Pioneirismo: plantio de algodão no Sul do Pará tem colheita prevista para o final de julho

Família iniciou a lavoura na Fazenda Sol Nascente, em Santana do Araguaia

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Cada vez mais, a agricultura conquista o protagonismo no espaço nacional como segmento econômico, gerando produção e riqueza para o país.

Neste ano, uma família do estado de Mato Grosso trouxe ao sul do Pará, o desafio de enfrentar a altitude e iniciar o plantio do algodão na Fazenda Sol Nascente, na cidade de Santana do Araguaia.

A região Norte do país é considerada a última fronteira agrícola legalizada. Essa expressão é utilizada para caracterizar o avanço da produção agropecuária sobre o meio natural. É uma região na qual as atividades capitalistas fazem frente com áreas pouco povoadas e grandes reservas florestais.

“Nosso maior desafio foi, de fato, a altitude e o preparo do solo adequado, porque o algodão é uma cultura muito exigente; o solo deve estar bem preparado. Além disso, outro revés foi o alto custo para aquisição de produtos específicos para o algodão, a colhedeira e a touca dos fardões do algodão, que vieram de outros estados,” explica o produtor Marcos Moscon.

Segundo ele, na região não havia produtos próprios para a cultura, e as mercadorias vinham de estados como Bahia e Mato Grosso, mas ainda assim o produtor, que iniciou a atuação na agricultura com seu pai há mais de 35 anos, resolveu enfrentar o desafio.

“Meu pai sempre achou a região sul do Pará muito parecida com a de Lucas do Rio Verde (MT), onde o algodão despontou. Nós sabemos que o algodão traz crescimento e desenvolvimento para uma região, que quando plantado em larga escala, gera empregos, renda, industrialização e diversos outros fatores,” ressalta a filha do produtor, Luiza Moscon, que também é responsável pelo setor financeiro da fazenda.

Ali também trabalham a esposa de Marcos, Darla e a outra filha do casal, Ana Karoline Moscon, responsáveis pela administração.

Liberação junto aos órgãos competentes

A família solicitou consultoria técnica com um profissional de Rondonópolis (MT), Jonas Guerras, que tem experiência no plantio de algodão.

“O Pará é um dos estados que ainda não tinha permissão legal para o plantio do algodão. Nosso consultor nos orientou a buscar órgãos competentes e fomos direcionados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para saber sobre a viabilidade de plantar o algodão,” ressalta Luíza.

De acordo com Wagner Xavier da Conceição, chefe do serviço de fiscalização, inspeção e sanidade vegetal do Mapa, a família realizou os procedimentos de forma regular.

“Se alguém realiza esse plantio sem comunicar os órgãos competentes, está agindo de forma irregular. Nosso acompanhamento não se dá por aspecto de plantio, mas sim se a molécula é permitida por bioma amazônico ou não, já que nestes casos, os agricultores usam tecnologia que é de organismo geneticamente modificado e para a Amazônia há restrições para ver se há impacto ambiental não controlável,” explica Wagner.

Segundo ele, a atividade agrícola tem um risco de frustração de plantio muito grande, sendo necessário escolher as sementes, a época, mudança de clima – enfim, ajustar o calendário para se adaptar às condições climáticas. “O plantio do algodão traz vários benefícios à região. Ele demanda mão de obra especializada, maquinário, cadeia para suporte da colheita,” salienta.

Após reunião com o Mapa em Belém, o plantio experimental de mil hectares foi liberado através de portaria. No entanto, a família optou por iniciar com 60 hectares, com oito tipos de sementes.

“O plantio de algodão tem um custo muito elevado e por ser experimental, não quisemos embarcar em tantos hectares. O Mapa nos incentivou muito e nós seguimos nos reportando a eles e à Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), para que ocorra o controle de pragas e doenças,” ressalta Marcos.

Para isso, houve investimento em fungicidas, acaricidas, inseticidas, que ajudam a controlar as pestes, muito comuns neste tipo de cultura.

Nesta primeira experiência, doze funcionários foram contratados para a mão de obra e antes do plantio também houve a contratação de aproximadamente 30 pessoas para carpir e tirar os vestígios da safra anterior.

Pandemia

O produtor revela que a pandemia da covid-19 não impactou o plantio nem o desenvolvimento da agricultura, mas o choque foi sentido nos valores da pluma de algodão.

“O valor já chegou a R$ 120,00 a arroba e hoje falamos de R$ 70,00 a R$ 80,00. Nessa questão de preço fomos prejudicados e isso certamente pode continuar pelos próximos dois anos,” explica Marcos.

Colheita

A colheita deste plantio experimental está prevista para o final do mês de julho, e a expectativa é de colher 250 arrobas, já que as variedades plantadas se adaptaram bem ao ambiente.

O custo por hectare variou de R$ 8.500,00 a R$ 9.000,00 e a família objetiva armazenar o produto, até que os vestígios da pandemia desapareçam.

“Estamos analisando o que vamos fazer. Queremos trazer uma descaroçadeira de algodão para manter todo o ciclo do algodão na região, porque se conseguirmos trazê-la para cá, teremos a pluma de algodão que pode ser vendida, o caroço que ajuda os pecuaristas na engorda de animais através do farelo de algodão e o óleo, que é utilizado no biodiesel,” explica Marcos.

O objetivo do plantio experimental da família Moscon é mostrar que o Pará dá condições aos produtores rurais de trabalhar em diferentes áreas.

“Queremos mostrar o potencial do sul do Pará, especificamente de Santana do Araguaia. Muito se fala sobre as queimadas aqui nessa região, no entanto, vale ressaltar que há esse tipo de atividade em assentamentos e em áreas indígenas. Isso tudo é colocado em cima do agricultor e não é uma realidade. Os produtores com consciência sabem que as queimadas prejudicam a lavoura e nós não queimamos nada sem autorização dos órgãos responsáveis,” finaliza o produtor.

Por Ynaiê Botelho – de Conceição do Araguaia