Brasília – Cumprindo determinação judicial de ação movida pelo Ministério Público Federal do Pará, que tramita na Justiça Federal da Subseção Judiciária de Itaituba, Sudoeste do Pará, a Polícia Federal deflagrou uma “operação de guerra” ao encontrar mais de 2 mil homens garimpando ouro ilegalmente na terra indígena Munduruku, sobretudo ao longo da cabeceira do rio Kabitutu. Foram destruídas 20 retroescavadeiras, de R$ 500 mil cada, usadas na extração de minérios, outros equipamentos de apoio e incendiados os acampamentos de apoio no meio da floresta.
Durante uma operação sigilosa revelada pelo Blog do Zé Dudu que durou mais de uma semana, não houve cumprimento de mandados de prisão, já que a intenção da operação era apenas desarticular a prática ilegal na terra indígena destruindo a estrutura montada por quadrilhas organizadas que vendem o produto da extração do garimpo em lojas que se espalham ilegalmente pelo centro comercial de Itaituba. As autoridades acreditam que uma parte é legalizada através de documentos fraudados e outra, contrabandeada para fora do país se recolher nenhum centavo de imposto.
Os criminosos sabiam da atuação da PF na região e, por isso, tentaram esconder todo o maquinário dentro das matas fechadas da região. Contudo, a ação recorreu ao uso de drones especiais para localizar os equipamentos.
O trabalho foi autorizado pela Justiça após investigações do Ministério Público Federal (MPF) indicarem a existência de aliciamento de integrantes de comunidades indígenas para participar do ato criminoso.
A ação tramita na Justiça Federal da Subseção Judiciária de Itaituba. De acordo com os investigadores, há também a participação de pessoas ligadas à regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) no esquema de extração ilegal nos garimpos, para que o material deixe o país pela fronteira com a República Cooperativa da Guiana.
Indígenas Munduruku e garimpeiros protestam
Ao longo da semana o que se viu foi uma operação de “gato caçando rato” nas entranhas da floresta. Não muito longe do palco das operações, outra guerra, de narrativas, mais de 150 indígenas da etnia Munduruku e dezenas de garimpeiros interditam na sexta-feira (2) a BR-230, no distrito de Campos Verde, em Itaituba. O protesto, que começou às 8h, não tem previsão de término. O bloqueio resultou num engarrafamento de muitos quilômetros nos dois sentidos da pista. Não há vicinais para o motorista seguir viagem.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, a BR-230 foi interditada em dois pontos, no KM-1105 sentido Itaituba e no KM-1110, sentido Santarém.
A Polícia Militar disse que a principal reivindicação dos manifestantes é o encerramento das operações de fiscalização de órgãos do Governo Federal no combate às atividades de garimpos ilegais, contra o desmatamento em áreas indígenas e o aliciamento de índios para facilitarem as práticas criminosas.
Ainda de acordo com a PM, os manifestantes estariam pleiteando a legalização dessas atividades, conforme o projeto de lei Nº191/2020 enviado pelo Executivo ao Congresso Nacional, que autoriza e estabelece critérios para a exploração mineral em reservas indígenas. A matéria está tramitando na Câmara dos Deputados e o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) reluta em criar uma comissão especial para dar celeridade à análise do projeto.
A PRF informou que não há registro de confrontos na área interditada. Segundo os manifestantes, os indígenas também se beneficiam da extração de minérios na região e se sentem prejudicados pelas operações de fiscalização.
A PRF disse ainda que os indígenas chegaram a bloquear a BR-163, KM-643, sentido Trairão, às 8h, mas liberaram a pista logo depois.