De 2024 até esta sexta-feira (28), sete professores da rede pública de ensino de Parauapebas faleceram. Entre as causas, depressão e ataque cardíaco. As informações são do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública de Parauapebas (Sintepp), que participou da 1ª Conferência Municipal da Saúde do Trabalhador de Parauapebas realizada nesta sexta-feira e observou: nenhum dos professores vítimas de doenças relacionadas ao trabalho aparecem nos dados epidemiológicos da Secretaria Municipal da Saúde (Semsa) apresentados no evento.
Isso porque Parauapebas enfrenta um velho e sério problema: a subnotificação ou até mesmo a falta de notificação das doenças, agravos e eventos de saúde que acometem os trabalhadores atendidos pela rede pública de Saúde do município, principalmente no que diz respeito à saúde mental, cuja informação oficial é quase nula.
Os dados epidemiológicos apresentados na conferência mostram que em 2024 foram notificados apenas 15 trabalhadores com doenças relacionadas ao trabalho, o que não deixou de ser algum avanço para um município que nada notificou em 2020 e, em 2023, fez apenas três notificações.
Ainda de acordo com os dados, no ano passado houve 12 mortes relacionadas ao trabalho contra seis registradas em 2020. Dentre os óbitos, 40,4% foram por acidente de transporte, 23,1% por exposição à corrente elétrica e 15,4%, por quedas.
Já os acidentes relacionados ao trabalho somaram 787 em 2024 contra 85, em 2020. Os profissionais da Saúde aparecem como a segunda categoria a sofrer mais com os acidentes (23,1%). À frente, estão mecânicos e eletricistas, com 41,8% das notificações.
Sem notificação, doença fica invisível
Responsável pela apresentação dos dados, a especialista em Epidemiologia da Saúde do Trabalho, Joselene Aranha, da Semsa, afirmou que tem sido grande o trabalho da secretaria junto aos profissionais da Saúde para que façam a notificação completa de todos os pacientes atendidos pela rede.
Até porque uma portaria do Ministério da Saúde obriga a notificação compulsória, em todo o País, de 64 doenças, agravos e eventos de saúde pública. Portaria que foi alterada em 2024, com a inclusão de doenças relacionadas ao trabalho, como LER/Dort (esforço repetitivo), transtornos mentais e perda auditiva e vocal.
“No ano passado, estivemos em todos os estabelecimentos de Saúde do município para falar da notificação, e este ano já começamos com o Hospital Geral. Nós passamos dois dias treinando todos os trabalhadores do hospital, atingimos 180 trabalhadores, falando da notificação epidemiológica”, informou Joselene.
Para que os dados do paciente sejam registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), explica Joselene, é preciso que o profissional da Saúde preencha todos os campos. “E às vezes a notificação chega lá cheia de falhas. Não tem como eu contabilizar, registrar”, lamentou ela, até porque a falta de informação impede o governo de agir e intervir para proteger o trabalhador.
“O maior desafio hoje nessa questão da saúde do trabalhador está justamente na notificação. Isso acontece muito em Parauapebas em relação à saúde mental, que a gente vê que tem se agravado em nível nacional, mas infelizmente a subnotificação é muito grande aqui”, reconheceu Joselene Aranha.
O juiz federal Jônatas Andrade, palestrante na conferência, reforçou que a falta de notificação ou a subnotificação deixam as doenças invisíveis, dificultando o combate ao problema. “Para você ter um adequado tratamento, um prognóstico, é necessário que você tenha um diagnóstico. Então, o primeiro desafio para a saúde do trabalhador é a visibilidade, com o controle estrito dos agravos, o registro em todas as portas do sistema de saúde, do sistema de segurança, para termos uma exata dimensão do que está acontecendo e ter uma inteligência natural da leitura disso: a elaboração de diagnóstico preciso que possibilite a nossa atuação”, disse o magistrado.
Iniciativa do trabalhador
No caso de doenças, síndromes e transtornos mentais, Joselene Aranha orientou os trabalhadores a solicitarem a notificação, se a doença estiver relacionada ao trabalho, no momento em que procurarem o atendimento à Saúde. Eles podem também procurar a Vigilância em Saúde do Trabalhador, no prédio da Semsa, no momento adequado, para registrar a sua situação.
“Porque esse trabalhador não deve apenas tratar a doença. Ele pode ser readaptado no trabalho, mudar do ambiente que o estava adoecendo. Se a gente identifica que ele está adoecido, a gente pode intervir. A gente pode melhorar a qualidade de vida dele. Então, o primeiro passo é ele entender que aquele adoecimento foi causado pelo trabalho. E nós vamos fazer todas as orientações e a notificação desse trabalhador”, assegurou Joselene Aranha.
Texto e fotos: Hanny Amoras (Jornalista – MTb/1.294)
2 comentários em “Parauapebas desconhece realidade da saúde do trabalhador do município”
Ataque cardíaco é doença relacionada ao trabalho???
Cade os Técnicos em Segurança do Trabalho !