma incisiva para a inclusão produtiva e o desenvolvimento regional.
Mas, para participar das Rotas de Integração, como a Rota do Mel, os estados e regiões precisam apresentar uma série de indicadores tanto de necessidade de desenvolvimento, quanto de capacidade de articulação, conforme explicou Samuel Menezes, coordenador da Rota do Mel junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional.
Menezes participou como coordenador da oficina de planejamento estratégico e explica que o Pará se habilitou à Rota por indicação da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) que procurou pelo MDR e sugeriu parceria com a Embrapa para a implementação de um polo no estado do Pará. “Iniciamos os contatos e os estudos apresentados pela Embrapa que atenderam aos critérios do MDR”, informou. O coordenador da Rota do Mel explicou ainda que a região de Carajás, do Sudeste do estado, foi escolhida por ter potencial na apicultura e a presença de várias instituições parceiras.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.