Por Val-André Mutran – de Brasília
A Polícia Federal encaminhou à 10ª Vara Federal de Brasília a primeira parte das conclusões da investigação sobre a invasão dos celulares do presidente Jair Bolsonaro, do ministro Sérgio Moro, Justiça e Segurança Pública, e cerca de mil autoridades. No documento, os seis investigados são indiciados por integrar organização criminosa, invasão de dispositivo informático alheio e interceptação de comunicação telemática ilegal. Dentre os investigados, Suellen Oliveira foi indiciada apenas por participação em organização criminosa e Luiz Molição somente por interceptação ilegal.
Os indiciados são:
- Walter Delgatti Neto (invasão criminosa, interceptação de dispositivo eletrônico e organização criminosa);
- Gustavo Santos (invasão criminosa, interceptação de dispositivo eletrônico e organização criminosa);
- Danilo Marques (invasão criminosa, interceptação de dispositivo eletrônico e organização criminosa);
- Suelen Priscila de Oliveira (organização criminosa);
- Thiago Eliezer Martins (invasão criminosa, interceptação de dispositivo eletrônico e organização criminosa);
- Luiz Henrique Molição (invasão criminosa, interceptação de dispositivo eletrônico).
Walter Delgatti, o casal Gustavo Santos e Suelen Oliveira, e Danilo Marques foram presos em julho, na Operação Spoofing, que investiga as invasões de celulares. Thiago Eliezer e Luiz Henrique Molição foram presos na segunda fase, em setembro.
O relatório do inquérito policial de 177 páginas é a primeira parte da investigação, uma vez que a PF decidiu abrir uma nova investigação para saber se houve financiamento para que o grupo praticasse as invasões e também apurar possível crime de obstrução de investigações. Nesta próxima etapa, os investigadores vão apurar as informações apresentadas na delação de um dos hackers, Luiz Molição.
No indiciamento, a Polícia Federal informa que os ‘ataques’ do grupo alcançaram 1.727 números telefônicos de vítimas diferentes. Ainda estão sendo feitas diligências para apurar a identidade de todas elas.
De acordo com a PF, os hackers atuavam de duas formas. A primeira consistia da invasão de dispositivos informáticos para a extração das mensagens, documentos e agendas de contatos armazenados no aplicativo Telegram, que guardava as informações em servidores online sempre disponíveis. Na segunda forma, ocorria o monitoramento em tempo real das mensagens que eram trocadas pelas vítimas com outros interlocutores, através da ativação de novas seções do aplicativo por meio do programa Telegram Desktop instalado nos equipamentos dos criminosos.
“Em algumas situações, após a ativação de uma conta no Telegram vinculada do telefone do alvo, caso o aplicativo não estivesse instalado ou não fosse utilizado, os criminosos assumiam o controle da conta e passavam a enviar mensagens para terceiros como sendo a própria vítima”.
Ao ser preso pela Polícia Federal, Walter Delgatti Neto estava captando em tempo real as comunicações telemáticas de 99 pessoas pelo aplicativo Telegram Desktop, além de outras 30 pelo aplicativo no celular.
O serviço Telegram permite exportar todo o histórico de diálogos de uma conta. Ao analisar o computador de Delgatti, a perícia encontrou a exportação dos dados referentes a 48 contas.