A Capital do Minério está dando para trás. E isso não é bom. O município, que ainda segue sendo quase sem forças o maior produtor de minério de ferro do Brasil, embarcou em 2024 o menor volume da commodity dos últimos oito anos e quase foi engolido por Canaã dos Carajás, onde a produção atingiu o segundo maior volume da história. As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu nesta sexta-feira (17).
Ao longo do ano passado, foram embarcados a partir de Parauapebas 82,55 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro, ao passo que a vizinha Canaã embarcou 80,21 milhões de toneladas. Essa é a menor distância entre os dois municípios desde que ambos começaram a ver em seus territórios a lavra de minério de ferro de alto teor.
Em 2016, a Capital do Minério alcançou recorde de extração, com 141,19 milhões de toneladas exportadas, em meio à crise na cotação internacional da commodity. Esse volume histórico foi, em verdade, uma espécie de “forçada de barra” da mineradora multinacional Vale, que só conseguiria fazer caixa retirando mais minério de Parauapebas, já que o preço da tonelada atingiu valores extremamente baixos.
Um pico de extração e embarque de minério de ferro, como visto em 2016, dificilmente se repetirá em Parauapebas por diversos fatores, entre os quais a própria exaustão das reservas atualmente conhecidas e em lavra. Mesmo as reservadas ainda não tocadas, mas com volume estimado, não são mais capazes de render tanto minério para carregamento em um ano, sob risco de esgotamento em não mais que seis anos.
EXPORTAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO DE PARAUAPEBAS (2016-2024)
em milhões de toneladas (Mt)
2024 — 82,55 Mt
2023 — 83,76 Mt
2022 — 87,42 Mt
2021 — 100,06 Mt
2020 — 101,18 Mt
2019 — 106,32 Mt
2018 — 127,12 Mt
2017 — 141,10 Mt
2016 — 141,19 Mt
Freada brusca, mas estratégica
A mineradora Vale, rainha da produção de minério de ferro no Ocidente, não é boba. Ela pisou no freio em Parauapebas para fazer crescer Canaã dos Carajás, que se tornou em 2024 o maior produtor de recursos minerais do país.
Com a operação da mina de S11D, na Terra Prometida, em 2017, a multinacional reduziu gradativamente a dependência de produção em Parauapebas, onde retirar minério de ferro tem custo-benefício muito maior. Em contrapartida, a Vale aumentou o passo em Canaã para compensar a freada em Parauapebas, de modo que hoje, somando-se a produção nos dois municípios, a empresa embarca ao estrangeiro 162,76 milhões de toneladas do melhor minério de ferro do globo — mais de 20 Mt acima do pico registrado em Parauapebas no ano de 2016.
Tudo é pensado estrategicamente, pois a empresa sabe que despejar muitas “carradas” de minério na praça internacional é tiro no pé, haja vista a China, maior consumidora mundial do produto brasileiro, estar perdendo a capacidade de adquiri-lo como outrora. Além disso, o minério brasileiro enfrenta concorrência com minério do tipo “gambiarra” e de qualidade duvidosa, mas de países localizados mais próximos da China que o Brasil.
Cada vez menos minério implica, por outro lado, menos arrecadação derivada do processo de extração e da movimentação de mercadorias e serviços envolvida nas operações. Na prática, retraem-se para os cofres do município receitas como a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Para o médio prazo, a situação de Parauapebas é altamente delicada. Em meio a 40 anos de atividade mineradora em solo municipal, as gestões que por ela passaram não foram capazes de pensar a Capital do Minério para sobreviver quando o minério de ferro, recurso finito, exaurir. E a hora fatal se aproxima.