A PF realizou na manhã da última quarta-feira uma operação batizada de Para Bellum, que mira supostas irregularidades na compra de respiradores hospitalares pelo estado do Pará.
A missão no Pará dos bravos combatentes da honrosa Polícia Federal trás à tona a influência do presidente Bolsonaro na PF, depois da saída do ministro Sergio Moro do Ministério da Justiça e das trocas nos comandos da PF Brasil a fora. A investida contra Helder Barbalho, um dos governadores que demonstraram clara oposição às políticas de combate ao coronavírus promovidas pelo governo federal, gera mais dúvida quanto à autonomia do órgão.
O temor é de que o presidente utilize a PF para seus ganhos pessoais e políticos, perseguindo adversários e desafetos. A preocupação, que já era justificada por conta do relato do ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro teria tentado interferir em ações que envolviam seus filhos, se intensifica com as operações contra Wilson Witzel e Helder Barbalho.
Como legalista, não posso deixar de mencionar que a “Para Bellum” perdeu o objeto quando o próprio governador acionou judicialmente a empresa que vendeu os respiradores para que o estado fosse ressarcido do dinheiro adiantado pelos respiradores. Tendo o Pará recebido o dinheiro, o negócio desfeito e os empresários envolvidos processados pelo governo do estado, não havia mais necessidade de intervenção da Polícia Federal no caso.
No mais, o momento é impróprio para perseguições políticas e principalmente com o uso do aparato federal. Promover buscas, efetuar prisões, tentar desmoralizar politicamente seus desafetos não tornarão do dia para a noite o governo do atual presidente o suprassumo no combate a corrupção.
Helder Barbalho vive momentos difíceis politicamente em consequência do aumento estrondoso de casos de Covid-19 no Estado. Muito já foi feito para conter esse avanço, mas as ações têm sido infrutíferas até o momento. Persegui-lo nesse momento não trarão as vidas de volta, tampouco resolverá os problemas. Em momento de pandemia, a PF deve conter as ações e o governador cortar na carne aqueles que buscam de forma equivocada os benefícios do poder.
Depois que esse momento passar, que não houver mais perigo da perda de vidas, será o momento certo de investigar quem usou do regime de emergência para se dar bem com a pandemia. A estes, processos, julgamentos e cadeia. Agora não, agora é hora de buscar soluções e salvar vidas!