Parauapebas tem menor número de nascimentos em mais de 10 anos

Mudança no perfil demográfico da Capital do Minério vai exigir preparar a cidade para uma população cada vez mais adulta. Por outro lado, Canaã dos Carajás bateu recorde de natalidade e suga como ímã os “desesperançosos” do município-mãe. Terra Prometida bateu recorde de matrículas no Brasil

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A população de Parauapebas está parando de crescer — ou, pelo menos, não cresce mais na velocidade de outrora. Esta é a conclusão de um levantamento inédito realizado pelo Blog do Zé Dudu nesta terça-feira (28) a partir de dados preliminares do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), referentes a 2024, obtidos com exclusividade. No ano passado, o número de nascimentos — principal indicador do crescimento vegetativo de uma população, mas não o único — foi o mais baixo em dez anos.

O Blog apurou que, em 12 meses corridos, nasceram em Parauapebas 4.576 novos habitantes, o menor volume desde 2012, quando foram registrados 4.513 aqui. No pico de nascimentos, em 2014, a Capital do Minério computou 5.360, cerca de 15% a mais que atualmente.

Os dados de nascidos vivos são importantes para nortear políticas públicas nas áreas de saúde e educação, por exemplo, já que cada nascimento implica no futuro a necessidade de uma vaga de leito hospitalar e de uma vaga na rede pública de ensino. Com o número de nascimentos em decréscimo em uma década, mas sempre oscilando entre 4.600 e 5.300 novos habitantes que vêm ao mundo, Parauapebas também vê o número de alunos na rede pública de ensino estagnar em linha com a série histórica que aponta entre 47 mil e 49 mil matrículas, de acordo com dados oficiais do Ministério da Educação (MEC).

NASCIMENTOS POR ANO EM PARAUAPEBAS

2024 — 4.576 (queda ↓)

2023 — 4.823

2022 — 5.019

2021 — 5.087

2020 — 4.667

2019 — 4.577

2018 — 4.810

2017 — 4.582

2016 — 4.644

2015 — 5.019

2014 — 5.360 (pico ↑)

2013 — 5.157

2012 — 4.513

Canaã ‘rouba’ gente de Parauapebas

Faz tempo, e não é segredo para ninguém, que Canaã dos Carajás é, proporcionalmente, o município detentor do maior crescimento populacional do Brasil. Em 2024, inclusive, o Sinasc aponta número recorde de nascimentos no município, na contramão do resto do país, onde 95% das cidades brasileiras registraram decréscimo na natalidade em comparação com 2023.

NASCIMENTOS POR ANO EM CANAÃ DOS CARAJÁS

2024 — 1.665 (pico ↑)

2023 — 1.610

2022 — 1.476

2021 — 1.434

2020 — 1.300

2019 — 1.174

2018 — 1.232

2017 — 1.234

2016 — 1.380

2015 — 1.332

2014 — 1.124

2013 — 954

2012 — 875

Devido à força econômica da Terra Prometida, muitos habitantes de Parauapebas têm se mudado para Canaã, onde a probabilidade de arranjar emprego com carteira assinada é maior, escorada no apetite da mineradora multinacional Vale, que obtém da Terra Prometida o melhor minério de ferro do globo e com custo-benefício de extração mais baixo que em Parauapebas.

Atualmente, Canaã se tornou o maior reduto de migração na Região Norte, e tudo o que envolve seu nome se torna gigante, mágico e extraordinário — a exemplo do concurso público em andamento para o preenchimento de cargos na prefeitura local, que mobilizou cerca de 50 mil inscritos, de Norte a Sul do Brasil, conforme revelou em primeira mão o Blog do Zé Dudu (relembre aqui e aqui).

Em 2024, inclusive, Canaã dos Carajás foi o município do Brasil que apresentou o maior incremento de novos alunos na rede pública municipal de ensino, com 1.610 estudantes a mais que em 2023. Na contramão desses números, a rede pública de Parauapebas perdeu 1.297 — e 75% das transferências da Capital do Minério foram justamente para a Terra Prometida.

Disputa ao estilo China x Índia

No mundo das comparações, assim como entre China e Índia sobre o número de habitantes durante décadas, ou mesmo entre Marabá e Parauapebas, a pergunta que muita gente se faz é: Canaã dos Carajás vai passar Parauapebas em tamanho? A resposta é complexa e depende de muitos fatores, sobretudo da força e da interferência direta da Vale na região.

Do ponto de vista da produção de riquezas expressa em Produto Interno Bruto (PIB), a Capital do Minério e a Terra Prometida já estão empatadas, muito embora o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não tenha divulgado o PIB dos municípios no final do ano passado em razão de ajustes metodológicos.

Canaã já ultrapassou Parauapebas em produção mineral e assumiu a dianteira no país em 2024, e isso fará com que seu PIB a ser divulgado ano que vem apareça maior que o da Capital do Minério. Também em receitas, falta muito pouco para a Terra Prometida alcançar e superar a matriarca. A expectativa dessa virada é para antes do término do segundo mandato da prefeita Josemira Gadelha. Agora, ultrapassar Parauapebas em população vai demorar.

Com base no ritmo de crescimento atual dos dois municípios, Canaã só apareceria empatado com Parauapebas no censo de 2040, década em que a Vale projeta a exaustão das atuais minas em lavra da Capital do Minério e, por outro lado, aspira dobrar a capacidade de produção na Terra Prometida. Em todo caso, o diferencial de Canaã é crescer de forma organizada, “civilizada” e sustentável. Mas há muito chão até lá, muita coisa pode mudar e tudo pode acontecer. Inclusive — e o mais difícil em uma região tão dinâmica — nada.

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