Pobreza extrema castiga e deixa vulneráveis à fome mais de 3 milhões no Pará

Não é brincadeira: em um município já há mais miseráveis que gente. E em 45% dos 144, o número de pobres já tomou conta de mais da metade população local. Situação é dramática.

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É oficial: 3.027.553 paraenses estão em situação de extrema pobreza, conforme dados do Ministério da Cidadania, que se vale de estatísticas do Cadastro Único. Esse batalhão de habitantes vive em famílias que passam o mês com menos da metade de meio salário mínimo por pessoa. É uma situação dramática, que assola os quatro pontos cardeais do Pará, principalmente os habitantes dos seus rincões.

O Blog do Zé Dudu mergulhou no banco de dados do Ministério da Cidadania — que atualizou os indicadores em maio e os consolidou em 1º de julho — para elaborar um levantamento inédito sobe o tamanho da miséria humana no estado. E é chocante o resultado a que se chega, caracterizando um Pará empobrecido que convive em si com ilhas ilusórias de prosperidade econômica as quais se sustentam, majoritariamente, pela extração de recursos minerais em escala industrial.

Atualmente, 45% dos municípios paraenses já têm mais da metade de sua população em situação de pobreza extrema. E aqui cabe esclarecer que, como se infere do termo, pobreza extrema é a versão miseravelmente piorada da própria pobreza. De maneira didática, a pobreza extrema é vizinha-irmã da fome porque as pessoas extremamente pobres residem em famílias nas quais a renda diária média é inferior a R$ 7, em moeda nacional.

Hoje, a pobreza extrema assola 35% da população do Pará, enquanto a média nacional é de 6,31%. O número de vulneráveis à fome é tamanho no estado que em um município já superou até mesmo o total de habitantes. É o caso de Senador José Porfírio, na região do Xingu, onde o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabiliza 11.839 habitantes, mas o Ministério da Cidadania acusa haver 12.227 moradores extremamente pobres. Pode parecer piada, mas há mais pobres que habitantes em Senador.

Exército da pobreza

Belém tem cerca de 312 mil em situação de extrema pobreza. É como se houvesse dentro da capital uma cidade de Marabá e uma de Altamira, juntas, só de famintos. O número é elevado, é verdade. No entanto, diante do tamanho populacional da metrópole paraense, até que não assusta, já que Belém se aproxima de 1,5 milhão de habitantes, nas contas do IBGE. E demograficamente a extrema pobreza “se espalha” mais.

Números preocupantes mesmo são os volumes registrados em Abaetetuba, Cametá, Breves e Moju, entre outros. Abaetetuba, embora seja o sétimo mais populoso do Pará, ocupa o segundo lugar quando o assunto é miséria. Acontece que lá, dos 156 mil habitantes, 96 mil estão vulneráveis à fome dada a extrema pobreza. Isso corresponde a 61,19% da população. Abaetetuba tem muito mais pobres que Santarém (86 mil) e Ananindeua (78 mil), que têm o dobro de habitantes totais.

Em Cametá (74 mil), Breves (68 mil) e Moju (49 mil), o percentual de pobres no total da população também supera 50%, conforme levantamento do Blog do Zé Dudu. Aliás, o Pará tem hoje 54 municípios com mais de 20 mil pessoas extremamente pobres. Juntas, essas localidades conseguiriam entupir 11 cidades do tamanho de Parauapebas apenas com pessoas que, em algum momento da história, vão estar cara a cara com a fome, caso não sejam implementadas políticas de combate e erradicação da pobreza. Inclusive o próprio Parauapebas, segunda maior praça financeira do Pará, tem seu “cash” volumoso de pobres.

Nem ricos escapam

Parauapebas — cuja prefeitura acumula em 31 anos cerca de R$ 11 bilhões em receita líquida e que, por tanto dinheiro, deveria ter padrão de vida europeu — convive em 2019 com 22 mil miseráveis, número que aumenta a cada nova atualização dos dados oficiais, quando o ideal, diante de tanto recurso financeiro, seria exatamente o contrário, a erradicação da pobreza.

Se serve de consolo, os melhores municípios paraenses, no tocante à pobreza extrema, estão no sudeste do estado. Bannach, por ser o menos populoso, tem apenas e exatos 1.000 habitantes em situação de miséria. E Tucumã, com apenas 2.280 cidadãos extremamente pobres, possui a menor taxa paraense, 5,84%.

Tucumã, aliás, é o único município a se posicionar abaixo da média nacional, indo na contramão de lugares como Prainha (95,03% da população é extremamente pobre), Santarém Novo (97,33%) e Senador José Porfírio (103,28%). Cabe ressaltar que, no caso de Senador, o volume superior a 100% se deve à defasagem nas estimativas populacionais do IBGE, insensíveis para computar a intensa migração de que o município foi alvo, assim como Altamira e Vitória do Xingu, por conta das obras de Belo Monte e da especulação do projeto de ouro da Belo Sun.

O combate à pobreza no Pará carece de um consórcio de esforços entre prefeituras, governos estadual e federal, entidades de classe e empresas atuantes no território paraense, muitas das quais só querem daqui as riquezas naturais, sem, contudo, deixar herança socioeconômica positiva, independente de ação governamental.

O Pará tem empobrecido em velocidade galopante e, ao melhorar, sempre o faz abaixo da média. Estado pobre torna-se ainda menos atrativo para investimentos e, por outro lado, chamariz para o desemprego e a violência. Os municípios reproduzem essas misérias, que sequer podem ser contabilizadas, para além de seus já existentes estoques assombrosos de cidadãos abaixo da linha — cada vez mais visível — da extrema pobreza.

Confira a tabela completa abaixo:

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