Resultado de sondagem previsto para ser liberado no próximo domingo deve colocar lenha na fogueira. Em disputa, um prefeitura que, pela primeira vez, faturou mais de R$ 100 milhões.
“Quem está dificultando a liberação da licença do projeto Serra Leste?” Alternativa 1: o prefeito Adonei Aguiar; ou alternativa 2: o deputado Chamonzinho? Essa curiosa pergunta — que consta do questionário de aplicação da primeira pesquisa oficial para intenção de votos no município de Curionópolis nas eleições deste ano — vai ajudar a colocar lenha na fogueira na terra do eterno garimpo de Serra Pelada, onde duas forças antagônicas disputam o poder político-administrativo local.
De um lado, o prefeito Adonei, que vai tentar reeleição e que, nas eleições de 2018, conseguiu que Márcio Miranda, então adversário ao atual governador Helder Barbalho, tirasse mais votos em Curionópolis que o rival: 6.546 contra 4.059 no 2º turno. De outro lado, o deputado Chamonzinho, que tenta emplacar a esposa, Mariana Chamon, e que nas eleições para deputado, há dois anos, foi o mais votado no município com 3.266 adesões, seguido de perto do preferido de Adonei, Eliel Faustino, que recebeu 2.421 votos dos curionopolenses.
No próximo domingo (23), deve ser divulgado o resultado da pesquisa registrada na última segunda-feira (17) no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sob protocolo PA-01896/2020. A empresa Eco Consultoria, com sede em Belém, é a interessada e ela mesma é quem realizará a sondagem, cujo período de coleta teria ocorrido entre os dias 9 e 13 deste mês.
Adonei Aguiar X Mariana Chamon
Com a divulgação do resultado, a população local terá a primeira impressão, a partir de 234 eleitores ouvidos, de como está a avaliação da administração de Adonei; quais erros e acertos da atual gestão; qual a percepção acerca do não funcionamento do projeto Serra Leste, da mineradora multinacional Vale, no município; quem poderia estar dificultando a liberação da licença do projeto; quem são os nomes mais cotados para as vagas do legislativo; e quem é o nome mais cotado para governar Curionópolis.
A pergunta estimulada quer saber em quem o eleitor do município pretende votar: Adonei Aguiar, Mariana Chamon, Valdeir do União, Amparo, Gildásio ou Pastor Cleviston. E também lança cenários de possíveis embates, como entre Adonei e Mariana, além de questionar o eleitorado se este votaria em candidato apoiado pelo governador Helder Barbalho.
Com aproximadamente 18 mil habitantes estimados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Curionópolis tem hoje cerca de 14.300 eleitores, nas contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de acordo com quem 2.269 votam no distrito de Serra Pelada. Nas eleições presidenciais, 72,4% dos cidadãos foram às urnas.
Município devagar, quase parando
Cenário de confronto entre prefeito e deputado estadual, o município é um dos mais prósperos financeiramente do Pará, muito embora enfrente nos dias atuais dificuldade para equilibrar as contas, tendo em vista a paralisação das atividades da mina SL1, na Serra Leste de Carajás. É de lá que vem a maior parte do faturamento local, em forma de royalties de mineração e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Ao longo de 2019, o município arrecadou R$ 106,1 milhões em receitas brutas, sendo R$ 97,75 milhões em receita líquida. Mas sem capacidade de gerar receita própria, ele depende em 88% de transferências dos governos estadual e federal para sobreviver.
Em razão da demora no processo de licenciamento do projeto, que pretende expandir sua capacidade de processamento de minério de ferro de 6 milhões de toneladas por ano para 10 milhões de toneladas, as operações foram suspensas, trazendo consequências a Curionópolis. Cavernas não estudadas pela ciência e com potencial biológico desconhecido atravessam o caminho entre o progresso financeiro da prefeitura municipal e o sucesso produtivo da mineradora Vale.
Além do impacto econômico-financeiro, o mercado de trabalho local também vem sendo afetado, visto que diversos fornecedores têm tido de demitir funcionários celetistas pela baixa no movimento. A administração pública também distratou cerca de 300 servidores temporários, o que, no médio prazo, prejudicará a oferta de serviços essenciais.
O efeito cascata levou Curionópolis a encerrar 2019, pela primeira vez na história do Pará, com uma frota de veículos emplacados menor que quando começou o ano. Isso porque muitas famílias estão indo embora e levando seus veículos para emplacar em outros lugares, uma indicação agressiva dos efeitos drásticos da dependência do município de uma só atividade econômica, neste caso a minerária.