Entre todas as possíveis causas que podem levar uma pessoa a ser internada ou mesmo à morte, nenhuma cresceu tanto em Parauapebas nos primeiros seis meses de 2024 quanto os acidentes envolvendo motocicletas. Em nenhum lugar outro deste imenso Brasil, com seus 5.570 municípios, o número de acidentes quase triplicou como na Capital do Minério em apenas um ano, mesmo a frota total não tendo quase triplicado. Parauapebas está a cada dia mais letal.

A constatação do Blog do Zé Dudu tem por base dados liberados pelo Ministério da Saúde na semana passada sobre morbidade hospitalar e segundo os quais atualmente é mais provável um paciente chegar à rede pública de saúde chorando e gritando após um acidente de moto traumático, que exige internação, que se hospitalizar por alguma virose, gripe ou síndrome respiratória. É um topo de estatística que lugar algum gostaria de carregar nas costas.

De janeiro a junho de 2023, Parauapebas registrou 117 vítimas internadas apenas em estabelecimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência de acidentes com moto, ocupando a 88ª colocação nacional nesse tipo de morbidade hospitalar. De janeiro a junho de 2024, o panorama foi estarrecedor: 448 acidentados pelas mesmas razões.

Além da subida para a 16ª colocação em internação de vítimas de acidentes, a Capital do Minério “celebra” um salto de 283% no número de tragédias sobre duas rodas em apenas um ano, algo nem de longe experimentado por qualquer cidade brasileira. A situação é tão drástica que, a se manter nessa velocidade, Parauapebas poderá superar já no começo de 2025 a cidade do Rio de Janeiro — uma metrópole global com 6,7 milhões de habitantes e uma das 20 mais populosas do mundo — em número de vítimas.

75 mil motos em circulação

Dos 675 acidentes de transporte ocorridos em Parauapebas no primeiro semestre deste ano e que mandaram vítimas diretamente para o hospital em estado grave, 66% envolveram pessoas que estavam sobre motocicletas, veículos que somam 75 mil em circulação hoje. Para se ter ideia, a Capital do Minério computou mais pacientes graves de acidentes com moto do que todas os 309 cidadãos hospitalizados, por todos os tipos de acidente, na vizinha Marabá, município com o mesmo porte populacional de Parauapebas.

Este ano, pela primeira vez, o número de acidentes superou as causas tradicionais de internação, como as doenças do trato digestivo e as do aparelho respiratório. Nos primeiros seis meses de 2024, um entre nove pessoas que se internaram no SUS local foi vítima de colisão no cada vez mais caótico trânsito de Parauapebas.

Nas unidades de saúde, explodiu também o número de pessoas “esbagaçadas”, mas vivas e com graves fraturas expostas dos membros. Como um mesmo acidente pode ter várias vítimas, o número de pacientes com fraturas chegou a 747 na primeira metade deste ano, mais que o triplo das 230 ocorrências no mesmo período de 2023.

São números assustadores embalados pela imprudência no trânsito, bem como pelo alto número de pessoas não habilitadas ou com veículos em situação irregular trafegando por ruas e avenidas da cidade em alta velocidade. Condutores cada vez mais apressados, trabalhando por aplicativos, também elevam ainda mais as probabilidades de um novo sinistro a cada nove horas e 42 minutos, lamentável média do primeiro semestre.

O Blog do Zé Dudu já havia abordado, em julho, a “pandemia” de acidentes de moto em Parauapebas (relembre aqui), analisando dados dos primeiros quatro meses do ano e advertindo que, se nada fosse feito, o município poderia encerrar 2024 computando 750 vítimas da imprudência no trânsito. Com os novos dados do Ministério da Saúde, a projeção piorou, e a expectativa pula para cerca de 900 acidentes graves — e muito deles fatais — até 31 de dezembro. É um panorama estarrecedor.