Brasília — Em audiência na Câmara dos Deputados o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que a transparência dos dados sobre o novo coronavírus aumentará com a publicação de uma nova página na internet. Também afirmou que informações divulgadas anteriormente não diziam nada.
Perguntado o chefe da Saúde não deu uma data exata para publicação da nova página. Disse que precisaria de ao menos 48 horas. Afirmou que, enquanto isso, a pasta fará o possível para prestar mais informações no site já existente.
O que o interino apresentou foi uma plataforma de análise de dados com informações que, em parte, já eram fornecidas. O novo site deve permitir, porém, filtragens e recursos que antes não estavam disponíveis.
O ministro interino prestou esclarecimentos na comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha o combate ao coronavírus. Ele compareceu pessoalmente, não por videoconferência.
O Ministério da Saúde está sob pressão nos últimos dias porque retirou do ar informações sobre a pandemia. O site oficial de divulgação dos dados do ministério teve retirados os números acumulados de mortos por coronavírus e casos da doença. Agora, possibilita acesso apenas aos casos das 24 horas anteriores.
Antes, a pasta passou a divulgar mais tarde o dado compilado do dia. Passou de 17h-19h para as 22h. O presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer, sobre o assunto, que “acabou matéria no Jornal Nacional”. O telejornal com mais audiência do país é exibido antes das 22h.
O Ministério da Saúde voltou a divulgar na tarde desta terça-feira (9) as informações referentes aos dados acumulados de mortes e infectados pelo novo coronavírus. O retorno dos dados acontece um dia após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Os dados voltaram a ser incluídos no site que o ministério já mantinha com informações a respeito da Covid 19, http://covid.saude.gov.br. A pasta não informou se a decisão se dá em cumprimento à decisão do STF.
Pazuello mostrou imagens de página que o Ministério da Saúde planeja, segundo ele, colocar no ar. Contém as mortes referentes a cada dia e as mortes confirmadas em cada dia por covid-19. Quando uma pessoa morre, a confirmação de que foi por causa do coronavírus pode demorar vários dias.
Isso significa que a nova plataforma atualizará dados antigos. Por exemplo: se em agosto for confirmado que uma morte em 15 de maio foi por coronavírus, a informação de 15 de maio será atualizada.
Um dos principais pontos da controvérsia era a divulgação do número de mortos confirmados nas 24h anteriores. Se o número divulgado fosse apenas os dos efetivamente mortos nas 24h anteriores, a cifra seria menor e produziria notícias menos danosas à imagem do governo.
Eis uma imagem da página, mostrada pelo chefe da Saúde aos deputados:
A principal novidade, neste caso, seria uma atualização em tempo real anunciada por Pazuello. O número de mortes por dia do óbito, e não da notificação, é eventualmente divulgado pelo Ministério da Saúde em entrevistas a jornalistas, como na imagem a seguir (retirada desta apresentação, 2 Mb):
Também exibe gráficos com a evolução desses números ao longo dos dias. A página deve trazer, ainda gráficos com os números de casos confirmados.
Pazuello também afirmou que o a página possibilitará a filtragem de informações por Estado e por município. O ministro diz que falta terminar a parte dos municípios. Mostrou a aparência da página de filtragem por Estado:
De acordo com Pazuello, os números divulgados anteriormente não diziam nada. “Eu estava somando contas que não eram somáveis”, afirmou. Ele deu como exemplo somar números de cidades que adotam protocolos diferentes de testagem.
“[O Ministério estava] marcando horário para apresentar uma informação que não dizia nada para os gestores do nosso país”, disse Pazuello. De acordo com ele, a informação que realmente importa é a segmentada por região.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), participou do começo da audiência. Falou algumas palavras ao ministro.
“O que nós vemos naquela entrevista do ex-futuro secretário do governo foi lastimável”, afirmou Maia. Ele se referia a declarações de Carlos Wizard ao jornal O Globo.
Wizard assumiria a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. Antes de assumir, disse que Estados e municípios inflavam o número de contaminados pelo coronavírus para conseguir mais recursos. Sua nomeação para a secretaria não se concretizou.
Até a publicação deste texto, o número de mortos pelo coronavírus no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, era 37.134. Os casos confirmados, 707.412.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.