Está em Parauapebas Maria Augusta Silva dos Anjos, 40. Ela viajou de São Paulo para Parauapebas, no último fim de semana para comemorar, com antecedência, duas datas de aniversário: dos 40 anos de vida e do primeiro ano da cirurgia que lhe permitiu viver mais.
Para quem não se lembra, Maria Augusta recebeu, em 20 de outubro de 2008, o coração da jovem Eloá Cristina Pimentel, 15, morta pelo ex-namorado Lindemberg Alves Fernandes, 23, três dias antes, no fim trágico do mais longo cárcere privado do Estado de São Paulo .
Outras quatro pessoas foram beneficiadas com o gesto nobre da família de Eloá. Foi a mãe da garota, Ana Cristina Pimentel da Silva, 43, quem autorizou a doação dos órgãos. Talvez por isso, Maria Augusta e Ana Cristina tenham desenvolvido um vínculo de amizade que dura até hoje. A paraense que recebeu o coração de Eloá estava na fila de espera pelo transplante havia dois anos, devido a um problema congênito.
"Ela está muito bem de saúde e na expectativa de marcar o casamento. Minha irmã já sofreu muito na vida. Desde pequena, ela tinha uma série de limitações por causa da doença", conta Messias dos Anjos, seu irmão.
O mecânico industrial Emerson Gentil Dardis, 26, já pensa em voltar ao trabalho, depois de quatro anos afastado por causa do tratamento de saúde a que foi submetido. Ele passou três anos fazendo sessões semanais de hemodiálise. Agora, diz que sua vida voltou ao normal, após o bem-sucedido transplante de rim e pâncreas. "Está tudo às mil maravilhas", resume.
Emerson lembra que teve um pressentimento quando a mãe de Eloá anunciou, na TV, que faria a doação dos órgãos da filha. "Estava com um amigo numa lanchonete, e ele disse que os órgãos que a mãe da Eloá doaria seriam meus. Eu respondi: ‘Bem que poderia mesmo, porque estou precisando”", recorda. Dez minutos depois, sua mãe telefonou dizendo para ele voltar rápido para casa, porque o hospital tinha ligado. "Meus amigos falam que vou ficar com jeitinho de mulher. Mas o importante é que estou bem", brinca.
A bacharela em Direito Lívia Amodio Novais, 29, ainda se recupera do transplante de córnea no olho esquerdo. A esperança faz com que ela tenha paciência no processo de cicatrização. O último ano foi de mudanças positivas na vida dela. Primeiro, foi a chegada do filho, após dois anos esperando pela adoção. Na sequência, ela recebeu a notícia que havia uma córnea no seu perfil. Ela recusou a primeira opção porque era de uma pessoa idosa. "Pensei: ‘Já que esperei tanto tempo, vou aguardar mais um pouco”. Nem acreditei quando recebi o outro chamado uma semana depois", afirma.
Os outros órgãos foram doados para um adolescente de 15 anos, que recebeu um rim, e uma jovem de 18, que ficou com os pulmões.
São notícias como estas que nos faz pensar em como Deus é justo e misericordioso. A perda de um ente querido é, na maioria das vezes, desesperador. Ana Cristina, a mãe da jovem Eloá, certamente deve se sentir mais confortada quando sente que a morte de sua filha, apesar de estupidamente irracional, garantiu uma vida melhor a tantas pessoas. Parabenizo aqui a caridosa mãe com a certeza que Deus minimizará sua perda.
Com informações do Diário do Grande ABC