Foram pelo menos sete dispensas de licitação para cobrir gastos “pequenos” do 35º Encontro da Mulher e três inexigibilidades para noites de shows. Tudo custou aproximadamente R$ 1,5 milhão, sem contar as despesas com uma estrutura de palco nunca vista e que, por sinal, está na mira da justiça. A dinheirama gasta em uma semana não paga a vergonha do ano: Parauapebas é a 5ª pior cidade brasileira para a mulher viver.

Quem acaba de dar a má notícia é a consultoria Tewá 225, que divulgou no último final de semana o “Ranking das Piores Cidades para Ser Mulher” (veja os detalhes da pesquisa aqui). O levantamento leva em conta dados do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC) e foca em indicadores do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 5, traçado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Taxa de feminicídio a cada 100 mil mulheres; desigualdade salarial por sexo; percentual de mulheres na câmara de vereadores; taxa de mulheres jovens de 15 a 24 anos que não estudam e nem trabalham; e diferença percentual entre homens e mulheres que não estudam e nem trabalham são os pontos-chave para entender as razões pelas quais Parauapebas, mesmo com muito dinheiro para gastar, não avança em desenvolvimento humano para suas cidadãs.

No ranking da consultoria, que estabelece uma escala de nota que vai de 0 a 100 a 319 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes analisados, Parauapebas tem score 19,23, à frente apenas de Macaé-RJ (18,78), Camaçari-BA (16,79), São Pedro da Aldeia-RJ (14,98) e Paranaguá-PR (12,7). É a primeira vez que Parauapebas figura em ranking de expressão nacional ao lado de cidades paraenses e fica na lanterna.

Como a cidade aparece

A presença de Parauapebas no “Ranking das Piores Cidades para Ser Mulher” não é muito distante do que se vê no dia a dia do município. De acordo com a consultoria Tewá, a Capital do Minério apresenta economia focada na indústria extrativa mineral, porém “com baixos indicadores de emprego e inclusão feminina”.

Em 2024, quando foi realizada a última estimativa de população oficial pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município contabilizava 150 mil habitantes do sexo feminino. Desse total, 100 mil são mulheres adultas, mas apenas 21.400 delas estavam no mercado formal de trabalho, contra 47.300 homens. Na prática de cada três trabalhadores parauapebenses, apenas uma é mulher.

Em termos de violência contra elas, particularmente o feminicídio, Parauapebas é uma das 50 cidades mais letais do Brasil. Em 2022, por exemplo, a Capital do Minério assistiu à violência sepultar 130 mulheres, um cenário estarrecedor.

E dinheiro não é questão para resolver esses problemas, mas falta gestão eficiente. Para este ano, a Prefeitura de Parauapebas reservou orçamento inicial de R$ 15,89 milhões para a Secretaria Municipal da Mulher (Semmu), incluindo-se nela a dotação do Fundo Municipal dos Direitos da Mulher (FMDM). A Semmu é comandada pela primeira-dama Beatriz Barbosa.

Achando pouco, o governo de Aurélio Goiano já esticou o orçamento da pasta para R$ 20,7 milhões em menos de três meses de mandato. Beatriz Ramos, por seu turno, já empenhou cerca de R$ 14,34 milhões em despesas em menos de 90 dias, absurdos 69% do total do orçamento anual da Semmu. Do jeito como as coisas caminham, não tardará para que Parauapebas, um dos municípios mais ricos do país, assuma a ponta como lugar nada favorável para as mulheres. E ainda vai ter show.