A ideia é mostrar ao setor produtivo que a pecuária pode ser sustentável, economicamente viável, lucrativa, e com resultados bem superiores em relação à pecuária tradicional
Com o objetivo de difundir os resultados dos três anos de atuação no Pará, o projeto Pecuária Verde, sediado em Paragominas, realizará a partir desta terça (21) até quinta-feira (24) um Circuito de Palestras nos sindicatos rurais dos municípios de Marabá, Redenção, São Felix do Xingu e Xinguara. As palestras serão ministradas pelos pesquisadores Moacyr Corsi e Mateus Paranhos, consultores do projeto, e por Mauro Lúcio Costa, diretor executivo do Pecuária Verde. A ideia é mostrar ao setor produtivo que a pecuária pode ser sustentável, economicamente viável, lucrativa, e com resultados bem superiores em relação à pecuária tradicional.
Em 2013, a produtividade das áreas intensivas do projeto foi de 30,33 arrobas por hectare, representando um aumento de 24,6% sobre 2012. Ainda em 2013, os produtores tiveram margem de lucro de 6,08%, um percentual 54,6% maior do que o ano anterior. Para este ano, a expectativa é de aumentar a produtividade para 35,95 arrobas por hectare. “A meta é chegar entre 7 a 8 arrobas líquidas por hectare. Isso representa 10 vezes mais em termos de produção, ficando equivalente ou mesmo superando a soja e outras culturas”, destaca Moacyr Corsi, pesquisador da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP).
Idealizado em 2011 pelo Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas (SPRP), em parceria com o Fundo Vale e Dow AgroSciences, o Pecuária Verde tem como principal objetivo otimizar e intensificar a produção pecuária, evitando a abertura de novas áreas de pastagem e, ao mesmo tempo, proporcionando acondicionamento de maior quantidade de animais por hectare, promover o aumento da produtividade e da lucratividade dos produtores, além de investir na capacitação dos trabalhadores, produtores e técnicos que participam do processo.
Para Mauro Lúcio Costa, diretor executivo do projeto, o sucesso do empreendimento é fruto da parceria do setor produtivo com essas instituições, que ofereceram suporte e consultoria técnica para o avanço do projeto. “Foi uma parceria muito feliz, que garantiu êxito a um trabalho, que mostrou para o setor produtivo que a pecuária é economicamente viável quando alicerçada em pilares sustentáveis, tendo suporte tecnológico, além de consultoria técnica”, declara.
Carina Pimenta, gerente do Fundo Vale, avalia que o Pecuária Verde é bastante inovador porque trouxe conhecimento técnico aos produtores, que adaptaram as tecnologias à realidade local. “Sempre acreditamos no sucesso do projeto, que provou que é possível desenvolver uma pecuária sustentável, gerando economia e ao mesmo mantendo a floresta em pé, conservando os recursos e melhorando a qualidade de vida das pessoas”, pontua.
Bem estar – Outro grande diferencial do Pecuária Verde foi a aplicação do novo conceito de bem-estar para todos os que participam da cadeia produtiva.”Depois que os envolvidos no trabalho perceberam os benefícios do projeto, inclusive na qualidade de vida dos trabalhadores, a mudança ocorreu de forma natural. Um bom exemplo disso são os vaqueiros, que mudaram a rotina de vida com as ações do projeto e alcançaram melhores resultados de produtividade. Durante uma pesquisa, muitos revelaram ser sentir menos cansados no final do dia e com melhor qualidade de vida, tendo mais disposição para ficar junto com a família e desfrutar do lazer”, destaca Mateus Paranhos, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita (Unesp), um dos consultores do projeto.
O vaqueiro Antônio Moura, que trabalha há 18 anos na fazenda Rancho Fundo, confirma as melhorias proporcionadas pelo projeto. “Antes, os equipamentos eram antigos e isso não ajudava o nosso trabalho. Dava uma grande canseira e vontade de desistir. Com a vinda dos professores, que ensinaram a melhorar o manejo, a estrutura do curral e tecnologia da fazenda, graças a Deus melhorou muito e a vida mudou da água pro vinho”, afirma.
Projeto mudou a forma de se fazer pecuária
O Pecuária Verde incentiva o desenvolvimento de práticas mais sustentáveis de pecuária no município de Paragominas, baseadas nos pilares de adequação e bem-estar na fazenda, além do manejo de pastagem. Integram o projeto seis fazendas-piloto: Marupiara, Teolinda, Rancho Fundo, São Luiz, Bonita e Santa Maria.
Com o acompanhamento técnico e aplicação de novas tecnologias para melhorar sua produção, os pecuaristas transformaram 10% de suas propriedades em um verdadeiro laboratório de produção intensiva. Quando questionados sobre a eficácia do Pecuária Verde, os produtores são unânimes em dizer: mudou a forma de fazer pecuária em Paragominas.
Proprietário da fazenda Rancho Fundo, Pércio de Barros, diz que antes do projeto, já praticava uma pecuária diferenciada, mas queria ir além. “Precisávamos melhorar nas propriedades a questão ambiental, social, trabalhista e agregar valor ao nosso produto. A pecuária estava perdendo espaço para a soja e outras atividades. Queríamos mostrar que ela tinha o seu valor. Com a intensificação, as seis fazendas envolvidas tornaram-se modelo de uma pecuária produtiva, socialmente correta e na parte ambiental, resolvendo os passivos”, ressalta.
Nesses três anos de projeto, Pércio assinala que o Pecuária Verde criou modelos de sustentabilidade, provando que era possível elevar a produtividade. “Agora não podemos limitar o Pecuária Verde ao bioma da Amazônia. É um projeto que pode ser realizado em qualquer parte do Brasil. A pecuária intensiva é economicamente viável. A extensão do projeto deve demorar mais tempo em função da quebra de paradigmas. A ideia é formar uma associação para se continuar com a consultoria. Precisamos fazer a ligação entre produtor e consumidor, aproveitando os novos nichos no mercado lá fora”, observa.