Depois das trapalhadas estatísticas do Ministério da Economia, com relação aos números da balança comercial brasileira, em que os dados dos municípios apareceram subnotificados, Parauapebas despontou no mês de novembro como lugar do país de onde mais se exportaram commodities. Em 30 dias, Parauapebas registrou transações de 619,37 milhões de dólares, muito mais que os 551,97 milhões de dólares registrados pelo Rio de Janeiro e os 531,84 milhões de dólares de São Paulo, 2º e 3º colocados no ranking do Governo Federal.
As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que também observou o avanço triunfal de Canaã dos Carajás, 4º de onde mais partiram commodities em novembro, com valor de 443,9 milhões de dólares. Canaã, não é surpresa, caminha firme e forte para em poucos anos ocupar o lugar de destaque na produção de commodities minerais atualmente pertencente a Parauapebas, de quem, aliás, Canaã dos Carajás foi gerado em 1994.
O principal produto que coloca os dois municípios paraenses no topo é, sem segredo, o minério de ferro. Em Parauapebas, no mês de novembro, foram produzidas 9,617 milhões de toneladas de minério de ferro nas operações da Serra Norte de Carajás, onde a mineradora multinacional Vale realiza a lavra da commodity em três minas e acelera para abrir novas frentes de exploração na próxima década. De janeiro a novembro deste ano, conforme levantou o Blog, a Vale extraiu 95,335 milhões de toneladas de minério de Parauapebas.
Já em Canaã, o mês de novembro rendeu 6,9 milhões de toneladas do produto. São, no acumulado do ano, 64,568 milhões de toneladas saídas da Serra Sul de Carajás e alcançadas três anos após a abertura da mina, no final de 2016. Para se ter ideia da rapidez e da grandiosidade a que se chega em Canaã, basta compará-la com Parauapebas, que demorou quase 20 anos, desde a abertura de sua primeira mina, para alcançar tonelagem igual.
Além de Parauapebas e Canaã dos Carajás, os municípios paraenses de Barcarena (23º, 143,63 milhões de dólares) e Marabá (27º, 135,27 milhões de dólares) também se destacam entre os grandes exportadores nacionais.
O drama de Curionópolis
Nem tudo são flores no reinado da mineração. O Blog do Zé Dudu observou entre os números da balança comercial algo que causa temor em Curionópolis: o sumiço do município da produção de minério de ferro. Na verdade, desde outubro, Curionópolis não produz uma grama sequer do principal produto de sua economia.
De junho para cá, a mineradora Vale, que é titular das operações na Serra Leste de Carajás, viu-se obrigada pelas circunstâncias a começar a paralisar gradativamente suas atividades. Acontece que ela deu entrada em um processo de expansão da capacidade de produção anual (que saltaria de 6 milhões para 10 milhões de toneladas), mas o licenciamento está parado na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) no aguardo do desfecho ambiental envolvendo cavernas de grande interesse biológico e espeleológico.
Diante do impasse e sem poder avançar um passo sequer na extração do minério, a produção veio tombando mensalmente de 370,1 mil toneladas em junho para 322,5 mil em julho. Depois, 270,1 mil em agosto e, finalmente, 53,9 mil em setembro. Outubro e novembro aparecem zerados. No meio do fogo cruzado de números, que na maioria das vezes passam despercebidos do cidadão comum, há um recado claro ao município: sem produção física de minério de ferro, sem royalties de mineração, taxas e impostos derivados.
A Prefeitura de Curionópolis depende, hoje, quase exclusivamente da Vale, assim como — guardadas as devidas proporções — Parauapebas e Canaã dos Carajás. O município não deixará de aparecer nas estatísticas de royalties da Agência Nacional de Mineração (ANM) porque outra empresa, a Avanco, opera em solo municipal extraindo minério de cobre. Mas nem de longe os royalties da Avanco se igualam aos pagos pela Vale. E sem esse recurso (que fecha 2019 em quase R$ 23 milhões), entre outros, Curionópolis tende a paralisar.
O Blog calcula que, sem um ano de atividades da Vale, a Prefeitura de Curionópolis perde 40% de receita, tendo em vista que a Vale responde por 75% da arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do Imposto Sobre Serviços (ISS). É a dependência da mineração cobrando seu preço.