A história de vida dela tem como pano de fundo o nascimento e o crescimento de Parauapebas. Dona Maria Lúcia Ferreira, que hoje tem 76 anos, vende ovos de codorna há duas décadas na cidade e viu a evolução do pequeno vilarejo que se tornou um dos maiores municípios da região sudeste do Pará.
“Quando eu cheguei aqui na região eu era sacoleira, morava no KM 30 (Curionópolis) e vinha vender perfumes importados e cigarros aqui em Parauapebas para as meninas dos cabarés, aqui no Rio Verde. Essa cidade nasceu por causa delas, dos peões que vinham trabalhar na Serra dos Carajás e dos garimpeiros da Serra Pelada. Rolava muito dinheiro aqui, pois as empresas contratadas pela Vale para fazer os serviços, a Camargo Correia e Mendes Júnior, pagavam semanalmente”, informou dona Lúcia.
Nessa época, a região começou a atrair pessoas de várias regiões do país em busca de emprego ou de ouro. “Eu consegui entrar para o garimpo, montei uma cantina e comecei a ganhar dinheiro, deixei de ser sacoleira para ser garimpeira”, disse dona Lúcia, informando que vendia à peso de ouro a comida.
Depois de conseguir acumular um bom patrimônio, com três casas em Parauapebas e um ponto comercial, algumas joias e outros bens, dona Lúcia diz ter sofrido um golpe e precisou se desfazer de praticamente tudo o que possuía. “Nessa época eu já tinha meus dois filhos, de produção independente (risos). Tinha babá e também uma empregada que cuidava da casa. Vi tudo isso se perder depois desse golpe”, relatou.
A situação ficou tão crítica que ela ficou com apenas uma casa, onde morava, sem nada dentro e devendo ao banco. Antes de chegar ao fundo do poço, ela tomou uma decisão inusitada: “decidi gastar um restinho de dinheiro da venda das minhas joias, fui me divertir lá em Marabá, na praia, tomei muita cachaça, e foi nessa viagem que surgiu a ideia de vender ovos de codorna”, revelou dona Lúcia.
“Lá na praia vi um menino vendendo ovos de codorna. Comprei uns três pacotes e disse para ele distribuir para o pessoal, que eu não queria comer. Bati um papo com ele e fiquei sabendo que vendia muito. Foi aí que eu tive a ideia de vender em Parauapebas também. Na época, fui ao supermercado Briano, no Rio Verde, e comprei as únicas três cartelas que tinha lá e já deixei encomendado novos pedidos. Fui para casa, cozinhei os ovos e antes de chegar na Feira do Rio Verde da época (hoje funciona a Praça da Cidadania), já tinha vendido as três cartelas”, disse.
E assim começou a venda de ovos de codorna dessa pioneira de Parauapebas. Segundo ela, no auge vendia em torno de quatro caixas por semana. Os pontos mais atrativos para venda eram o Barracão do Rui, Ilha, Bregão do Asfep, Palinha Cultural do CDC, Maresia, Bolero Drik’s e Bentinho. Ela saía para vender ao meio-dia e retornava às 17 horas para casa. Cozinhava mais ovos e em seguida saía para trabalhar à noite. “Quando eu terminava de vender, ia me divertir! Ficava até três da manhã na rua”, disse.
Hoje, por conta da idade e de alguns problemas de saúde que apareceram, ela diminuiu o ritmo do trabalho e vende bem menos. Atualmente ela trabalha apenas de quarta-feira a sábado, das 17 às 22 horas, e vende uma caixa de ovos por semana, o que lhe rende em média R$ 1.500,00.
“Agora as contas da casa são pagas pelo meu filho, que é muito bem empregado. Meu dinheiro é só para minhas coisas. Uso shampoo importado (risos), mas a venda desses ovos foi o que salvou a vida financeira da minha família e eu não pretendo parar tão cedo, porque amo esse trabalho. Pra mim é uma diversão”, finalizou.