Parauapebas cresceu em tamanho, em recursos, na educação fundamental, na qualidade de vida, na população. Mas, terá crescido no calor humano, nas amizades?
Lembro-me de um tempo que tínhamos encontro marcado quase todo fim de semana nas casas dos amigos. Uma sexta era na casa do Zé Eduardo; no sábado, na casa do Sérgio Ana Gráfica; outro, na minha casa, e assim por diante. E sobrava tempo para irmos ao Pit Dog, ao Flávio, à Asfep, ao Chaplin, ao Doce Norte, à Zion!! Fora as memoráveis serestas ao luar! Cantávamos e tocávamos violão madrugada adentro.
Não vejo mais isto. Será que fui absorvido pelo crescimento desenfreado da cidade a ponto de não mais poder viver situações como aquelas? Afastei-me de meus velhos amigos, ou eles se afastaram?
A realidade é que o crescimento econômico, urbano e populacional tornam a cidade mais agitada, mais cansativa, menos calorosa! E, hoje, ainda concorremos com a internet, com os smartphones, pela atenção de nossos amigos e familiares…
O corpo-a-corpo na briga eleitoral se transformou em reuniões secas e rápidas nos quintais dos eleitores. Os bons bate-papos nos pequenos botecos da esquina se transformaram em encontros nos shoppings. As longas conversas por telefones se fizeram em sms, whatsapp, facebook.
Quando marcamos um encontro, não podemos, apesar de fazê-lo, dizer: “em cinco minutos chegarei aí”, pois não estaremos. O trânsito não deixa. Já cheguei a gastar mais de meia hora da Cidade Nova ao Rio Verde!! Não mais sabemos os nomes dos policiais militares como antes! Foi-se a época do Raimundo, do Nunes, Batista, Sérgio, Mauro… A corporação virou uma companhia!
Nas enormes filas dos bancos, dos hospitais, das igrejas, não percebemos mais a presença daqueles familiares rostos, daqueles sorrisos conhecidos e, quando encontramos um amigo, um companheiro, falta assunto. A prosa se esgotou nos chats e sms das redes sociais e dos celulares.
Nem tudo se perdeu. Uma ou outra ala da velha guarda ainda se vê, se fala. O twitter gelo tenta manter isto.
A corrupção generalizou-se. Saiu dos pergaminhos, das gavetas, das conversas ao pé do ouvido e ganhou as classes sociais, políticas, estudantis, sindicais, religiosas. O pedido de uma “verbinha” para ajudar nas contas é feito descaradamente como um “esmolante” o faz nas portas dos bancos!
Os políticos não barganham obras para os bairros, para o povo; barganham cargos e salários, propinas para conseguir apoio para os chefes do poder executivo. Os bons e calorosos debates na Câmara municipal se transformaram em falas tediosas e monótonas que levam a nada!
Parauapebas cresce, mas cresce no ritmo das grandes cidades que desviam o que deve ser empregado em benefício da sociedade. É a maior em exportação, superando São Paulo, mais rica que Belém! Cresce no número de carros, motos, assaltos, violência (era a 21º mais violenta do Pará em 2011, agora é a décima!) doenças, reclamações! Cresce no número de taxas e impostos. E, do lado contrário, despenca na educação.
Exceto o ensino fundamental, que alcançou níveis aceitáveis no ranking nacional, infelizmente, no ensino médio, amargamos os últimos lugares no desempenho educacional, tanto no IDEB quanto no ENEM!
Felizmente, existem cidadãos de bem, que se esforçam no lado oposto. Pensam uma cidade com desenvolvimento sustentável, ecologicamente correta, com tratamento de 100% dos esgotos, com um atendimento hospitalar digno e uma educação exemplar para o país. Nossos filhos, que foram estudar em outra cidade devido à falta de faculdades aqui, felizmente, estão voltando! Voltaram para investir, para trabalhar, para transformar! São médicos, engenheiros, advogados, delegados, juízes, procuradores, técnicos, empresários, educadores, profissionais de todas as áreas que vislumbram a cidade dos sonhos, que acreditam na mudança para melhor: a cidade natal: PARAUAPEBAS!
As universidades estão sendo criadas e instaladas, os cursos técnicos profissionalizantes estão chegando, clínicas de estética, shoppings, restaurantes, concessionárias de veículos surgem aqui e acolá!
As crises acompanham o desenvolvimento. Fazem parte do ciclo progressista. Ás vezes, são necessárias para alavancar os ânimos, para inibir o comodismo! Mas, sendo combatidas, são passageiras.
Não tenho propostas miraculosas para resolver os problemas da cidade, não sou um político salvador enviado por Deus. Sou um cidadão que quer um lugar melhor pra se morar, viver e investir, que acredita que esta cidade é uma cidade do presente com grandes planos para o futuro!
E creio que voltarei a cantar sob as janelas dos meus amigos, a fazer serestas ao luar sem preocupar-me com assaltos, com mortes, com violência.
Não quero uma cidade com bairros elitizados em que alguns habitantes pensem fazer parte de um outro país, menosprezando os concidadãos. Quero atendimento igual para todos, sem precisar de autorização para buscar tratamento médico em hospital.
Parauapebas pode ter tudo isto! Já tem excelentes restaurantes, casas noturnas, clubes! Tem jornalistas renomados, escritores conhecidos, artistas, músicos!
Parauapebas tem você, sua família; tem nós, que acreditamos e lutamos por nossos objetivos!
Alípio Ribeiro – professor efetivo de inglês/português da SEDUC/PA. Bacharel em direito.
1 comentário em “Parauapebas: por Alípio Ribeiro”
Alipio:Prazer em encontrar você:::::e lamentável a sua impressão do que é hoje Parauapebas,nunca poderia imaginar o que está acontecendo::virou uma metrópole sem o calor dos amigos;;foi só crescer em todos os aspectos para a parte humana, deixar de lado o calor fraterno,entre amigos como era muito agradável na época da Parauapebas antiga…mais a vida nos dá essas decepciones que devemos superar…..e assim será tenha certeza….atte e grata de ver você…sua eterna funcionária..Clara….la chilena…..