Partidos do Centrão vencem em mais da metade das cidades brasileiras; mulheres levam 13% das prefeituras

As eleições municipais são uma prévia da disputa presidencial e composição do Congresso Nacional em 2026
Presidente do TSE apresenta balanço do 1º turno das Eleições 2024

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Os números não mentem. Num levantamento de dados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após a contabilização do resultado do 1º Turno das eleições municipais de domingo (6) em todo o Brasil, é possível concluir que partidos de centro conquistaram as prefeituras de mais da metade dos municípios brasileiros. Ao aplicar um filtro no resultado final, é possível extrair que 13% das prefeituras foram conquistadas por candidaturas femininas, o que representa um recorde histórico.

Os partidos considerados de centro foram os grandes vencedores nas eleições municipais deste ano. PSD, MDB, PP e Republicanos, juntos, ganharam em mais da metade das cidades brasileiras, com 2.896 prefeitos eleitos. O campeão absoluto de votos, que conquistou sozinho 886 prefeituras no primeiro turno, foi o PSD, do ex-prefeito de São Paulo, Miguel Kassab.

Pela primeira vez na história recente do país o MDB perdeu o posto de partido com maior número de prefeituras. A legenda terminou a disputa de domingo em segundo lugar, com 878 prefeitos eleitos. Em terceira posição vem o PP, com 743 prefeituras, seguido pelo União, que ganhou em 578 municípios. O Republicanos elegeu 430 representantes municipais.

Embora tenha apresentado um bom resultado, o PL ficou longe das expectativas de seus dirigentes. Com a maior verba do Fundo Eleitoral, no valor de quase R$ 900 milhões, a meta do partido era alcançar 1.500 prefeituras. Saiu vencedor em um terço disso, com 510 cidades, em quinta colocação em número de eleitos no primeiro turno. Já o PT, que comanda o Governo Federal e tem a segunda maior verba do Fundo Eleitoral, terminou o primeiro turno em nono lugar, com 249 prefeituras, expondo uma clara desidratação.

Esse resultado mostra que a polarização política observada nos últimos anos no país, principalmente nas eleições presidenciais, não teve um papel tão importante no pleito local, como foi trombeteada antes do pleito.

A cientista política e consultora legislativa da Câmara, Manuella Nonô, ressalta que somente o PSD recebeu 9 milhões de votos na eleição para prefeitos, e o MDB, 7 milhões. Se os partidos considerados de centro já tinham muito poder no Congresso, com esse reforço nas eleições de domingo os analistas acreditam que o presidente da República vai ter mais dificuldade nas negociações com a base.

Analistas acreditam que essa mudança na relação entre o Executivo e Centro no Congresso tende a ficar mais difícil, principalmente no ano que vem, com a aproximação das eleições presidenciais.

O PL, por exemplo, anunciou que seu objetivo principal é eleger o novo presidente da República em 2026, e obter maioria absoluta no Senado e na Câmara dos Deputados. “Mas, há um longo caminho para isso sair do papel e se tornar realidade”, avaliam vários analistas.

No que diz respeito à relação do presidente Lula com a base dele, Manuela disse não acreditar que possa haver uma mudança muito forte agora. “Mas eu tenho convicção de que a partir da metade do ano que vem, eu acho que essas coisas vão impactar muito, porque as eleições de 2026 vão estar no ano radar”, declarou o cientista político e jornalista Carlos Oliveira.

Considerado o grande perdedor dessa eleição municipal, o PSDB ganhou 269 prefeituras. Esse número representa 254 cidades a menos que as conquistadas em 2020, quanto elegeu 523 prefeitos.

Em números absolutos a esquerda desidratou como nunca. Após o 1º Turno, chama atenção o estado de Roraima, onde os eleitores erradicaram o PT em qualquer cenário. Lá, não foi eleito nem vereador em qualquer cidade do Estado.

Se o PT definhou, o PSB cresceu. Sai das urnas como maior vitorioso no campo considerado de esquerda. O partido chegou ao final do primeiro turno à frente do PT, com 309 prefeituras conquistadas. O PDT ganhou em 148 cidades no primeiro turno, e o PCdoB, em 19, reduzindo drasticamente a sua participação.

O notável crescimento das candidaturas femininas

A grande surpresa do pleito foi reservado pelos eleitores às candidaturas femininas. Mulheres candidatas foram eleitas prefeitas em 13% das cidades, num desempenho considerado notável.

Nestas eleições municipais de 2024, segundo o TSE, 724 mulheres foram eleitas prefeitas, representando 13% de um total de 5.470 municípios.

Das 11 capitais que elegeram seu comandante em primeiro turno, nenhuma delas escolheu uma mulher, mas, isso pode ocorrer no 2º Turno, que será realizados daqui a 20 dias.

A presidente do TSE, ministra Carmen Lúcia, comentou o resultado: “Eu fico triste de saber que numa sociedade que tem 52% de um eleitorado e de uma população brasileira, que nós sejamos tão poucas ainda no cenário da participação política, que não é um bônus, é um ônus mas também uma possibilidade de, pelos olhares das mulheres e dos homens, ter uma visão plural da vida e da realidade.”

Por seu turno, Manoela Nonô ressaltou o ligeiro aumento no número de prefeitas já eleitas em comparação com o total de 2020, de 656, e lembrou que ainda há mulheres em disputa.

“Tem doze mulheres disputando segundo turno. Duas cidades desse País entre as quais Campo Grande (MS) são disputadas por duas mulheres nesse segundo turno”.

Para a consultora, a participação feminina pode melhorar. “É um crescimento pequeno a conquista das mulheres, infelizmente a nossa elite política é uma elite branca e masculina. Para rebater isso a gente tem legislação sendo aprovada a cada dia diferente e o judiciário implantando cada vez mais obrigações e esse crescimento tem se dado devagar”, avaliou.

Com relação à raça, 66% dos eleitos são brancos, 31% pardos e 2% pretos, segundo o TSE.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.