Mesmo argolado, o paraense tem características compulsivas na hora de comprar, e não consegue ficar muito tempo sem fazer dívidas. Com mais de 60% de sua população endividada – segundo dados da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio-PA), relativos ao primeiro quadrimestre deste ano – o Pará está entre os 11 estados brasileiros que mais tiveram cheques devolvidos de janeiro à abril deste ano.
O ranking liderado pelo Amapá, onde 10,97% dos cheques eram sem fundos, aponta que, no Pará, 4,07% desta modalidade de pagamento não puderam ser debitados por insuficiência de saldo. Os índices da Fecomércio-PA mostram que o volume de pessoas que compram sem poder pagar é cada vez maior no Estado. Ainda que a receita esteja no vermelho, segundo avalia a psicóloga Vivian Cabral, o paraense não abre mão de fazer novas despesas. Conforme explica Cabral, em alguns casos, o endividamento excessivo pode ser resultante de um distúrbio psiquiátrico. No entanto, nem sempre a obsessão pelos gastos é diagnosticada como doença.
Os números mostram que mais da metade dos paraenses endividados são mulheres. Para Vivian Cabral, entre as justificativas para tal aptidão está a facilidade de crédito à qual os brasileiros estão submetidos. – A ausência de obstáculos na hora de fechar um crediário está sendo determinante para aumentar a sede de consumo. Além disso, o salário mínimo aumentou – e desta forma algumas parcelas da sociedade subiram de classe nos últimos anos, graças à melhoria da renda – , explica.
A psicóloga destaca que o problema está nas consequências, ou na ausência da percepção do futuro. – Muita gente não consegue imaginar os efeitos de uma compra desenfreada. Com isso, acaba comprando por impulso, se apoiando na forma de pagar -, pressupõe. Cabral ensina que, se a vontade de comprar excede todos os limites, inclusive tornando as despesas superiores às receitas, o caso deve ser tratado como doença. O Transtorno Obsessivo Compulsivo é uma doença a qual precisamos atentar para algumas características. Quando se compra mais do que se pode pagar; além do que se precisa; ou mesmo sabendo que o bem adquirido não cabe no orçamento, é preciso procurar um especialista -, orienta.
A psicóloga revela que, embora não existam estudos específicos sobre o assunto, o número de pacientes é cada vez maior nas clínicas especializadas.
Vilão – O crediário atrativo e a falta de planejamento são os grandes vilões dos consumidores paraenses, segundo aponta o presidente do Sindicato dos Economistas do Pará (Sindecon-PA), Oberdan Pinheiro. – Atualmente existe uma compulsão do consumo, devido à enorme facilidade de crédito. Porém, se não houver contenção, o resultado será o fim da boa relação com o comércio, e consequente perda do crédito. No Pará, isso está cada vez mais comum, pois, segundo um estudo, de cada 10 paraenses, sete estão no vermelho- , garante.
Pinheiro assegura que as mulheres encabeçam a lista de endividados, principalmente em função da grande oferta de mercado. – Isso é perceptível através das induções do comércio, que fazem propagandas visuais apropriadas exclusivamente para aguçar o ímpeto de comprar das mulheres. Com isso elas se tornam mais suscetíveis -, afirma. Com a chegada do Dia dos Namorados, o economista concede algumas dicas de como escolher o presente sem prejudicar as finanças, seja para as pessoas que estão no vermelho; que ainda estão no limite de suas despesas ou até mesmo para aquelas que estão com as contas em dia, mas que podem economizar ainda mais. Quem está no vermelho deve tomar alguns cuidados para não afundar ainda mais. Um passeio aos pontos turísticos, ou um simples cartão com dizeres românticos são suficientes, tanto no caso dos namorados como das namoradas – , sugere.
Conforme avalia Pinheiro, o orçamento familiar precisa estar sempre à frente de tudo. – Só assim podemos ter o controle das despesas, gastamos pouco e vivemos felizes -, recomenda.
Fonte: O Liberal
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